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Avanço da direita radical no Chile revive memórias da ditadura

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Na madrugada da primavera de 1986, os militares chilenos invadiram a casa de Alicia Lira e levaram seu companheiro, Felipe Rivera, que foi assassinado com vários tiros na cabeça. Alicia nunca mais o viu e até hoje vive a dor dessa perda.

Quase quarenta anos depois, Alicia Lira ainda sente o sofrimento intenso e permanece firme na busca por justiça e verdade. A vitória de um candidato da direita radical no segundo turno das eleições presidenciais reacende lembranças dolorosas do período da ditadura de Augusto Pinochet no Chile, que retornou à democracia há 35 anos, mas ainda carrega as marcas desse passado cruel.

Alicia descreve sua reação à eleição de José Antonio Kast, apoiador de Pinochet e que será o presidente mais conservador do Chile desde o fim do regime militar, dizendo que sente uma profunda tristeza e revolta.

Na sua lapela, ela carrega uma foto de Felipe Rivera, a quem ela chama com carinho. Muitos responsáveis pelos crimes da época ainda não foram punidos ou receberam sentenças leves.

Embora a justiça tenha sido lenta e às vezes falha, Alicia nunca perdeu a esperança. Ela lidera a Associação de Familiares de Executados Políticos e tem um irmão que também foi capturado e torturado.

Após um encontro com o presidente progressista Gabriel Boric, ela ressaltou que o governo atual foi um alívio para eles, ajudando a avançar em esforços para encontrar os desaparecidos.

No entanto, agora ela e outros defensores dos direitos humanos terão que enfrentar a administração de Kast, que apoia a ditadura responsável por milhares de mortos, desaparecidos e sobreviventes perseguidos.

Alicia afirma que é necessário ter força para continuar a luta.

O candidato de direita considera apoiar um projeto de lei que concederia indulto a agentes do Estado presos por crimes contra a humanidade durante a ditadura, incluindo o ex-brigadeiro Miguel Krassnoff, condenado a mais de mil anos de prisão. Em 2017, durante sua primeira campanha presidencial, Kast visitou presos acusados de graves abusos de direitos humanos, defendendo alguns deles publicamente.

Gaby Rivera, filha de um desaparecido político, dedicou a maior parte da sua vida a buscar seu pai, encontrado somente muitos anos depois com sinais de violência. Hoje, líder da Associação de Familiares de Detidos Desaparecidos, ela condena veementemente qualquer possibilidade de indulto a violadores dos direitos humanos.

Na juventude, Kast apoiou a continuação do regime militar no plebiscito de 1988, que foi derrotado, levando ao fim da ditadura. Durante a campanha recente, ele evitou discutir esse passado para não perder votos.

Especialistas políticos apontam que sua eleição não ocorreu por seu apoio ao regime militar, mas apesar desse fato.

Há receios de que ele reduza os recursos para o Museu da Memória e diversas organizações que trabalham com direitos humanos, locais que prestam homenagem e mantêm viva a história das vítimas da ditadura, promovendo a dignidade e a conscientização na sociedade chilena.

Segundo a diretora do museu, María Fernanda García, é fundamental que essa história nunca seja apagada, servindo de alerta para que as violações de direitos humanos jamais se repitam.

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