Economia
Analistas veem impacto limitado de FGTS sobre recuperação da economia
É dado como certo para economistas que apenas uma parcela dos 42 bilhões de reais com liberação prevista até o fim do ano que vem se transforme em consumo
São Paulo – O impacto positivo sobre a economia decorrente da liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) pode ser menor do que o esperado pelo governo, e a atividade deve manter seu ritmo apenas gradual de recuperação.
Economistas dizem que é dado como certo que apenas uma parcela dos 42 bilhões de reais com liberação prevista até o fim do ano que vem se transforme em consumo. Uma outra fatia servirá para pagamento de dívidas, o que poderia no máximo melhorar a capacidade de tomada de crédito das famílias.
A possibilidade de uso desses recursos para poupança também joga contra uma influência positiva mais expressiva nos números do Produto Interno Bruto (PIB), especialmente num cenário de desemprego ainda elevado, que leva os consumidores a adotar uma postura mais conservadora.
“É um estímulo de tiro curto e da ordem de 0,2 p.p. em 2019 e quase zero em 2020”, disse Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-diretor do Banco Central. “Quase metade dos brasileiros elegíveis para o saque do FGTS tem dívida bancária de alguma forma superior ao que pode ser sacado em 2019”, completou.
Em janeiro, economistas projetavam que o PIB cresceria 2,60% em 2019, conforme pesquisa Focus do Banco Central.
“Para 2019, o impacto do FGTS no PIB seria na segunda casa decimal”, disse Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco. O economista vê influência potencialmente maior no PIB de 2020, com impacto direto da medida de 0,1 ponto percentual.
“Porém, adicionando à conta o efeito estatístico do fim do quarto trimestre (de 2019), o PIB de 2020 poderia terminar o ano com crescimento 0,2 ponto percentual mais elevado”, acrescentou.
O mercado espera que a atividade avance 2,10% em 2020, bem abaixo dos 2,80% estimados em março.
Alexandre Espirito Santo, economista da Órama, calcula que o FGTS dará um impulso entre 0,20 ponto percentual e 0,25 ponto percentual à taxa de crescimento do PIB ao longo de 12 meses, intervalo que ele considera mais “real”. “Neste ano, o impacto é próximo de zero”, disse.
Risco de recessão persiste
O efeito limitado dos recursos do FGTS sobre a economia nos próximos meses mantém no radar a possibilidade de a atividade continuar derrapando, depois de um segundo trimestre para o qual não se descarta taxa nula de crescimento ou mesmo contração.
“Prevemos variação zero no segundo trimestre ante o primeiro. Ou seja, qualquer surpresa negativa poderia colocar a taxa no negativo”, afirmou Mauricio Nakahodo, economista do Banco MUFG Brasil, referindo-se ao risco de uma recessão técnica –dois trimestres consecutivos de declínio na produção econômica.
Mais recentemente, alguns indicadores de atividade e medidas de confiança melhoraram. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), espécie de sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), avançou em maio ante abril depois de quatro quedas consecutivas.
“Mas esses dados, especialmente os de confiança, são muito voláteis. O sinal é positivo, mas é preciso observar mais dados”, ponderou Nakahodo.
Entre janeiro e março, o PIB recuou 0,2% sobre o quarto trimestre de 2018, de acordo com o IBGE, na primeira retração desde 2016.
Porém, alguns no mercado demonstram mais otimismo com a performance da economia no segundo trimestre. Luka Barbosa, do Itaú, estima que o PIB tenha crescido 0,4% entre abril e junho ante o trimestre imediatamente anterior, com impulso adicional nos trimestres seguintes a partir da provável queda de juros que o BC deverá iniciar neste fim de mês.
“A cada queda de 1 ponto percentual da Selic estimamos aumento de 1 ponto percentual na taxa de crescimento do PIB ao longo de quatro trimestres”, afirmou Barbosa.
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