Mundo
Acordo sobre poluição plástica adiado sem consenso

As discussões para estabelecer o primeiro pacto global contra a contaminação por plásticos foram estendidas até sexta-feira (15), pois não foi possível chegar a um consenso até o prazo de 14 de agosto, devido a posições altamente divergentes.
Iniciadas em 5 de agosto, as negociações deveriam ter concluído às 22h00 GMT (19h00 de Brasília) da última quinta-feira, mas foram prorrogadas sem decisões concretas. A extensão traz uma tênue esperança de acordo, embora o desfecho ainda seja incerto.
Luis Vayas Valdivieso, diplomata equatoriano e presidente das conversas, anunciou que a sessão plenária foi adiada para 15 de agosto de 2025, em horário a definir, enquanto as consultas sobre o texto revisado continuam.
Após horas de reuniões informais e formais a portas fechadas, houve otimismo por parte de um chefe de delegação que acreditava na possibilidade de um texto de compromissos, enquanto outro manifestou frustração por não ter visto um texto ou orientações, temendo um fracasso nas negociações iniciadas há mais de dois anos em Nairóbi.
A situação foi classificada como caótica por Aleksandar Rankovic, especialista do grupo The Common Initiative.
O texto apresentado por Vayas foi amplamente rejeitado na quarta-feira pela assembleia da ONU, que conta com 184 países.
Desde então, ele tem dialogado com líderes regionais para tentar encontrar um meio-termo entre os países que buscam medidas rigorosas e aqueles que se opõem a regulações severas na indústria do plástico, especialmente produtores de petróleo e materiais plásticos.
A sessão plenária, inicialmente marcada para a manhã, foi adiada três vezes e finalmente realizada pouco antes da meia-noite local, durando apenas alguns minutos.
As chances de acordo são pequenas, dada a profunda divisão entre os dois grupos de países.
Países como Colômbia, Chile, México, Panamá, Canadá, União Europeia e nações insulares do Pacífico consideraram o texto insuficiente para combater a poluição plástica.
Enquanto isso, o grupo que representa principalmente produtores de petróleo rejeita qualquer limitação à produção ou a proibição de substâncias químicas perigosas no plástico.
A Índia foi o único país de grande porte a aceitar o texto como ponto de partida para negociação, enquanto a maioria dos governos e organizações consideraram o documento desequilibrado e inadequado para proteção das futuras gerações.
Dois possíveis desfechos
Impulsionados por uma resolução da ONU de 2022, os países buscam um acordo juridicamente vinculante para enfrentar a poluição por plásticos, inclusive nos oceanos.
No entanto, representantes da indústria petroquímica, contrários a limitações na produção, já haviam causado o fracasso da rodada anterior, em 2024, em Busan, Coreia do Sul.
Albert Rösti, ministro suíço do Meio Ambiente, afirmou que a falta de progresso seria um resultado grave e inaceitável.
Rankovic apontou que restam dois cenários: um ruim e um pior. O ruim seria aceitar um tratado insatisfatório; o pior, nenhuma decisão e adiamento ou abandono do texto por longo período.
Baixa reciclagem
A conscientização sobre a poluição por plástico começou com imagens impactantes do oceano e da vida marinha afetadas.
Com o avanço dos estudos, o debate inclui também os impactos na saúde humana causados por polímeros e aditivos químicos.
Centenas de cientistas de diversos países acompanham as negociações.
A produção global de plástico desde o ano 2000 superou a dos 50 anos anteriores, concentrando-se em produtos descartáveis e embalagens.
Se nada mudar, a produção, atualmente em cerca de 450 milhões de toneladas por ano, pode triplicar até 2060, segundo a OCDE.
Menos de 10% do plástico produzido é reciclado.

Você precisa estar logado para postar um comentário Login