Brasiliense do Comando Vermelho morto no Rio esfaqueou rival e ameaçou a avó

A trajetória do crime organizado levou Érick Vieira de Paiva, 21 anos, a deixar Sobradinho II (DF) e integrar o Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro (RJ). Entretanto, sua curta experiência com a facção terminou de forma trágica. Érick foi um dos 121 mortos na Operação Contenção, realizada em 28 de outubro, nos complexos do Alemão e da Penha.

Segundo as apurações, Érick foi o único brasiliense entre os falecidos e possivelmente estava treinando e atuando próximo à liderança do CV no Rio. Apesar da juventude, já era conhecido da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Ele possuía um histórico criminal na capital federal e havia fugido para o Rio após romper a tornozeleira eletrônica que utilizava por decisão judicial.

O dispositivo de monitoramento foi instalado no início de setembro deste ano, em função de uma acusação de violência doméstica. Érick passou a ser vigiado após ameaçar sua própria avó.

Tentativa de homicídio

Em abril, Érick foi condenado pelo Tribunal do Júri de Sobradinho a oito anos de prisão, inicialmente em regime semiaberto, por uma tentativa de homicídio contra um desafeto. Após recurso de sua defesa, a pena foi reduzida para seis anos. O crime ocorreu em junho de 2023, na Quadra Central de Sobradinho, quando Érick desferiu golpes de faca contra outro jovem.

De acordo com a investigação da 13ª Delegacia de Polícia, o esfaqueamento foi motivado por um desentendimento anterior, envolvendo consumo de bebida alcoólica. No dia, ambos discutiram verbalmente e, durante a briga, Érick tentou ferir a vítima com uma faca, que conseguiu fugir e pedir ajuda em uma farmácia. Ele respondeu pelo crime em liberdade.

Violência doméstica

A primeira prisão em flagrante por violência doméstica ocorreu em janeiro de 2024. A Polícia Militar do DF atendeu uma ocorrência de Lei Maria da Penha na Vila Buritizinho, envolvendo Érick, que estava alterado e quebrando objetos em casa. Sua irmã denunciou o comportamento agressivo, relatando sofrimentos psicológicos e ameaças constantes.

Segundo o processo judicial, o comportamento dele piorava sob efeito de drogas. Em uma discussão, ameaçou a irmã, dizendo que estava disposto a causar graves danos físicos e a esquartejar alguém.

Em março, Érick foi preso novamente por violência doméstica, desta vez contra sua avó. A Justiça concedeu medidas protetivas após a idosa sofrer agressões verbais e ameaças. A senhora relatou que acolheu o neto após ele ser expulso de casa pela mãe, mas que ele se tornou agressivo, ofendendo-a e destruindo objetos.

Érick chegou a ameaçar cortar a cabeça da avó e destruir a casa caso ela não pagasse o aluguel. Também afirmou que não deveria ser contrariado pois era bandido.

Última prisão no DF

A última prisão registrada de Érick foi em maio, na Avenida Comercial do Lago Norte. Ele importunou uma passageira de ônibus, deitando no colo dela. Um homem tentou intervir e foi atacado por Érick com uma joelhada, causando corte. Ao chegar a polícia, Érick proferiu ameaças, dizendo que mataria todos. Foi preso por lesão corporal, resistência, desobediência e desacato.

No dia seguinte, envolveu-se em briga na carceragem e foi condenado a nove meses e quinze dias em regime aberto, além de multa, pela 6ª Vara Criminal de Brasília.

DF sob o olhar do crime organizado

O delegado Hudson Maldonado, da 13ª DP (Sobradinho), declarou que não há indícios do envolvimento de Érick com organizações criminosas no DF. Ele afirmou que não havia escalado no crime local e que a busca por melhores oportunidades para delinquir o levou ao Rio de Janeiro.

A Polícia Civil do DF tem colaborado nas investigações de vínculos de Érick com o Comando Vermelho, que tem atraído criminosos de outras regiões para o Rio. A Operação Contenção revelou que pelo menos 40 dos mortos eram de fora do Rio, incluindo de estados como Pará, Amazonas, Bahia e Goiás.

A polícia brasiliense considera prioritário o cruzamento de dados para acompanhar o risco de expansão do Comando Vermelho na capital federal.