Economia
Audiovisual cresce no Brasil, gera empregos bem pagos, mas ainda é instável
Quase um ano depois do sucesso da campanha que levou “Ainda estou aqui” ao Oscar, o cinema brasileiro mantém seu brilho com “O agente secreto” como um forte candidato a prêmios internacionais. Isso demonstra o avanço e a maturidade da indústria audiovisual no país.
O setor é um dos maiores produtores de empregos nacionais, embora as condições dos trabalhadores enfrentem desafios.
De acordo com estudo da Oxford Economics, o audiovisual criou 608 mil empregos no Brasil no último ano, superando em 50% a indústria automotiva, e contribuiu com R$ 70,2 bilhões para o PIB brasileiro.
Esse campo engloba muito mais que cinema, incluindo produção para TV, plataformas de streaming, publicidade, redes sociais, podcasts e outros formatos. Porém, muitos empregos são temporários e sem garantias trabalhistas robustas.
Um exemplo é Mariana Costa, 24 anos, que atua em produções como assistente de direção, diretora criativa e produtora.
— Às vezes trabalho intensamente durante um mês e depois preciso pausar para cuidar da saúde mental. Tento planejar meus ganhos para garantir algum descanso, algo que a maioria dos colegas não consegue — conta Mariana. — Não tenho filhos, o que facilita equilibrar a renda.
Em campanhas publicitárias, ela consegue maior estabilidade, mas no cinema a situação é mais difícil.
No set, a remuneração costuma ser por diária, o que combina com produções que concentram muitas horas em poucos dias.
A pesquisa da Oxford mostra que a média salarial no audiovisual em 2024 foi de R$ 6.800, o dobro da média nacional (R$ 3.057).
— Nossa categoria pode ganhar até R$ 20 mil por semana, dependendo do projeto, porém trabalha 12 horas ou mais por dia, sem contar o transporte. Essa rotina mensal é exaustiva e sem legislação que regule essa carga — destaca Mariana.
Fernanda Lomba, cineasta e produtora, atualmente diretora do Nicho 54, que apoia profissionais negros na área, comenta que o audiovisual no Brasil ainda não é um mercado de trabalho plenamente estruturado.
— Difícil encontrar recursos humanos dedicados num estúdio, pois geralmente o produtor executivo acumula funções, o que revela uma anomalia no setor, que carece de direitos trabalhistas semelhantes a outros setores. Jornadas excessivas são comuns, mesmo com a legislação limitando 48 horas semanais — complementa Mariana.
Para aumentar a segurança dos trabalhadores, foi criada recentemente a Federação da Indústria e Comércio do Audiovisual (Fica), por um grupo de produtores.
A ideia é tratar o audiovisual no Brasil como um negócio estratégico e lucrativo, com políticas públicas, linhas de crédito e infraestrutura adequada, explica Walkíria Barbosa, diretora-executiva do Festival do Rio e líder na formação da federação.
— Na Coreia do Sul, o sucesso global do Dorama e do K-pop teve uma base institucional forte, não foi por acaso — conclui Walkíria.


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