Brasileiros lucram com alta do bitcoin e migram para renda fixa e stablecoins

A valorização expressiva do bitcoin nesta semana trouxe grande movimentação no mercado e desafiou a ideia de que investidores brasileiros ainda “compram na alta e vendem na baixa”. A criptomoeda alcançou um pico de US$ 123.218 e permanece próxima dos US$ 120 mil, chegando a um valor de mercado de cerca de US$ 2,34 trilhões, superior ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que é de aproximadamente US$ 2,17 trilhões.

Esse cenário fez com que vários investidores realizassem lucros e realocassem seus recursos de criptoativos para investimentos em renda fixa e stablecoins como USDT e USDC. Conforme comenta Henry Oyama, diretor da Hashdex, “temos observado saídas líquidas nas últimas semanas de forma generalizada na indústria de fundos e ETFs de cripto”.

Thomaz Fortes, diretor-executivo da área de cripto e ativos digitais do Nubank, destaca que “vendo um movimento interessante dos nossos clientes frente à recente valorização do Bitcoin. Diferentemente dos picos anteriores, onde tínhamos uma divisão equilibrada entre compras e vendas, agora há um aumento significativo na troca de Bitcoin por stablecoins, como o USDC”. Segundo ele, isso indica que os investidores estão aproveitando a alta para obter lucros, sem deixar completamente o universo cripto, preferindo a estabilidade oferecida pelas stablecoins.

Dados da Anbima indicam que, entre 8 e 16 de julho de 2025, o fundo Hashdex Nasdaq Bitcoin Reference Price Fundo de Índice registrou retiradas de R$ 59.465.934,54. Similarmente, o fundo da QR Asset, QR Cme Cf Bitcoin Reference Rate Etf Ie, teve retiradas líquidas de R$ 14.319.482,46 no mesmo período, sem receber novos aportes.

Theodoro Fleury, gestor e diretor de investimentos da QR Asset Management, considera que esse movimento no Brasil é uma realização de lucros por parte dos chamados “holders antigos” ou “baleias”, que estão vendendo a preços atuais para novatos investidores.

Especialistas apontam que o comportamento dos investidores brasileiros se diferencia do resto do mundo devido a fatores como o perfil conservador do investidor nacional e o atual cenário de taxa de juros, conforme aponta Henry Oyama.

Segundo a QR Asset, métricas indicam movimentação de bitcoins antigos, com alguns ativos inativos por mais de 11 anos sendo negociados, enquanto o fluxo institucional recente mantém-se comprador em mercados estrangeiros.

Além disso, Theodoro Fleury destaca que o aumento significativo na circulação de stablecoins como USDT e USDC é um indicativo de entrada de capital novo, frequentemente antecedendo movimentos de alta no mercado.

Perspectivas para o Bitcoin

Após registrar uma baixa de US$ 115.976,56 em 15 de julho, segundo dados da Binance, o bitcoin retomou sua valorização atingindo US$ 120.825,63 no dia 17, o que representa um ganho de +4%. Contudo, a analista técnica e trader parceira da Ripio, Ana de Mattos, observa que o ativo enfrenta resistência na faixa dos US$ 121.000 no curto prazo.

Para ultrapassar essa barreira, é necessário um fluxo comprador robusto. Caso contrário, o potencial para alcançar as marcas de US$ 125.000 e US$ 130.000 a médio e longo prazo poderá ser limitado. Caso o fluxo de venda predomine, o bitcoin poderá buscar novamente suporte próximo a US$ 116.000, e uma quebra desse patamar abriria espaço para queda até cerca de US$ 111.500.

O cenário técnico e político adverso é agravado pela recente rejeição do pacote regulatório GENIUS Act nos Estados Unidos, que visava regulamentar stablecoins. Apesar da pressão do presidente Donald Trump, a Câmara dos EUA não aprovou a medida, o que poderia ter proporcionado maior previsibilidade regulatória e facilitado a entrada de capital institucional no mercado cripto.

Esse contexto, somado a outros fatores macroeconômicos, poderia revigorar o setor e impulsionar o bitcoin a renovar suas máximas históricas.

Ana de Mattos conclui que o mercado encontra-se pressionado por desafios técnicos e políticos e que o próximo movimento do bitcoin será crucial para definir se se inicia uma nova fase de alta ou o começo de uma correção.