Bolsonaro desiste de participar de atos da oposição na Câmara por risco de prisão

Poucas horas após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), exigir que sua defesa explique o descumprimento de medidas cautelares em sua visita ao Congresso, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) cancelou compromissos marcados com aliados na manhã desta terça-feira. Ele estava previsto para participar de reuniões em comissões da Câmara dos Deputados, mas optou por não comparecer. No momento, permanece em agenda na sede do PL.

As sessões programadas para hoje incluem comissões de Segurança Pública e de Relações Exteriores da Câmara, que pretendem votar moções de repúdio contra decisões recentes do STF relacionadas ao ex-mandatário. A iniciativa busca manter a visibilidade de Bolsonaro entre parlamentares da base pró-Bolsonaro e reforçar o discurso de perseguição promovido pelo Judiciário.

Durante encontro com deputados na segunda-feira (20), Bolsonaro pediu que a proposta de anistia seja tratada como prioridade. O projeto prevê perdão para condenados e investigados pelos ataques de 8 de janeiro e é apresentado por setores da oposição como um “ato humanitário” diante do que consideram punições severas. Todavia, a proposta enfrenta forte oposição no Congresso e no governo, que enxergam risco de enfraquecimento da responsabilização pelos atos violentos.

Bolsonaro também incentivou a apresentação de novos pedidos de impeachment contra ministros do STF, com ênfase em Alexandre de Moraes. Mesmo sem ambiente político favorável para o avanço dessas iniciativas, aliados consideram que o gesto tem valor simbólico, ajuda a manter a mobilização da base nas redes sociais e mantém a tensão entre os Poderes.

Entre parlamentares próximos, a avaliação é que Bolsonaro busca capitalizar politicamente as restrições impostas pelo Judiciário, fortalecendo sua imagem de vítima para engajar seus apoiadores.

Durante a visita ao Congresso, ele exibiu a tornozeleira eletrônica e criticou as ordens de Moraes. Poucas horas depois, o ministro solicitou que a defesa esclareça possível descumprimento das medidas cautelares, sugerindo que Bolsonaro tenha contornado as limitações ao usar redes sociais indiretamente na Câmara.

No despacho, Alexandre de Moraes alertou que, caso não haja justificativa convincente, poderá ordenar a detenção imediata do ex-presidente.