Economia
Agricultura na Bolívia espera novo governo para retomar produção

No coração agrícola da Bolívia, os tratores seguem funcionando apesar da escassez de diesel. Com a proximidade do segundo turno das eleições presidenciais, Santa Cruz aguarda com expectativa o próximo governo para resolver a crise de combustível e reativar a produção.
Jorge “Tuto” Quiroga, ex-presidente, e o senador de centro-direita Rodrigo Paz disputam a eleição que encerrará duas décadas de governos socialistas. Este ciclo termina em meio a longas filas nos postos de gasolina, que estão vazios.
A redução das vendas de gás comprometeu as reservas internacionais, paralisando a importação de combustíveis subsidiados no país, o que provocou uma inflação acelerada.
Na região leste, especialmente em Santa Cruz de la Sierra, reduto da direita conservadora, a falta de combustível é um desafio presente.
“Cheguei à noite e precisei passar a noite no carro”, relata Diego Mercado, produtor de laticínios em Portachuelo, Santa Cruz.
Seu veículo ficou estacionado a 300 metros de um posto, entre inúmeras pessoas na fila. Para manter a produção, ele adquire diesel no mercado informal, mesmo que o preço seja três vezes maior.
“Não podemos parar, a produção não espera”, destaca Mercado, que aposta na mudança presidencial para retomar plenamente as atividades.
Medidas urgentes
Fora do centro urbano de 1,6 milhão de habitantes, na rota para o Brasil, a situação se repete: filas extensas nos postos por toda a região.
Campos aguardam o plantio de soja, enquanto celeiros e rebanhos permanecem em espera.
Santa Cruz responde por 60% da carne bovina e quase 90% da soja nacional.
A fazenda de Alejandro Díaz, que fica a três horas da capital do departamento e cinco horas da fronteira brasileira, cobre 4.000 hectares, com produção de soja, sorgo e criação de 3.600 cabeças de gado.
Ele acredita que o próximo presidente precisará implementar medidas emergenciais drásticas para ajustar a economia. Díaz espera a suspensão das restrições e cotas de exportação, além de uma maior integração com mercados externos.
Assim como Mercado, ele também recorre ao mercado paralelo para comprar diesel e estaria disposto a pagar o valor internacional caso o governo eliminasse os subsídios.
Preocupação ambiental
Por outro lado, ambientalistas manifestam apreensão.
“A agricultura e as culturas industriais, como a soja, são as principais causas do desmatamento”, alerta a bióloga Nataly Ascarrunz, diretora do Instituto Boliviano de Pesquisas Florestais (IBIF).
Ela destaca que, até 2024, foram destruídos mais de 12,6 milhões de hectares por queimadas na Bolívia, sendo que mais de 9 milhões estão em Santa Cruz.

Você precisa estar logado para postar um comentário Login