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Atlas da violência 2018: aumenta o número de jovens assassinados no DF

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O adolescente entrou para a estatística que expõe uma face do Distrito Federal e do Brasil: o aumento do número de jovens assassinados.

O silêncio dentro do carro e o fim das conversas sobre futebol são situações que lembram uma tragédia para o comerciante Íris de Melo, 47. O filho dele, Victor Martins Melo, 16, foi brutalmente assassinado com socos, pontapés e perfurações no último dia 26. O adolescente entrou para a estatística que expõe uma face do Distrito Federal e do Brasil: o aumento do número de jovens assassinados.

De acordo com o Atlas da Violência 2018, elaborado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em 2016, 409 pessoas de 15 a 29 anos foram mortas no DF. Em 2015, foram 389 – um aumento de 7,1%. Já em todo o território nacional, o acréscimo foi um pouco maior: 7,4%. Pulou de 31.264 para 33.590.

Nesta mesma faixa etária, a taxa de homens mortos por 100 mil habitantes, em 2016, foi de 95,3. Já em 2015 foi de 91,7, uma diferença de 4% de um período para o outro. Porém, foi ainda menor que a taxa brasileira para o índice, que sofreu um aumento de 8%. Saiu de 113,6 para 122,6. Apesar de em menor número, os assassinatos de mulheres também aumentou, tanto no DF, quanto no Brasil: saiu de 58 no DF, e 4.621 no Brasil, em 2015, para 64 na capital, e 4.645 nacionalmente. Um acréscimo de 10,3% e 0,5%, respectivamente.

Contudo, esses dados se perdem na dor da família de Victor Martins Melo, que não compreendem o porquê do crime. O jovem foi morto em uma festa no Parque da Cidade, depois que o acusaram de roubar o celular de uma menina. A Polícia Civil já descartou qualquer suspeita sobre a vítima e esclareceu que ele foi acusado por engano. A corporação ainda não conseguiu prender os responsáveis, mas já identificou alguns dos jovens que estavam no local.

“A dor é inexplicável. Ele era um filho exemplar. Uma pessoa muito educada. A vontade dele era servir nas Forças Armadas. Nós não vamos parar por aqui. Nada vai trazer o meu filho de volta, mas esses monstros não podem ficar soltos no meio da sociedade”, afirma Íris de Melo. Ele pede incessantemente que todos as pessoas que tenham informações sobre o caso denunciem, mesmo que anonimamente, à polícia por meio do 197 ou direto nas delegacias.

 

Íris de Melo comenta sobre a morte do filho Victor Martins Melo, 17 anos, no último dia 26 no Parque da Cidade. Caso é investigado. Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília.

Índice é 30 vezes maior que o europeu

Na edição deste ano, o Atlas da Violência alcançou, nacionalmente, a marca histórica de 62.517 homicídios – uma taxa de 30,3 mortes para cada 100 mil habitantes. O índice é 30 vezes maior que o do continente europeu. Essa foi a causa de óbito de 56,5% de homens entre 15 e 19 anos. Já quando fatores raciais são adicionados, é possível perceber o aumento de mortes violentas de pessoas negras em todo o País.

Enquanto a morte de não negros diminuiu 6,8% nos últimos 10 anos, a da população negra aumentou em 23,1%. Assim, infere-se que 71,5% das pessoas assassinadas no País são pardas ou pretas. A taxa de morte para essa população foi de 40,2, já para o restante foi de 16. Boa parte desses homicídios foi cometida por arma de fogo. No DF, em 2015, foram 489 pessoas assassinadas por arma de fogo. Já em 2016, 516. Um aumento de 5,5%. No Brasil, a diferença foi de 6,4%.

Para o presidente do Conselho Administrativo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Cássio Thyone, todos esses dados, tanto os locais como os nacionais, seguem uma tendência de crescimento dos últimos anos e ocorrem por diversos motivos. “A melhor forma de interpretar esse aumento é admitir que a falência das políticas públicas voltadas para a prevenção da violência. Há ausência do Estado. Os números são um alerta para a sociedade”, crava.

A melhora, para o especialista, não virá da noite para o dia, mas ele diz que é necessário pensar em políticas de Estado, e não somente de Governo, tanto de curto quanto de longo prazo. Seriam necessários recursos e uma boa gestão para que as mudanças cheguem às próximas gerações. Ele ainda faz um alerta: “Todos somos responsáveis por esses jovens. Em especial, em um ano eleitoral. Eles não podem ficar sem uma boa educação ou perspectiva”, diz Cássio Thyone.

Saiba mais

O subsecretário de Gestão da informação da Secretaria de Segurança, Marcelo Durante, garante que o Governo de Brasília já percebeu a gravidade desses dados. Ele ressalta que a pasta criou programas como o Viva Brasília e busca trabalhar o impacto da violência nas escolas públicas da capital. Segundo ele, na comparação entre 2016 e 2017, na faixa etária entre 18 e 29 anos, ocorreu uma redução de 18% nos homicídios. Já para as pessoas com até 17 anos, a queda foi de 37%.

“O jovem é tanto vítima quanto autor da violência. Temos que dar oportunidades de vida e alternativas para que ele seja incluída socialmente”, afirma Durante. Ele garante que esse trabalho de inclusão e de aproximação com esses jovens vai continuar para que as mudanças sejam vistas no futuro.

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