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A cada 10 grandes cidades do país, 7 perdem 30% ou mais da água tratada

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Estudo do Trata Brasil analisa o saneamento nas 100 maiores cidades. Só 36 cidades investem mais de 30% do arrecadado com água e esgoto.

Vazamento de água em rua de São Paulo (Foto: Victor Moriyama/G1)

A cada 10 grandes cidades brasileiras, 7 perdem 30% ou mais de toda a água tratada. É o que mostra um estudo do Instituto Trata Brasil que analisa a situação do saneamento básico nas 100 maiores cidades do país, que concentram 40% da população.

Segundo o estudo, das 100 cidades analisadas, apenas 7 perdem 15% ou menos da água faturada – índice apontado como ideal. Isso quer dizer que a água é tratada e tornada potável pelas empresas responsáveis, mas uma parte dela não é faturada por causa de vazamentos nas tubulações, ligações clandestinas e erros de medição de hidrômetros.

Perda de água
Total de cidades por percentual de água não faturada; apenas são analisados os 100 maiores municípios
723352510≤1515.1 a 29.930 a 44.945 a 59.9≥60010203040
Fonte: Instituto Trata Brasil

O estudo do Trata Brasil utiliza os dados mais recentes do Ministério das Cidades sobre saneamento no Brasil, que são de 2014. Além dos índices de perda de água faturada, o instituto analisa uma série de indicadores de saneamento para dar notas e fazer um ranking das 100 cidades analisadas.

VEJA O MAPA DAS CIDADES.

A cidade com o pior índice de perdas de faturamento é Manaus, com 75%. O indicador médio é de 41,9%.

“Perder até 30% da água não é nenhuma maravilha, mas as empresas pelo menos conseguem receber o dinheiro de 70% da água tratada, o que é razoável. Agora imagina ter gastos com funcionários e com produtos químicos e ainda não conseguir receber 60%, 70% do que produziu. É um absurdo”, diz Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil.

Ciclo de investimentos
Segundo Carlos, os índices de perdas de faturamento colaboram para formar um ciclo vicioso nas cidades com os maiores indicadores. Isso porque, quanto maior o índice, menor o retorno financeiro, o que diminui os investimentos na própria rede de saneamento.

Ao mesmo tempo, Carlos destaca que são esses investimentos, como trocas de redes antigas e instalação de tecnologias de rastreamento, que fazem com que o desperdício e o roubo de água diminuam. Com menos desperdício, entra mais dinheiro no caixa, e assim a cidade pode investir mais em água e esgoto.

No atual cenário das grandes cidades, porém, em que a maioria tem índices altos de perda de água, o caixa acaba compremetido. Segundo o estudo, das 100 cidades analisadas, apenas 36 investiram mais de 30% do que foi arrecadado com água e esgoto na expansão ou na melhoria dos sistemas de saneamento. Os dados são uma média dos últimos 5 anos com dados de saneamento disponíveis (2010 a 2014).

Indicadores de perda financeira com água
As 10 melhores cidades As 10 piores cidades
Cidade e UF Percentual de perda Cidade e UF Percentual de perda
Pelotas – RS 2,17 Manaus – AM 75
Vitória da Conquista – BA 4,34 Porto Velho – RO 70,72
Praia Grande – SP 6,66 Belford Roxo – RJ 67,52
Limeira – SP 9,99 Macapá – AP 67,32
Maringá – PR 12,44 Duque de Caxias – RJ 67,03
Serra – ES 12,71 Várzea Grande – MT 64,26
Franca – SP 13,54 São Luís – MA 63,60
Campinas – SP 15,22 Nova Iguaçu – RJ 63,27
Niterói – RJ 19,04 Rio Branco – AC 63,28
Santos-SP 20,88 Cuiabá – MT 61,59
Fonte: Instituto Trata Brasil

“É preocupante ver que pouco tem sido aplicado na melhoria dos serviços. Os gastos normais da empresa, com funcionários, energia e produtos, estão pesando muito. Quanto mais eficiente a empresa de abastecimento for, com poucas perdas, vai arrecadar mais e vai investir mais. Então quando você vê cidades da Região Norte, por exemplo, com arrecadação e investimento baixos é porque perde muita água. Está tudo interligado”, diz Carlos.

Crescimento desigual
Por causa da forte relação entre índices de perda de água e dinheiro no caixa para investir, o presidente do instituto destaca que as melhorias em saneamento estão cada vez mais concentradas nas cidades que já estão em situação melhor – já que elas têm menos desperdícios e mais água faturada.

Assim, as 20 melhores cidades do estudo investiram juntas, em 2014, R$ 827 milhões em saneamento, com uma média de R$ 71,47 por habitante ao ano entre 2010 e 2014. Já as 20 piores cidades investiram apenas R$ 482 milhões em 2014, com uma média de R$ 28,20 por habitante ao ano entre 2010 e 2014.

“Há um abismo no país. As cidades que estão bem caminham para a universalização, mas as ruins ficam paradas. É um avanço lento e desigual”, diz Carlos.

O estudo destaca que, entre 2010 e 2014, o percentual da população com água tratada nas grandes cidades passou de 92,97% para 93,27% – um aumento de apenas 0,3 pontos percentuais. Já o índice de coleta de esgoto passou de 66,84% para 70,37% – um aumento de 3,5 pontos percentuais. “É um aumento baixo e puxado exatamente pelas melhores cidades. A gente precisaria de 30 anos no mínimo para resolver o problema de coleta só nos grandes municípios”, ressalta Carlos.

Há também uma concentração de investimento em nível nacional: as 100 maiores cidades investiram quase R$ 6 bilhões dos R$ 12 bilhões gastos no Brasil em saneamento em 2014. “Tudo bem que essas cidades concentram 40% da população, mas o país tem mais de 5 mil municípios para dividir esses outros R$ 6 bilhões”, comenta Carlos.

O presidente ressalta que cidades maiories costumam ter mais capacidade técnica, mais recursos e mais poder político para investir em infraestrutura – mas que, exatamente por isso, já deveriam estar em uma situação melhor. “A maior parte dessas grandes cidades já investe em saneamento há bastante tempo. Tem que ter planejamento, combate feroz a ligações clandestinas e regularizações de áreas irregulares. Essas são ações que resultam em mais caixa para a própria empresa. Assim o ciclo vicioso passa a ser virtuoso”.

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