Economia
Banco Central mantém juros em 15% ao ano, confira o que vem por aí
Apesar dos pedidos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o Banco Central deve seguir o planejamento e manter a taxa Selic em 15% ao ano pela terceira reunião seguida no Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira. Essa taxa é a mais alta desde julho de 2006, no primeiro mandato de Lula, e o mercado financeiro espera que o BC continue indicando que os juros permanecerão estáveis por um período “bastante prolongado”.
No encontro anterior, em setembro, o Banco Central indicou que o ciclo de aumento da Selic estava oficialmente encerrado, ao retomar o comunicado que indicava a interrupção do processo de subida dos juros. Porém, ressaltou que o cenário atual, marcado por grande incerteza, exige cautela na política monetária.
“O Comitê continuará atento, avaliando se manter a taxa atual por um período bastante prolongado é suficiente para garantir que a inflação volte à meta. O Comitê enfatiza que futuros passos da política monetária poderão ser alterados e não hesitará em retomar ajustes se necessário”, afirmou o Copom em setembro.
Assim, é consenso no mercado que a Selic será mantida nesta quarta, segundo pesquisa com 120 instituições pelo Valor Pro.
A postura firme do BC, mesmo com sinais de desaceleração da inflação, aumenta as pressões de membros do governo por uma queda nos juros, incluindo Lula, que escolheu o atual presidente da autarquia, Gabriel Galípolo. O presidente ressaltou recentemente que o BC “vai precisar começar a reduzir os juros”. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também defendeu a redução em evento recente em São Paulo.
— Eles precisarão cair. Por mais pressão que os bancos façam para o Banco Central não baixar os juros, eles terão que cair. Não é viável manter 15% de juros reais com inflação em 4,5% — disse. — Eu não sou diretor do BC, mas se fosse, votaria pela queda.
O Copom mantém o discurso de “perseverança, firmeza e serenidade” para alcançar a meta de inflação de 3%.
Apesar da queda nas expectativas de inflação, as projeções continuam acima da meta em vários horizontes. Para este ano, a previsão no Boletim Focus passou de 4,83% para 4,56%, próximo ao teto da meta de 4,50%. Para 2026, a estimativa caiu de 4,30% para 4,20%, e para 2027, de 3,90% para 3,82%.
Na última reunião do Copom, a estimativa oficial para o IPCA no primeiro trimestre de 2027 era de 3,4%, ainda distante da meta. Nesta reunião, o foco é o segundo trimestre de 2027, mas o Itaú Unibanco não espera mudanças significativas, prevendo que o BC mantenha a projeção entre 3,3% e 3,4%.
O banco reconhece melhora no cenário desde setembro, mas considera insuficiente para alterar a sinalização de manter a Selic em 15% por “período bastante prolongado”.
Além da queda nas expectativas, os dados econômicos indicam desaceleração e uma leve melhora no mercado de trabalho. No que diz respeito à inflação, houve quedas nos núcleos inflacionários, e as últimas leituras do IPCA podem fazer o indicador terminar o ano perto do teto da meta.
“Por isso, acreditamos que o Copom poderá mencionar alguma melhora na inflação atual, mas não mudará a indicação de juros a 15% por um período prolongado, devido às expectativas desancoradas, a resistência no mercado de trabalho e as projeções inflacionárias acima da meta.”
Sérgio Goldenstein, sócio-fundador da consultoria Eytse Estratégia, concorda que o BC manterá uma postura cautelosa, sem sinalizar cortes de juros no curto prazo. Ele ressalta a melhora no cenário econômico real, incluindo a redução das tensões entre os EUA e o Brasil.
Porém, as incertezas no cenário externo, as expectativas inflacionárias distantes da meta, a inflação em serviços e a taxa de desemprego próxima da mínima histórica mantêm o BC em posição desconfortável. Goldenstein também cita riscos fiscais para 2026.
“Qualquer movimento prematuro do Copom seria contraditório com as indicações anteriores de manter a Selic elevada por tempo considerável, o que poderia afetar a credibilidade e o ancoramento das expectativas inflacionárias.”
Já a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, acredita que o BC pode adotar um tom mais rígido no comunicado, apesar das melhorias no cenário.
— O Copom poderia começar a discutir a flexibilização da política monetária a partir de dezembro, mas deve manter um discurso mais cauteloso, indicando juros altos por mais tempo e postergando a discussão sobre cortes para o primeiro trimestre de 2026.

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