Economia
Aumento das taxas futuras com atenção a tensões EUA-Brasil

A atenção do mercado está voltada para possíveis retaliações dos Estados Unidos após o governo Lula ter anunciado a aplicação da Lei da Reciprocidade em resposta às tarifas americanas. Essa preocupação influenciou a alta da curva de juros futuros na última sessão do mês, com todos os vencimentos registrando elevação, especialmente nos prazos intermediários.
No fechamento do pregão, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subiu de 13,935% para 13,970%. Para janeiro de 2028, a taxa avançou de 13,214% para 13,275%. Janeiro de 2029 também registrou alta, passando de 13,135% para 13,205%, enquanto janeiro de 2031 atingiu 13,505%, saindo de 13,448%.
Claudio Pires, CIO da MAG Investimentos, destaca que o aumento dos DIs no último dia útil foi modesto, considerando os valores finais do pregão anterior – com janeiro de 2027 em 13,97%, janeiro de 2029 em 13,18% e 2031 em 13,485%. Segundo ele, a decisão do governo de aplicar a Lei da Reciprocidade surpreendeu o mercado, gerando alta de aproximadamente 6 pontos-base logo após o ajuste, o que impactou o movimento no dia seguinte.
Segundo Pires, o receio principal do mercado é que a disputa comercial com os EUA possa se agravar, similar ao conflito entre Estados Unidos e China, prejudicando o comércio bilateral. No cenário internacional, o índice PCE dos EUA para julho, que subiu 0,3%, correspondendo às expectativas, não influenciou significativamente o mercado local.
No âmbito interno, o resultado primário do setor público consolidado em julho foi negativo em R$ 66,566 bilhões, um déficit maior do que o esperado pelos analistas, que previam R$ 63,25 bilhões. Além disso, a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) subiu para 77,6% do PIB, um ponto percentual acima de junho. Pires ressalta que os números fiscais têm tido impacto limitado no mercado, cuja maior atenção está voltada para o cenário eleitoral.
Na última semana, a curva de juros perdeu inclinação, com redução mais acentuada nas taxas de prazos mais longos e estabilidade nas taxas de prazos curtos. A equipe econômica do Santander Brasil aponta que o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizando possível flexibilização monetária em setembro, ajudou a pressionar a curva para baixo.
A queda das taxas de curto prazo foi mais intensa na segunda-feira, mas foi revertida com a divulgação do IPCA-15 acima do esperado no dia seguinte. Nas taxas de longo prazo, a redução foi mais pronunciada, beneficiada por um leilão menor que o previsto de títulos do Tesouro Nacional, conforme análise do banco.
O contexto político contribuiu para aliviar as taxas nos dias recentes, especialmente com a crescente possibilidade de candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, nas eleições presidenciais de 2026. O mercado vê positivamente a alternância de poder, apostando em uma política fiscal mais rigorosa.
Agosto também foi positivo para o mercado de juros, apesar dos desafios fiscais e das tensões com os EUA. Todas as taxas recuaram, destacando-se a de janeiro de 2027, que caiu para abaixo de 14%, iniciando o mês em 14,21%.
Pires enfatiza que o fechamento da curva americana precificando corte de juros em setembro é positivo para o mercado local. Quanto ao cenário interno, há a percepção de que o Brasil tende a melhorar o manejo da questão fiscal no médio e longo prazo. Para o CIO, as expectativas eleitorais dominam o interesse dos investidores, relegando em segundo plano os números fiscais negativos já antecipados.

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