Brasil e Paraguai retomam negociações sobre acordo de Itaipu após crise da Abin

Mauro Vieira, chanceler do Brasil, e Rubén Ramírez Lezcano, chanceler do Paraguai, anunciaram em nota conjunta nesta segunda-feira que as negociações sobre a revisão do Anexo C do Tratado de Itaipu serão retomadas na primeira quinzena de dezembro de 2025.

Esse avanço encerra o impasse gerado pelas operações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no Paraguai entre 2022 e 2023.

O Anexo C estabelece as normas financeiras e operacionais de Itaipu — incluindo tarifas, remuneração e comercialização de energia — e precisava ser atualizado após completar 50 anos em 2023. Por envolver interesses econômicos dos dois países, esse tema é fundamental nas relações bilaterais e foi o foco das tensões, já que algumas ações da Abin tinham como objetivo obter informações estratégicas relacionadas às negociações.

Os dois ministros se encontraram para revisar a agenda bilateral e avançar na normalização das relações. Mauro Vieira entregou a Rubén Ramírez Lezcano um relatório confidencial contendo esclarecimentos solicitados pelo Paraguai sobre as operações da Abin.

O documento explica que o governo do presidente Lula encerrou a operação assim que tomou conhecimento dela e que o chanceler brasileiro lamentou o impacto do incidente na relação bilateral, afirmando que o Brasil está tomando medidas para identificar os responsáveis e garantir sua punição judicial.

Rubén Ramírez Lezcano declarou que, após receber o relatório e as explicações, o governo paraguaio considera o episódio finalizado. Este gesto abriu caminho para a retomada das discussões sobre o Anexo C, tema principal que estava paralisado desde o início da crise.

As relações entre Brasil e Paraguai foram afetadas quando se tornou público que agentes da Abin atuaram entre 2022 e 2023 para acessar dados e informações de autoridades paraguaias. A revelação gerou forte reação em Assunção, que convocou o embaixador brasileiro e suspendeu as negociações sobre Itaipu na espera de explicações oficiais de Brasília.

O incidente também desencadeou investigações no Paraguai e repercussões internas no Brasil, culminando na revisão dos protocolos e no fortalecimento do controle das atividades da agência de inteligência.