Economia
Café brasileiro busca reduzir perdas após tarifas de Trump

Diante das duras tarifas impostas pelos Estados Unidos, o Brasil, maior produtor e exportador mundial de café, espera que a dependência americana por seus grãos resulte em isenção, além de ter como objetivo atrair novos mercados.
Os Estados Unidos são o principal destino das exportações brasileiras de café, que, tal como a carne, está sujeito a um imposto de 50% desde 6 de agosto, por decisão do presidente Donald Trump.
Outros produtos, como o suco de laranja e as aeronaves, foram poupados desta medida que foi tomada como retaliação ao julgamento contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump, por suposta tentativa de golpe de Estado.
Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário, declarou na segunda-feira: “Acreditamos que em algum momento eles farão uma exceção para o café.”
Qual a importância do mercado americano para o café brasileiro?
Os americanos são os maiores consumidores de café no mundo, e sua produção interna é muito pequena comparada à demanda.
Cerca de um terço do café importado pelos Estados Unidos vem do Brasil, especialmente os grãos da variedade arábica.
Em 2023, 16,1% das exportações brasileiras de café tiveram os EUA como destino, totalizando 8,1 milhões de sacas de 60kg (aproximadamente 486 mil toneladas), segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Jorge Viana, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), afirmou por e-mail enviado à AFP: “Os EUA terão dificuldade em encontrar outros fornecedores para um volume tão grande”. Por isso, o Brasil continua tentando negociar com Washington para obter a isenção.
Entretanto, as negociações comerciais entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a administração Trump estão paradas.
Renato Garcia Ribeiro, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (USP), explica que “as marcas têm dificuldades para mudar a composição do blend, mantêm padrões para preservar o sabor do café”, o que dificulta a alteração dos fornecedores.
Qual o impacto imediato?
Raquel Meirelles, proprietária de fazendas de café em Minas Gerais, expressa preocupação: “Meu medo maior é perder clientes antigos. Relacionamentos que levaram anos para serem construídos”.
Um quarto da produção de seu café especial é exportado para os Estados Unidos, e seus clientes habituais já indicaram que podem reduzir as compras.
Márcio Cândido Ferreira, presidente do Cecafé, lamenta: “O impacto é grande. Desde o anúncio da tarifa, não houve pedidos de novos contratos pelos Estados Unidos.” Muitos importadores solicitaram adiamento nos pedidos já firmados, aguardando uma solução para a crise.
Nos EUA, Phyllis Johnson, presidente da BID Imports, importadora de café brasileiro, afirma com firmeza: “Infelizmente, com essas tarifas, o café brasileiro tornou-se inacessível para compradores americanos.”
Novos mercados?
O ministro Paulo Teixeira assegura que mundialmente há falta de café e diversos mercados demonstram interesse pelo café brasileiro.
ApexBrasil lançou um programa para diversificar mercados, identificando especialmente Alemanha, Itália, Japão e China como potenciais destinos para o café verde brasileiro.
A China, rival dos EUA, anunciou em agosto a abertura do mercado para cerca de 200 empresas exportadoras do apreciado café brasileiro.
Para Renato Garcia Ribeiro, a escassez mundial de oferta deixa os produtores brasileiros em posição vantajosa para buscar novos clientes. Diferentemente de outros produtos, o café pode ser armazenado por meses após colheita, permitindo negociação no momento mais oportuno, o que demonstra a resiliência do setor.
Um café mais caro?
No início do ano, os preços globais do café subiram significativamente devido à forte redução na oferta, causada principalmente por uma seca histórica no Brasil.
Apesar de se esperar uma queda nos preços, a tarifa imposta desorganizou o mercado, levando a uma previsão de aumento acentuado no curto prazo, segundo o presidente do Cecafé.
Renato Garcia Ribeiro ressalta que, inicialmente, “os consumidores americanos serão os que arcarão com o custo adicional” decorrente das tarifas.

Você precisa estar logado para postar um comentário Login