Bahia – A Bahia, maior Estado agrícola do Nordeste, deverá aproveitar uma segunda grande safra seguida no polo produtor da região oeste, após quatro anos consecutivos de perdas pela severa seca, para iniciar um processo de reequilíbrio das contas do setor e redução de dívidas.
Ao mesmo tempo, agricultores já projetam expansão de plantio e investimentos no próximo ciclo, o que mostra a resiliência do setor em uma região do país que dá excelentes resultados quando o clima favorece.
O Estado, sexto produtor de soja do país, deverá obter produtividades recordes em 2017/18, superando as 3,360 toneladas por hectare vistas na longínqua temporada 2010/11, e ajudar o Brasil a obter uma safra histórica, apesar de o clima em outras partes do país não ter sido tão bom quanto no ano passado.
Beneficiado por um bom regime de chuvas e resposta firme da tecnologia empregada na lavoura, a Bahia poderia então aumentar a produção em pelo menos 5 por cento, para cerca de 5,4 milhões de toneladas, segundo agricultores e analistas consultados pela Reuters na região de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, que já estão em colheita.
No caso do algodão, cultura na qual a Bahia só fica atrás de Mato Grosso no ranking de produção no país, a colheita vai começar somente em junho, com boas produtividades esperadas até o momento, ainda que possa ficar abaixo do recorde de mais de 1,7 tonelada da pluma por hectare do ano passado.
As perspectivas favoráveis para a safra atual indicam uma retomada do fôlego para uma região do país que, dizem alguns, poderia ter visto muitas falências não fosse a boa colheita do ano passado.
“Com a safra boa, o produtor deve se alavancar menos e depender menos de empréstimos, ele consegue arrumar as contas e investir nas próprias lavouras”, afirmou o agricultor João Gorgen, durante evento da expedição técnica Rally da Safra, em Barreiras.
Além disso, Gorgen, grande produtor na região de Formosa do Rio Preto, disse que a ideia é buscar uma estabilidade de custos na próxima safra, ainda que para isso seja necessário o uso de insumos “genéricos” mais baratos.
Na avaliação do vice-presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Luiz Antonio Pradella, a produtividade de soja está alta, deverá superar em 10 a 15 por cento a maior já registrada na história do Estado, mas os custos relacionados a tributos, mão de obra e diesel limitam os ganhos.
“Não deixa de ser uma safra de recuperação para muito produtor, mas também permitirá investimento, pois os juros estão baixando”, disse Pradella, ressaltando que os produtores também deverão aplicar os recursos adicionais em máquinas e equipamentos ou mesmo em melhorias na fazenda.
Essa maior disciplina financeira, que contrasta com um passado em que grandes investimentos eram realizados em áreas novas, indica que o produtor assimilou as dificuldades dos anos passados, que também foram marcados por uma grave recessão econômica no país.
“O produtor quer chegar na próxima safra mais seguro”, disse Tobias Schmidt, no mesmo evento do Rally na região, que ainda sofre com déficit de infraestrutura e falta de energia em grandes áreas na zona rural.
Expansão
As melhores condições da safra atual sinalizam aumento de área das duas principais culturas da Bahia na próxima temporada (2018/19), cujo plantio só começa no último trimestre. Além disso, a quebra de safra na Argentina impulsionou os preços, aumentando a rentabilidade.
No caso do algodão, Gorgen estima um crescimento de no mínimo 10 por cento no oeste da Bahia, notícia boa não somente para a economia local, mas também para o setor de insumos, uma vez que a pluma é bastante intensiva em investimentos.
“Pode aumentar um pouco, cresce 10 por cento, vai a 300 mil hectares”, completou Schmidt, também produtor no Estado que já plantou muito mais algodão no passado, com a área superando 417 mil hectares em 2011/12, antes de o setor sofrer os efeitos da seca.
Para o sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, “a boa safra é o início da recuperação e a retomada da confiança dos produtores da região”.
“Estamos voltando para um ciclo bom de chuvas, voltando para a normalidade climática do oeste da Bahia”, celebrou o agrônomo Landino José Dutkievicz, que presta serviços para produtores locais, atuando há mais de 30 anos.
No entanto, segundo ele, o produtor do oeste baiano ficou muito alavancado e levará mais alguns anos para que tudo fique totalmente equilibrado.
“Não vai dar para quitar as dívidas passadas, foram três anos muito ruins, precisaria de um ou dois anos para colocar as coisas em dia”, afirmou à Reuters o agricultor e secretário de Agricultura de Luís Eduardo Magalhães, Franco André Bosa.
Bosa, que planta soja e milho, ressaltou ainda que a economia do município, onde o desemprego cresceu nos anos de quebra de safra, deverá se beneficiar com a grande produção. Ele acredita que as médias de produtividade superem 4 toneladas por hectare.
Termômetro
As vendas de defensivos para a safra futura de algodão, um termômetro da condição financeira dos produtores para a próxima safra, estão indo bem, de acordo com o coordenador regional de desenvolvimento de mercado da companhia de defensivos FMC, Altieres Dias.
Ele estima que o setor já vendeu até o momento cerca de 30 por cento do esperado, que deve totalizar na Bahia pouco mais de 180 milhões de dólares.
Para a soja, que ocupa uma área seis vezes superior à de algodão no Estado, os negócios antecipados ainda não começaram, mas espera-se que a oleaginosa movimente cerca de 300 milhões de dólares, segundo Dias.
Pelas informações colhidas junto a produtores, a expectativa é de que o plantio de soja cresça cerca de 50 mil hectares, representando um aumento percentual de 3 por cento.
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