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Economia

Mercado de carros blindados usados tem boom no Brasil

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No Brasil, crescente insegurança é a primeira razão apontada por motoristas para justificar escolha em investir em modelos protegidos

O medo de balas perdidas ou assaltos à mão armada fez do Brasil o maior mercado de carros blindados do mundo, mas a crise econômica pressiona muitos compradores a optarem por veículos usados.

“Eu gosto de carros, mas prefiro não gastar muito dinheiro com isso”, diz Maurício Paulo, de 40 anos, dirigindo seu Volvo XZ 60 blindado usado.

Esse advogado de São Paulo já teve três veículos desse tipo antes. O primeiro foi comprado logo após ter sido assaltado ao parar num sinal vermelho.

O nascimento de sua filha há um ano e meio o fez ter ainda mais certeza de sua opção por carros blindados, mas privilegiando uma solução mais econômica.

A blindagem de um veículo novo custa cerca de 50.000 reais, quase o suficiente para comprar outro carro, dependendo do modelo.

É por isso que optar por um carro usado pode permitir uma economia de 10 a 40%.

Tendência

No Brasil, o setor de carros blindados pesa cerca de US$ 245 milhões por ano, o que coloca o país no topo do ranking mundial.

O México, outro importante mercado, blindou quase 3.000 carros em 2017, um de seus melhores anos. O Brasil, que viveu um ano de vacas magras, protegeu cerca de 15.000 no mesmo período, enquanto a insegurança não parava de crescer.

Embora não haja estimativas oficiais de vendas de veículos blindados de segunda mão, especialistas do setor confirmam que essa é uma tendência real.

“Este ano, o mercado de usados está indo de vento em popa”, diz Fabio Rovedo de Mello, diretor de uma empresa de blindagem de São Paulo.

O Brasil, que acaba de sair de uma recessão histórica, viu suas vendas de carros novos em geral caírem para seu pior nível em uma década em 2016.

“Quando o carro zero não vende, os semi-novos têm mais procura porque uma pessoa que não tem necessariamente os meios para comprar um zero pode, no entanto, comprar um veículo usado”, afirma Marcelo Christiansen, presidente da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin).

Este é o caso de Eliane Wakatsuki, de 39 anos, executiva de uma empresa de energia.

“Os carros blindados são muito mais caros do que os outros, e é por isso que a única maneira de permanecer no meu orçamento é olhar para os usados”, explica, depois de testar um Mercedes GLA 200 em uma concessionária.

E mesmo aqueles que estão dispostos a blindar veículos novos parecem dispostos a economizar.

No ano passado, o carro blindado mais vendido foi o Toyota Corolla, o menor e mais barato veículo que suporta blindagem, uma operação que faz o peso do veículo aumentar em 12%.

A crescente insegurança no Brasil é a primeira razão apontada pelos motoristas para justificar sua escolha em investir em modelos protegidos.

Algumas multinacionais até exigem que seus expatriados só utilizem carros blindados.

O país é um dos mais violentos do mundo. Em 2017, quebrou um recorde sinistro, com 63.880 homicídios, ou sete por hora, segundo a ONG Fórum de Segurança Pública.

Questão de status

Mas esse boom realmente atende a uma necessidade?

Três quartos das blindagens são feitas em São Paulo, onde se concentra a grande maioria da frota de 150.000 veículos blindados do país, de acordo com a Abrablin.

Mas o estado de São Paulo, motor econômico do país, também é o que registrou a menor taxa de homicídios no Brasil no ano passado, 10,9 para 100.000, em comparação com uma média nacional de 30,3.

Nos estados pobres do Nordeste, são poucos os motoristas que dirigem carros blindados, apesar dos índices de homicídio de mais de 60 por 100.000 em alguns casos.

“Possuir um carro blindado no Brasil é, acima de tudo, uma marca de status social”, considera o presidente da Abrablin.

“As pessoas estão mais preocupadas com seu status do que com sua segurança, e muitas vezes a mulher fica com ciúmes do vizinho que é dono de um e pede ao marido”, insiste.

Mauricio Paulo admite que se sente desconfortável com o acesso desigual a carros blindados.

“Aqueles que têm mais meios podem se proteger melhor, enquanto outros podem perder suas vidas por causa de algo tão fútil quanto um carro”, diz ele, parando em um sinal vermelho.

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