Economia
Apagão no PR: entenda o incêndio que causou queda de energia

Um incêndio em um reator, parte vital do sistema de transmissão da subestação de Bateias, em Campo Largo (PR), nos primeiros minutos da terça-feira (14), desencadeou o segundo maior apagão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A falha resultou em corte de energia que afetou todos os estados brasileiros e o Distrito Federal. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) enviou técnicos para averiguar o problema, e o Ministério de Minas e Energia (MME) classificou o ocorrido como uma “falha técnica pontual”.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) divulgou que o fogo teve início às 0h32 em um circuito de linha de transmissão operada pela Eletrobras, causando desligamento parcial da subestação. Isso provocou a desconexão entre as regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste.
Ao todo, 9,7 gigawatts (GW) de energia foram interrompidos em todo o país, representando cerca de 12% do consumo naquele instante. Os estados mais impactados foram São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná.
Normalização do fornecimento
A subestação está situada em área da Copel, composta por vários pátios com diferentes responsáveis. O Corpo de Bombeiros do Paraná conseguiu controlar o fogo, enquanto a Eletrobras afirmou que o ONS investigará o incidente em parceria com as autoridades competentes para identificar suas causas.
A subestação ocupa posição estratégica na conexão do Sistema Interligado Nacional (SIN). Com o corte, o Sul foi isolado do restante do país, região que exportava energia para outras partes. Esse isolamento impediu o recebimento da energia da Região Sul e da Hidrelétrica de Itaipu pelo restante do sistema, gerando desequilíbrio entre oferta e demanda.
Para lidar com a situação, foi ativado o Esquema Regional de Alívio de Carga (Erac), um mecanismo automático que atua como freio de emergência ao reduzir parte do consumo temporariamente e de maneira controlada, permitindo restabelecer o equilíbrio energético. Isso evita apagões mais graves.
A recomposição do fornecimento foi feita com cautela. Conforme o MME, em menos de uma hora a energia nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste foi retomada, chegando a mais de 90% do sistema. A Região Sul teve regularização completa por volta das 2h.
O ministério ressaltou que não houve falta de energia, mas sim uma “falha técnica pontual no equipamento da subestação, com oferta energética suficiente no período”. A conclusão foi tomada após reunião de emergência entre órgãos do setor elétrico, sem entrevista coletiva.
Declarações oficiais
Em comunicado, o ministro Alexandre Silveira afirmou que “o sistema elétrico reagiu adequadamente, seguindo os protocolos, e as interrupções foram solucionadas rapidamente”. Ele também se reuniu no Palácio do Planalto com o presidente Lula para discutir o tema.
Mais cedo, o ministro declarou: “Não se tratou de falta de energia, e sim de um problema na infraestrutura de transmissão. Não houve danos significativos ao sistema, apenas uma falha localizada.”
O ONS descreveu o evento como um “incidente isolado, com rápida atuação da equipe técnica, ocasionado por um fator externo”.
A Aneel enviará técnicos ao Paraná para investigar a origem do apagão e abrirá processos para apurar responsabilidades.
O ONS prevê entregar um relatório detalhado em até 30 dias, que analisará o episódio minuciosamente. Uma questão central é entender por que um problema aparentemente simples, como o incêndio localizado, causou efeitos generalizados não contidos pelos dispositivos de segurança.
Análises especialistas
O especialista em energia elétrica Julio Cintra considera que o caso demonstra que o governo tem subestimado os desafios do setor, incluindo falta de manutenção e investimento para reforçar infraestruturas diante de falhas:
“A resposta deveria ter sido imediata. Isso gera insegurança e evidencia a necessidade de comunicação coordenada. O apagão expôs a fragilidade do sistema.”
O professor de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília e ex-superintendente da Aneel, Ivan Camargo, observa que incêndios em reatores são eventos comuns e que algo além do fogo deve ter provocado o efeito dominó no sistema elétrico:
“Incêndios em reatores ou sua eliminação em subestações ocorrem frequentemente sem maiores consequências. Desta vez, certamente houve algum fator adicional, que ainda desconhecemos.”

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