Brasil
Brasileiro é contra mudança na Ficha Limpa

Pesquisa aponta que população rejeita mudança na lei criada para moralizar a política eleitoral no país. Sobre a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de Janeiro, os entrevistados se dividem
Pesquisa AtlasIntel, divulgada ontem, mostra que a grande maioria da população rejeita que haja mudanças na Lei da Ficha Limpa, como defende a oposição no Congresso Nacional. De acordo com o levantamento, 83% rejeitam que haja uma redução no prazo de inelegibilidade, atualmente de oito anos, para políticos que sejam condenados por crime. Apenas 14% apoiam a mudança.
Projeto de autoria do deputado federal Bibo Nunes (PL-RS) é uma das prioridades para a oposição neste ano e propõe reduzir o prazo para dois anos — o que beneficiaria o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados.
Por outro lado, a pesquisa mostra também que há divergência sobre a proposta de anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de Janeiro, também prioridade entre bolsonaristas. Dos participantes, 51% apoiam a anistia, e 49% a rejeitam, considerado empate técnico, dentro da margem de erro de três pontos percentuais do levantamento. O estudo foi feito para a CNN, e ouviu 817 pessoas entre os dias 11 e 13 de fevereiro, com confiança de 95%.
Segundo a pesquisa AtlasIntel, 58% dos eleitores de Bolsonaro no segundo turno de 2022 são contra as mudanças na Ficha Limpa, enquanto 34% as apoiam. Já entre os eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 100% rejeitam a proposta. No caso da anistia, porém, 99% dos que votaram em Bolsonaro a apoiam, contra 96% dos eleitores da Lula que a rejeitam.
Aliados de Bolsonaro defendem projetos que possam livrar o ex-presidente das decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o tornaram inelegível por oito anos. Ele foi condenado por abuso de poder político e econômico e uso indevido dos meios de comunicação por dois episódios: uma reunião com embaixadores estrangeiros convocada para pôr em dúvida as urnas eletrônicas; e a celebração de 7 de setembro de 2022, a poucas semanas das eleições, que ele usou como palanque.
Além disso, há uma estratégia para blindar o ex-presidente das investigações sobre uma tentativa de golpe de Estado que teria sido articulada por Bolsonaro, militares e integrantes de seu governo, com o projeto para anistiar todos os envolvidos no 8 de Janeiro. Entre bolsonaristas, no entanto, a avaliação é de que essa medida não o beneficiaria e que a alteração da Ficha Limpa seria o melhor caminho para proteger Bolsonaro e deixá-lo concorrer novamente em 2026.
“Não é por tempo de ficar inelegível que se pune um político criminoso. Oito anos é muito tempo e serve para punições políticas e não criminosas”, escreveu Bibo Nunes sobre o projeto em suas redes sociais. Em outra ocasião, ele destacou que o texto abre caminho para a candidatura de Bolsonaro nas próximas eleições. A proposta teve má repercussão, no entanto, por afrouxar a punição para políticos corruptos, e o PL estuda ajustar o texto.
A Lei da Ficha Limpa foi criada em 2010 e é considerada um avanço importante no combate à corrupção. Ela teve apoio do então deputado federal Jair Bolsonaro que, quando presidente, em 2019, também editou um decreto aplicando os mesmos princípios da lei para a ocupação de cargos comissionados no poder público.
A pesquisa AtlasIntel também coletou opiniões sobre outros projetos em discussão no Congresso Nacional. Segundo o estudo, 97% dos brasileiros são contra o aumento no número de deputados federais, encampado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que quer alterar a quantidade de 513 para 527. A medida evitaria que alguns estados, como o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, perdessem vagas após correção determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na divisão de cadeiras por estado, após mudanças no número de habitantes demonstradas pelo Censo 2022.

Você precisa estar logado para postar um comentário Login