Economia
Brasil não merece juros altos e precisa coordenar política fiscal, diz André Esteves
André Esteves, chairman e fundador do BTG Pactual, declarou nesta segunda-feira que no Brasil há falta de alinhamento entre as políticas fiscal e monetária. Segundo ele, o país não merece uma taxa de juros anual de 15% e é necessário iniciar um ciclo de reduções já no começo de 2026. Contudo, a dimensão dessa queda na Selic dependerá das decisões do próximo governo.
Ele afirmou: “Acredito que haverá uma queda prolongada. Não estou preocupado com isso. O essencial é determinar a extensão do ciclo de cortes. Os juros começarão a diminuir em janeiro de forma gradual. Isso é certo. Agora, se a taxa ficará em 11% ou 7%, essa é a questão que depende muito da política fiscal do próximo governo.”
Esteves defendeu um ajuste mais rigoroso nas contas públicas para que a condução monetária pudesse ser flexibilizada. Ele comparou o Banco Central a um “agente de inteligência artificial” que responde aos dados econômicos para definir a taxa básica de juros.
O banqueiro reiterou a necessidade de maior harmonia entre as políticas econômicas e contestou a ideia de que o Brasil não consegue realizar ajuste fiscal. De acordo com ele, o país tem margem para reduzir despesas em cerca de 2%.
“Por exemplo, temos desemprego quase zero e uma política de reajuste real anual do salário mínimo, o que é questionável: aumentar o salário mínimo quando o desemprego está quase nulo. O pior é que esse aumento afeta toda a previdência brasileira. Ou seja, os aposentados no Brasil têm um ganho de produtividade de 2% ao ano sem esforço algum.”
André Esteves destacou também o crescimento do Bolsa Família:
“Sou a favor do Bolsa Família. É fundamental ter uma rede de proteção social, uma ideia brilhante. Entretanto, essa rede foi aumentando excessivamente e já é maior do que a da França, Noruega e Suécia. Isso não parece compatível, especialmente diante da escassez de mão de obra. A saída parece ser enfrentar os problemas de baixa produtividade e integrá-los ao mercado de trabalho, o que gera mais formalização econômica, impostos, capacidade produtiva e dignidade no emprego formal.”
Ele frisou o papel do setor privado nas negociações sobre tarifas dos Estados Unidos e afirmou que o Brasil e a América Latina podem se beneficiar de um mundo mais polarizado e menos multilateral — onde a “China se tornou uma potência tão importante quanto os Estados Unidos.”
“Não vejo necessariamente o Brasil ou a América Latina como perdedores. Vejo oportunidades nesse mundo menos multilaterizado. A base disso é o Brasil como uma nação amiga, mantendo boas relações com os Estados Unidos, Europa, China e países vizinhos — uma nação pacífica e uma região pacífica. Além disso, a abundância de recursos naturais é um ponto forte.”


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