Saúde
Novo tratamento para osteoporose vem aí
Aprovado nos Estados Unidos, o remédio romosozumabe seria o primeiro a impedir a perda de massa óssea e, ao mesmo tempo, estimular a fabricação de osso
Cerca de 10 milhões de brasileiros vivem com a osteoporose, doença que fragiliza o esqueleto e aumenta o risco de fraturas, em especial no fêmur e na coluna vertebral. Pois um novo medicamento promete agir em duas frentes para combatê-la: barrando a perda de massa óssea e facilitando seu crescimento.
Batizada de romosozumabe, a droga pertence à classe dos anticorpos monoclonais. Essa categoria moderna de tratamento consiste na produção, dentro do laboratório, de anticorpos parecidos com o que o nosso próprio organismo fabrica. Para quem não sabe, essas moléculas tem o potencial de atacar outras proteínas de maneira bem específica – o corpo naturalmente gera anticorpos para combater vírus e bactérias, por exemplo.
No caso do novo composto, o alvo é a esclerostina, uma proteína que inibe a formação dos ossos. Ao reduzir a atuação dessa partícula, a nova terapia trouxe um ganho de 15% na densidade óssea da coluna lombar e reduziu a incidência de fraturas em mais de 70% no primeiro ano de tratamento, segundo os estudos clínicos.
O romosozumabe, desenvolvido pelas farmacêuticas Amgen e UCB Biopharma, foi aprovado no início de abril de 2019 pela FDA (Food and Drug Administration), órgão que regula a comercialização de remédios nos Estados Unidos.
Segundo a UCB, o medicamento está em processo inicial de análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser liberado no Brasil. O trâmite pode demorar mais de um ano para ser finalizado.
Sua indicação é para as mulheres que já passaram pela menopausa e tem alto risco de fraturas em decorrência da osteoporose.
Os tratamentos atuais para a osteoporose
Eles são divididos entre os anabolizantes e os antirreabsortivos. Explicamos: o esqueleto passa por um processo de constante renovação, em que parte do osso é reabsorvido justamente para a formação de uma massa óssea novinha em folha.
Acontece que, entre os pacientes com osteoporose, a tal reabsorção ocorre de maneira acelerada, enquanto a produção de osso novo é preguiçosa. Isso ocasiona um déficit na densidade do esqueleto.
Além da suplementação de cálcio e vitamina D, os compostos mais utilizados hoje são os bisfosfonatos, especialmente o alendronato, que inibem a reabsorção óssea. Outro anticorpo monoclonal, o denosumabe, já é usado para esse mesmo fim no Brasil – mas sem o efeito regenerador observado no romosozumabe.
Para casos mais graves ou com intolerância aos alendronatos, há ainda a possibilidade de administração de hormônios que aumentam a densidade óssea, mas o tratamento a longo prazo leva à reabsorção.
“A grande novidade desse medicamento é que ele é anabolizante e antirreabsortivo ao mesmo tempo, além de promover ganhos consideráveis de massa óssea”, aponta Roberto Heymann, reumatologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Isso é diferente dos anabolizantes tradicionais, que não apresentam uma melhora tão elevada”, completa.
O romosozumabe
A eficácia do novo composto foi testada em dois estudos clínicos com mais de 11 mil mulheres diagnosticadas com osteoporose na pós-menopausa. Esse é o público mais atingido pela doença por causa da carência de estrogênio, um hormônio envolvido na manutenção da saúde do esqueleto.
Na primeira pesquisa, encomendada pelas farmacêuticas, um ano de tratamento reduziu o risco de uma fratura na coluna vertebral em 73%. Terminado esse período, a melhora na taxa de crescimento do osso parece cair – até por isso a FDA recomenda que a prescrição seja composta de 12 doses mensais.
Depois desse tempo, o indivíduo voltaria aos remédios mais tradicionais. Os benefícios parecem se sustentar com esse esquema.
“Alguns trabalhos mostram que é possível potencializar o ganho de massa óssea com a associação, tanto com os bisfosfonatos quanto com o denosumabe, mas o efeito é maior com esse segundo”, aponta Heymann.
Ponderações
É preciso cuidado na prescrição da droga. Entre os efeitos colaterais relatados, há um discreto aumento no risco de incidentes cardiovasculares, como infarto e derrames. A recomendação do órgão americano é que os riscos individuais sejam calculados antes de receitar o remédio.
Outro ponto é que a novidade não dispensa medidas consagradas, como a suplementação de cálcio e vitamina D. “Isso é indispensável, até porque medicamentos como o romosozumabe podem levar à deficiência de cálcio”, destaca Heymann.
Também é fundamental abandonar maus hábitos, a exemplo do consumo de álcool e do tabagismo, e praticar atividades físicas que fortalecem o esqueleto, como a musculação. “Se o seu estilo de vida não favorece os ossos, nenhum remédio fará isso”, dá o recado Ricardo Munir Nahas, ortopedista e vice-presidente da Confederação Sul-Americana de Medicina do Esporte.
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