Economia
Cade investiga mercado de delivery no Brasil após suspeitas de espionagem
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) começou a observar atentamente o mercado de delivery em diversas cidades do Brasil.
Em documento assinado por Alexandre Barreto de Souza, superintendente-geral do órgão responsável por garantir a concorrência no país, o Cade solicitou a preparação de um estudo econômico para apoiar o acompanhamento das atividades comerciais nas cidades de Goiânia, Rio de Janeiro, Santos, São Paulo e São Vicente.
No dia 1º deste mês, o Cade abriu um procedimento administrativo para acompanhar o mercado de entrega de alimentos online, com o objetivo de prevenir práticas que possam prejudicar a ordem econômica.
Empresas do setor estão no centro de investigações internas, especialmente depois da chegada das chinesas Keeta e 99Food. As apurações envolvem suspeitas relacionadas a ex-funcionários do iFood e da 99Food, consultorias estrangeiras e até casos de roubo de notebooks durante eventos comerciais e visitas a restaurantes.
Em 15 de outubro, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) decidiu contra a 99Food, que havia movido uma ação contra o iFood alegando que a concorrente tentava eliminar a visibilidade visual de sua marca.
A 99Food recorreu, defendendo que as bolsas usadas pelos entregadores são essenciais para o reconhecimento da marca, especialmente em sua entrada no país, e que o iFood estaria tentando enfraquecer essa estratégia.
Duas semanas atrás, a controladora da 99Food, a 99, iniciou uma investigação interna sobre um possível vazamento de dados confidenciais, possivelmente relacionados ao furto de notebooks corporativos e à atuação de consultorias que teriam abordado funcionários de maneira inadequada.
O caso lembra denúncias feitas anteriormente pelo iFood à Polícia Civil de São Paulo, segundo as quais empresas de consultoria tentam contatar colaboradores sob o pretexto de pesquisas de mercado.
A 99 relatou que centenas de funcionários receberam ofertas entre US$ 200 e US$ 1 mil para participar de reuniões nas quais seriam solicitadas informações internas.
No mês passado, a Unidade de Polícia Judiciária (UPJ) de Piracicaba cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa de um ex-funcionário do iFood.
Antes disso, o 32º Distrito Policial de São Paulo desencadeou uma ação contra outro ex-funcionário do iFood por ter repassado informações sensíveis da empresa.
Consultorias estrangeiras estariam oferecendo pagamentos para conversas com funcionários do iFood, nas quais fazem perguntas estratégicas sobre lucros, estrutura operacional e outros dados críticos.
As questões levantadas incluem vendas por cidade, formação de preços das taxas de entrega, volume de pedidos e o impacto da entrada de concorrentes estrangeiros. Em uma dessas reuniões, estaria presente um executivo da Meituan, controladora do Keeta.
Posicionamento das empresas
A 99Food vê com naturalidade o interesse do Cade em acompanhar o desenvolvimento do mercado. Segundo a empresa, a atuação do órgão é vital para permitir a entrada de novos concorrentes, ampliando a competição e a diversidade de ofertas.
O iFood considera a medida oportuna, sobretudo diante de práticas comerciais predatórias de concorrentes recém-chegados, que podem prejudicar a concorrência e todo o ecossistema.
O iFood reafirmou seu compromisso com um setor competitivo e disse que continuará colaborando com o Cade.
A Keeta afirmou estar comprometida em manter um mercado de delivery justo, garantindo mais opções para consumidores, restaurantes e entregadores. A empresa destacou que, em agosto, solicitou ao Cade investigação sobre práticas que considera anticompetitivas.
Segundo a Keeta, confia no bom julgamento das instituições brasileiras para promover o crescimento saudável do mercado.
A Rappi não se pronunciou até o fechamento desta matéria.

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