Botão de denúncia facilita alertas de fraudes no Pix, mas devolução é menor que 10%

Após o lançamento de um botão para denunciar suspeitas de fraudes no Pix, o número de pedidos para reaver valores cresceu bastante, porém a restituição dos montantes desviados permanece abaixo de 10%, conforme dados do Banco Central (BC). A maioria das reclamações é negada pelos bancos, percentual que aumentou com a criação do botão para facilitar a reclamação dos usuários.

De janeiro a agosto deste ano, em média, 1,3 milhão de transações Pix foram contestadas mensalmente. Em outubro, quando o botão começou a funcionar, esse número saltou para 3,5 milhões, crescimento de 169%. Em novembro, as solicitações foram 3,4 milhões.

A porcentagem de pedidos aceitos caiu de 26% na média dos oito primeiros meses de 2025 (338 mil) para 12% em outubro (422 mil) e 9% em novembro (297 mil). Já o valor devolvido se manteve em cerca de 9,2% de janeiro a agosto (R$ 56 milhões) e em outubro (R$ 70,3 milhões), mas diminuiu para 7,1% em novembro (R$ 62,8 milhões).

Mecanismo Especial de Devolução

Os dados do Mecanismo Especial de Devolução (MED) foram apresentados no Fórum Pix. Criado em 2021, o MED visa facilitar a restituição de valores perdidos por golpes, fraudes ou erros no Pix.

Com o botão, clientes não precisam mais falar diretamente com o banco ou fintech para comunicar fraudes e solicitar ressarcimento. A ideia é agilizar o processo e aumentar as chances de recuperação dos valores, pois o BC acredita que pode haver recursos disponíveis nas contas dos fraudadores.

No entanto, os dados ainda não confirmam essa expectativa. O saldo insuficiente é a principal razão para os valores não retornarem às vítimas, representando cerca de 80% dos casos, tanto antes quanto após a implementação do botão.

Espera-se evolução positiva com a nova versão do MED, que permite rastrear o caminho do dinheiro. Essa funcionalidade, opcional desde o final do mês passado, será obrigatória a partir de fevereiro de 2026. Até então, o mecanismo só atingia a primeira conta que recebia os valores fraudulentos, enquanto os criminosos dispersavam rapidamente o dinheiro graças à rapidez do Pix.

Posição do Banco Central

Segundo o BC, o aumento das solicitações era esperado com maior divulgação do MED. O banco monitora os números para entender melhor as causas das variações.

Banco Central afirmou que a análise de fraudes é responsabilidade das instituições que conhecem seus clientes e transações, e que continuamente avalia e busca aprimorar os processos adotados pelas instituições autorizadas.

O BC acompanha o processo para possíveis ajustes e enviou questionários aos bancos para verificar adesão às regras do Pix referentes a fraudes e uso do MED. Além disso, prepara para o próximo ano um indicador de probabilidade de fraudes.

Perspectiva do Instituto de Defesa do Consumidor

Viviane Fernandes, pesquisadora do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), vê com otimismo o aprimoramento do sistema, mas ressalta que é essencial que os resultados beneficiem as vítimas de golpes e fraudes.

“Infelizmente, a recuperação dos valores é baixa. O BC precisa verificar se todas as instituições financeiras estão colaborando na análise dos casos e bloqueio dos valores”, afirmou Fernandes.

A pesquisadora destacou que não há informações claras sobre a cooperação dos bancos e recomendou que o BC crie um ranking para informar aos consumidores quais instituições são menos eficazes no combate às fraudes.

O objetivo é que os consumidores saibam a reputação dos bancos e fintechs para escolher em quais podem confiar.

“Por que tantas contestações são rejeitadas? Quem rejeita? O banco da vítima ou o que recebeu o dinheiro? Há instituições que repetidamente recusam? Essas respostas são fundamentais para o consumidor conhecer a reputação das instituições e decidir confiabilidade.”

Quanto ao botão de denúncia, o Idec sugeriu ao BC um nome mais claro, como “botão do golpe” ou “SOS Golpe”, para facilitar a compreensão do público e diminuir acionamentos errados, economizando tempo importante para recuperar os valores.