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Assaltos a alunos mobilizam mães de colégios na região da Avenida Paulista

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O abaixo-assinado do Dante, endereçado ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) e à Secretaria da Segurança Pública (SSP), tem quase 3 mil assinaturas. Reprodução/Facebook


Relatos de roubos de estudantes entre 10 e 16 anos vêm causando preocupação entre as mães de dois dos colégios particulares mais tradicionais de São Paulo, o Dante Alighieri e o São Luís, na área da Avenida Paulista, região central. Elas preparam dois abaixo-assinados, solicitando policiamento nos arredores das escolas. Um deles está próximo de obter 3 mil assinaturas. Já a polícia diz que vem atuando na região, realizando prisões e reduzindo os casos.

Conselheira da Sociedade dos Amigos, Moradores e Empreendedores do Bairro de Cerqueira César (Samorcc), Célia Cândida Marcondes relata que foi procurada para elaborar os abaixo-assinados, reivindicando a instalação de câmeras de vigilância, melhorias na iluminação e no patrulhamento local. “É um clima de insegurança total”, ressalta.

Em setembro, um menino de 10 anos saiu da aula no Dante por volta de 12h30 e atravessou a rua para esperar a mãe chegar de carro. Ele aguardava na esquina das Alamedas Jaú e Casa Branca, quando um homem de bicicleta se aproximou e pediu o celular. O garoto se recusou a entregar. Foi quando o assaltante levantou a camisa, mostrando uma arma.

“Ele não estava com o celular à mostra. Mas como estava tendo muito assalto na região do colégio, eu e meu marido orientamos que deveria entregar o celular caso fosse abordado”, explica a mãe, uma dentista de 44 anos que pediu para não ser identificada Depois disso, o filho não atravessa mais a rua sozinho e também não usa o celular fora da escola ou de casa. “No primeiro mês, eu tinha de buscá-lo na porta da escola. Ele ainda está assustado e só fica na esquina com o segurança do colégio”, afirma a mãe.

Segundo relatos, os roubos têm ocorrido “em ondas” desde junho, com os ladrões usando bicicletas para facilitar abordagem e fuga As vítimas são estudantes com uniforme escolar e o alvo é sempre o celular. “A última onda foi há duas semanas. Roubaram meia dúzia de crianças. A polícia vem, fiscaliza, faz batida. Mas depois some e os roubos voltam a acontecer. Foram três ondas até agora, em junho, setembro e novembro”, diz a arquiteta Tatiana Marques, de 42 anos, mãe de um estudante de 14 anos que teve o celular roubado em junho. Ela chegou a registrar boletim de ocorrência. “No mesmo dia, o homem assaltou mais cinco adolescentes saindo do Dante.”

O abaixo-assinado do Dante, endereçado ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) e à Secretaria da Segurança Pública (SSP), tem quase 3 mil assinaturas. No documento, as mães dizem que falta “policiamento ostensivo nos arredores do referido Colégio, mais precisamente no quadrilátero da Avenida 9 de Julho, Rua Augusta, Rua Estados Unidos e Alameda Santos”. Segundo o texto, os casos geram “pânico que pode causar danos emocionais irreversíveis”.

De acordo com as mães, o assalto mais recente ocorreu há duas semanas, com os filhos de 12 e 13 anos da arquiteta Luciana Uras, de 43. “O cara (de bicicleta) disse que se meu filho não entregasse o celular iria atirar na cara dele”, afirma Luciana. “Minha filha passou semanas sem querer voltar da escola a pé, apesar de nós moramos muito perto.”

São Luís

A poucas quadras dali, na Rua Haddock Lobo, estudantes do colégio São Luís relatam também situações de furto e abordagens com faca. O objetivo é o mesmo: o celular.

Um aluno do 2º ano do ensino médio, de 16 anos, diz que estar de uniforme “agrava” a situação e chamar a atenção. “Acho que o assaltante percebeu que nós, estudantes, sempre teremos pertences no bolso ou na mochila”, diz o jovem, que relatou duas abordagens, uma delas com faca, no ponto de ônibus da Praça do Ciclista.

Uma colega, de 16 anos, confirma o problema. “Olham para o nosso uniforme e já pensam: ‘É burguês’.” Este ano, ela foi furtada na calçada do colégio, a menos de 20 metros da saída. “Estava no meu bolso. Quando fui pegar de novo, não estava mais. Agora, o celular só está seguro se ficar aqui”, diz ela, mostrando o aparelho escondido dentro da calça.

Mãe de uma aluna de 12 anos, a fotógrafa Patrícia Couto, de 45, participa do abaixo-assinado. Ela diz que prefere levar e buscar a filha todos os dias, de metrô, para garantir a segurança da menina. “Eu não quero vir sozinha. É muito perigoso. Quando você não está com a proteção dos pais, fica exposto”, diz a estudante Jennifer.

Dicas

Segundo o consultor de segurança pública e privada Jorge Lordello, como o principal alvo é o celular, o melhor a fazer é guardar o aparelho no modo silencioso (apenas com o recurso de vibração), em um bolso discreto e sem ter seu uso associado a um fone de ouvido. Quando o uso for necessário, é melhor fazê-lo em uma loja.

Ele também não recomenda o uso de uniforme na rua. “Tudo o que possa identificar a classe social de uma pessoa pode criar interesse. Também não oriento executivo a sair com crachá. O uniforme identifica o local onde você frequenta. Daí você pode ser mapeado, estudado, podem saber os horários de entrada e saída com facilidade.”

Patrulhas

A Secretaria da Segurança Pública informou que a equipe do 78º DP (Jardins) trabalha para identificar e prender os autores de roubos que agem na região. “O policiamento na área de Cerqueira Cesar foi reforçado com objetivo de identificar e prender os suspeitos que estão atuando no bairro.”

De acordo com a secretaria, “o trabalho realizado pelo distrito resultou na prisão de 28 pessoas, de janeiro a outubro, envolvidas com esse tipo de crime”. O trabalho policial na região contribuiu para redução de 1,68% dos roubos de janeiro a setembro em comparação com o mesmo período do ano passado e em 5,6% somente no mês de setembro. Autoridades da Polícia Civil e da Polícia Militar compareceram nas reuniões do Conseg do bairro para alinhar com a comunidade possíveis ações no combate ao crime.”

Entre os meses de janeiro e setembro, o número de roubos na região do 78.º DP (Jardins) aumentou 76,18% quando se consideram os últimos cinco anos, enquanto o de furtos cresceu 33,15%, conforme dados do próprio governo do Estado.

Escolas. O Dante diz que tem equipe própria de segurança, “atuando diariamente no quarteirão em que está localizado, durante todo o período de funcionamento da escola”. “Fazemos questão de ter seguranças contratados diretamente pela instituição, e não terceirizados, o que aproxima a relação profissional e evita a troca continuada de colaboradores. Com o objetivo de evitar qualquer ocorrência no entorno da escola e manter rigor na segurança de todos, o Dante mantém esse formato de trabalho há 25 anos.”

Já o São Luís afirma que ainda não recebeu o abaixo-assinado e orienta as famílias para que registrem as eventuais ocorrências. A escola destaca que possui uma rua interna para embarque e desembarque dos alunos. “E, dentro dos limites legais de atuação, o quarteirão da escola possui seguranças externos e câmeras de vigilância em conjunto com os demais estabelecimentos no entorno.”

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