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Após levar choque e perder braços, homem narra superação em palestras

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Ele quer conscientizar as pessoas sobre como prevenir acidentes

A vida do aposentado José Guilhermino de Brito, de 52 anos, mudou radicalmente na tarde do dia 24 de dezembro de 2012. Ao tentar ajudar o vizinho, que caiu enquanto fazia reparos no telhado de um salão, ele acabou se ferindo gravemente. “Fui tentar tirar uma barra de metal que caiu em cima dele [o vizinho] e acabei levando um choque de alta tensão”, relembra ele, que teve os dois braços amputados por conta da descarga elétrica.

Hoje recuperado e com duas próteses, o aposentado de Sorocaba (SP) faz questão de compartilhar a sua história em palestras. O intuito é conscientizar as pessoas sobre os riscos ao tentar socorrer uma vítima de um acidente caseiro sem estar apto para a função.

Não é que eu esteja aconselhando as pessoas a não ajudarem o próximo, mas sim que elas tenham consciência de suas ações para também não se tornarem vítimas”
José Guilhermino

Afinal, no impulso de ajudar o próximo, José não se atentou ao fato de que a barra de metal que tentou tirar de cima do vizinho estava encostada na fiação elétrica da rua, o que gerou uma descarga elétrica de mais de 23 mil volts. “Eu me feri mais gravemente que a vítima. Fui levado ao hospital com 32% do corpo com queimaduras, sendo mais gravemente nos braços e, por isso, dez dias depois do acidente eles foram amputados. Já o meu vizinho teve traumatismo craniano, mas, após 50 dias de internação, teve alta e passa bem.”

José Guilhermino ficou 84 dias internado no hospital. Além da adaptação à nova vida sem os braços, o aposentado também teve que passar por várias sessões de enxerto nas pernas, que também foram bastante atingidas pela descarga elétrica. “A energia tem um ponto de entrada e saída. Então, ela entrou pelo meu braço e saiu pelo pé. Tive ferimentos da região da coxa até o pé. Tive que recuperar a pele de quase toda a perna”, conta.

Após acidente, aposentado ficou 84 dias internado no hospital (Foto: Arquivo Pessoal/ José Guilhermino)Após acidente, aposentado ficou 84 dias internado

Durante o período de adaptação de sua nova condição física, o aposentado contou com o apoio da família, que, segundo ele, teve papel importante em sua recuperação. “Minha esposa, minhas filhas e genros me deram muita força. A minha esposa até me disse uma coisa que me deixou muito emocionado, que os meus rins ela não poderia substituir se eu precisasse, mas que as mãos, sim. Que agora ela seria as minhas mãos”, lembra.

A esposa, Lenira Brito, de 51 anos, faz questão de frisar a força de vontade do marido durante o período de recuperação. “Era bonito de ver a recuperação dele. Mesmo diante da situação, ele se manteve sempre contente, era gostoso de ver. Ele aceitou a situação muito bem e, é claro, nós [a família] também aceitamos. Ficamos sempre do lado dele.”

A forma como José superou a amputação serviu de exemplo até para outros pacientes que estavam internados no hospital. “Os enfermeiros faziam questão que algumas pessoas que estavam internadas lá por motivos inferiores, mas é claro que sem desmerecer, porque cada um sabe da sua dor, fossem conhecê-lo. No começo elas tinham receio de vê-lo naquele estado, mas depois se surpreendiam com a força de vontade dele e saíam até mais leve de perto dele. O quarto dele no hospital vivia cheio de gente”, lembra Lenira.

Com a experiência de quem contou sua história a vários outros pacientes, José Guilhermino resolveu ministrar palestras dois anos depois do acidente. “Eu primeiro quis me preparar. Fiz curso de oratória, de segurança e prevenção de acidentes, tudo pra me dar mais embasamento pra falar sobre o assunto.”

Nas palestras, o aposentado conta sobre o ‘dia do fatal acidente’, como ele mesmo classifica. “Eu falo da minha história, do acidente que custou os meus braços. Afinal, uma coisa é ouvir a história por alguém, outra coisa é ouvir de mim, que passei por tudo isso. Eu procuro sempre dar conselhos, pra agir com consciência e segurança pra que a pessoa não acabe se ferindo mais do que o outro a quem está querendo ajudar”, frisa.

Ele conta que sempre achou muito gratificante poder ajudar o próximo. Só que, depois do acidente, quer orientar as pessoas a fazerem isso com consciência. “Se você me perguntar se eu me arrependo de ter ajudado o meu vizinho, eu vou responder: ‘É claro’. Afinal, custou meus braços. E é por isso que eu acho importante compartilhar a minha história. Não é que eu esteja aconselhando as pessoas a não ajudarem o próximo, mas sim que elas tenham consciência de suas ações para também não se tornarem vítimas.”

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