Conecte Conosco

Notícias Recentes

Amigo e testemunha de morte de carroceiro morre em hospital de SP

Publicado

em

Gilvan Artur Leal morreu na tarde desta quinta-feira (20) na Santa Casa, após ter convulsões em abrigo. Morador em situação de rua estava abalado após morte de amigo.

O morador em situação de rua Gilvan Artur Leal, de 53 anos, conhecido como “Piauí”, morreu no final da tarde desta quinta-feira (20), na Santa Casa de São Paulo. Há uma semana, ele presenciou a morte do amigo e carroceiro Ricardo Nascimento, morto por um policial militar com dois tiros em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo.

Gilvan estava no abrigo Dom Bosco, na Rua Dino Bueno, na região central, e começou a ter convulsões. O Samu foi acionado e ele foi levado para o hospital na quarta-feira (19), mas não resistiu. A advogada Nina Cappello é moradora da região em que Gilvan dormia e o ajudou desde a morte do amigo. Ela chegou a visitá-lo na Santa Casa nesta quinta-feira, mas ele estava “sem condições de falar” e entubado.

À Nina, os médicos disseram que Gilvan sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico, decorrente de uma hipertensão. “O estado dele se relaciona com o que aconteceu [morte do carroceiro]”, disse a advogada  a Santa Casa não se pronunciou sobre o caso.

Gilvan dormia na Rua Benjamin Egas, próxima a escola Fernão Dias, e vivia acompanhado de seu cachorro, o “Barbicha”. Ele também estava sempre com uma Bíblia.

A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social disse que “lamenta o falecimento” de Gilvan e que quando ele passou mal, “a equipe do centro foi orientada por telefone sobre os procedimentos que deveriam ser adotados até a chegada do socorro”. A pasta informou ainda que nesta sexta-feira os “orientadores sociais encontrarão com os familiares do Gilvan para auxiliar nos procedimentos do sepultamento”.

‘Mataram meu irmão’

Gilvan estava sentado na Rua Mourato Coelho quando viu o amigo ser morto, se tornando uma das principais testemunhas do caso. Segundo ele, Ricardo chegou a gritar “Piauí, me ajuda”, após os tiros. Ao tentar ajudar, o morador disse à reportagem que foi agredido por policias militares. Ele estava com os dedos inchados e com sangue.

Muito abalado, no dia seguinte ele chorava e repetia “mataram meu irmão, mataram meu irmão”. Ele se dizia “irmão de sangue” do carroceiro Ricardo. Moradores da região da Mourato Coelho se uniram para ajudar Gilvan após a morte de Ricardo, e o levaram ao Pronto-Socorro da Lapa, onde foi medicado para a dor nos dedos.

O mesmo grupo de moradores, entre eles Nina, se mobilizaram para buscar um abrigo que aceitasse animais de estimação. “A gente estava muito preocupado com ele, com que a polícia fizesse algo com ele”, disse Nina. “Ele [Gilvan] dizia que seria o próximo”.

Os moradores de Pinheiros agora estão buscando contato com familiares de Gilvan, que, segundo ele, moravam no Jardim Ângela, na Zona Sul de São Paulo. Eles também buscam alguém que possa adotar o cachorro de Gilvan.

No dia seguinte à morte de carroceiro, Gilvan estava com os dedos machucados (Foto: Paula Paiva Paulo/G1)

No dia seguinte à morte de carroceiro, Gilvan estava com os dedos machucados 

Carroceiro morto pela PM

O carroceiro Ricardo Nascimento levou dois tiros na região do tórax por volta das 18h do dia 12 de julho.

Testemunhas que viram a ocorrência disseram que o morador estava alterado e segurava um pedaço de madeira. “Baixa o pau, baixa o pau”, teria dito o policial, segundo Maria do Socorro. Em seguida, ao fazer um movimento como se fosse jogar o pedaço de madeira, o policial disparou duas vezes e Ricardo caiu.

Sob gritos de “assassinos” e “fascistas”, os policiais colocaram a vítima dentro de um carro da polícia, cerca de 15 minutos depois dos tiros. Ele foi levado para o Hospital das Clínicas, mas não resistiu. Os policiais envolvidos na ação foram afastados das ruas, informou a Secretaria de Segurança Pública.

Imagens de câmera de segurança registraram o momento em que o carroceiro foi baleado. No vídeo, é possível ver o momento em que o carroceiro desce a rua, na esquina da Mourato Coelho coma Navarro de Andrade. Ele volta e depois cai no chão, provalmente no momento em que é atingido pelos tiros.

Ricardo foi funcionário de um mercado na região e gerente de loja, antes de trabalhar como carroceiro e residir na rua. A mãe do carroceiro, Aristides Santana, disse que ele cresceu no bairro onde foi morto. Há três décadas Aristides trabalha como doméstica para uma família que reside em Pinheiros. “Estou aqui porque tomei calmante. Estou dopada”, disse a mãe no enterro do filho.

Aristides recebe apoio de amigos durante o enterro do filho. Ricardo Nascimento, de 39 anos, foi morto pela PM (Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO)

Aristides recebe apoio de amigos durante o enterro do filho. Ricardo Nascimento, de 39 anos, foi morto pela PM 

Clique aqui para comentar

Você precisa estar logado para postar um comentário Login

Deixe um Comentário

Copyright © 2024 - Todos os Direitos Reservados