Alckmin ganha destaque e assegura posição como vice de Lula em 2026, dizem aliados

Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, tem se destacado intensamente nas negociações internas e externas desde que os Estados Unidos anunciaram um aumento expressivo nas tarifas contra o Brasil, em julho. Esse protagonismo, inédito desde o início do governo em janeiro de 2023, tem levado seus aliados a considerá-lo o principal nome para formar novamente a chapa com Luiz Inácio Lula da Silva em 2026.

Recentemente, Alckmin realizou cerca de 30 encontros com 162 representantes do setor público, 225 do privado e 123 entidades como associações, federações e empresas. Também manteve três conversas com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, para tentar reverter o aumento das tarifas, conforme avaliação técnica próxima ao vice.

Um aliado do vice destaca que essa intensa interlocução, somada à crescente exposição na mídia — incluindo participação no programa Mais Você, da TV Globo —, pode ser usada na campanha presidencial para alcançar segmentos, como o agronegócio, onde Lula teria maior dificuldade.

Além disso, assim como em 2022, Alckmin pode conquistar eleitores que rejeitam o PT, mas também rejeitam o bolsonarismo. “Ele não é apenas uma atração de votos, mas a justificativa que o eleitor procura para não votar em candidaturas conservadoras”, explica um apoiador que preferiu não se identificar.

Por outro lado, lideranças do PT avaliam que o ex-governador pode ser uma boa opção para disputar cargos em São Paulo, seja a reeleição como governador ou uma vaga no Senado, devido à sua popularidade no estado e para abrir espaço a outro partido na chapa presidencial.

Embora Alckmin prefira manter seu posto em Brasília, a decisão final caberá a Lula. Caso necessário, o vice pode ser candidato a cargos majoritários em São Paulo, especialmente após o ex-presidente Jair Bolsonaro também definir palanques competitivos no estado.

Em recente pronunciamento, Lula ressaltou a importância de ampliar a base aliada no Congresso para aprovação das propostas governamentais e destacou a necessidade de definir estratégias claras para as eleições de 2026.

Parte do eleitorado paulista, mais conservador e que apoiou Tarcísio em 2022, pode não aceitar a mudança de posição de Alckmin. Além disso, não há garantia de vaga para ele no Senado, tornando uma possível derrota preocupante para sua carreira política, segundo fontes próximas.

Procurado, Alckmin não concedeu entrevista.

Retorno gradual ao protagonismo político

Embora seja vice-presidente e tenha um papel central na coordenação ministerial, Alckmin não participou ativamente na rotina política do Palácio do Planalto até assumir a liderança nas negociações do tarifaço. Esse ressurgimento lembra um momento anterior em sua trajetória.

Entre 2019 e 2022, sem mandato e diante de dificuldades no PSDB, o ex-governador mantinha reuniões discretas com aliados em uma pequena confeitaria próxima à sua casa e ao Estádio do Morumbi. Foi nesse local que começou a articular a aliança com Lula que resultaria na campanha vitoriosa de 2022.