Brasileiro preparado para carros elétricos? Dúvidas e medos ainda existem

Os carros elétricos já são uma realidade no mercado automotivo brasileiro e não apenas uma promessa para o futuro. Com o aumento da frota e a maior variedade de modelos disponíveis nas concessionárias, surgiram discussões que vão além da sustentabilidade, incluindo temas como autonomia, custo, durabilidade, recarga e até resistência a alagamentos.

Há muitas informações desencontradas, verdades e exageros, e especialistas destacam que o cenário atual combina desconhecimento, inovação rápida e desafios estruturais.

Autonomia

Uma das dúvidas mais comuns é sobre a autonomia dos veículos. Embora modelos antigos tenham deixado a impressão de alcance limitado, atualmente a maioria dos carros elétricos vendidos no Brasil tem autonomia real acima de 300 km, com versões que podem superar 400 km por carga — e em alguns casos chegando a até 600 km em condições otimizadas.

Na prática, a autonomia varia conforme peso do veículo, velocidade, clima, relevo e estilo de direção.

Divanildo Albuquerque, diretor da BYD Parvi, explica: “É um mito pensar que todo elétrico tem pouca autonomia, mas também não se pode generalizar que todos entregam a capacidade máxima prometida em qualquer situação. Assim como os carros a combustão, existem variações.”

Recarga

A recarga também evoluiu, porém ainda enfrenta limitações fora dos grandes centros urbanos. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o Brasil terminou 2024 com mais de 10 mil pontos públicos e semipúblicos de carregamento, um avanço significativo, mas insuficiente para viagens longas em algumas regiões.

Em áreas urbanas, a maioria dos donos de carros elétricos recarrega em casa ou no trabalho, diminuindo a necessidade dos carregadores públicos.

Do ponto de vista financeiro, a recarga é mais econômica que o abastecimento com combustíveis fósseis. Um elétrico consome em média entre 15 e 20 kWh para rodar 100 km, o que equivale a aproximadamente R$ 50 a R$ 70 para percorrer 400 km, dependendo da tarifa de energia e do tipo de recarga.

O mesmo trajeto em um carro a gasolina pode custar mais de R$ 300, dependendo da eficiência e do preço do combustível. Ainda assim, o preço inicial de compra dos elétricos é alto, o que impacta na popularização do segmento.

Manutenção

Os veículos elétricos possuem menos peças mecânicas e, portanto, exigem menor manutenção preventiva que os carros a combustão — por exemplo, não precisam de troca de óleo do motor. Contudo, componentes como suspensão, pneus e sistema de refrigeração ainda precisam de cuidados regulares.

Bateria e sistema elétrico

As baterias, que são os componentes mais caros do veículo, costumam ter garantias entre 5 e 8 anos, variando conforme a marca. Essas tecnologias mostram uma perda gradual de capacidade, não uma falha abrupta. A substituição da bateria fora do período de garantia ainda preocupa alguns consumidores pelo alto custo.

Temores relacionados a alagamentos também aparecem. Assim como outros carros, veículos elétricos podem sofrer danos sérios se forem submersos. A diferença está nos protocolos de segurança, como baterias seladas, isolamento de alta tensão e desligamento automático em situações de risco.

Divanildo Albuquerque esclarece: “Muitos modelos possuem certificação IP67, garantindo proteção contra imersão temporária, mas isso não significa que o carro é à prova de enchentes severas”. Em outras palavras, atravessar áreas alagadas por um curto período é diferente de enfrentar uma enchente prolongada.

Desafios

Atualmente, os carros elétricos trazem benefícios reais em economia, tecnologia e menor necessidade de manutenção, mas ainda enfrentam desafios como o custo elevado de compra, dependência da rede elétrica e infraestrutura de recarga em expansão no país.

Como qualquer tecnologia em desenvolvimento, os veículos elétricos estão entre o entusiasmo exagerado e a desconfiança, e a melhor resposta está na informação correta, expectativas realistas e aprimoramento contínuo do setor.