Centro-Oeste
Casos de câncer de mama registram percentual elevado no Distrito Federal
Incidência supera média nacional. Correio realizará segunda edição do CB Debate Câncer de mama: uma rede de cuidados
No Distrito Federal, a incidência de câncer de mama, em 2023, foi de 49,8 casos por 100 mil mulheres. A taxa é 18,8% superior à média nacional, em que registra 41,9 casos. Os dados são do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e representam uma estimativa correspondente ao triênio 2023-2025, com números que se repetem em cada um desses anos. No que se refere à quantidade de óbitos pela doença, a taxa do DF iguala-se à média do país, totalizando 12,3 mortes em 2022. A disfunção é a que mais afeta a saúde da população feminina do Brasil, atrás somente de tumores na pele não melanomas.
“Estados com maior desenvolvimento, no que tange à oferta de serviços de saúde — como São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e, claro, Distrito Federal —, realmente, registram índices mais altos”, explicou o mastologista Farid Buitrago, médico no Hospital Regional de Sobradinho (HRS). “Além disso, pessoas de diferentes locais do país vêm ao DF para dar andamento aos tratamentos, fato que também aumenta essa taxa”, completou o especialista.
No entanto, aspectos relacionados à mudança no estilo de vida contribuem fortemente para o salto na incidência de câncer de mama. “Adiamento da gravidez; redução do número de filhos e, consequentemente, da amamentação; maior consumo de álcool e cigarro entre as mulheres, e obesidade são alguns desses fatores. Soma-se a isso a menstruação precoce e a menopausa tardia”, detalhou Buitrago. O índice tem crescido, inclusive, entre as mais jovens.
Diagnóstico não é o fim
Segundo o Inca, a incidência de câncer de mama aumenta com a idade, ocorrendo majoritariamente a partir dos 50 anos. No caso de Nani Monteiro, o diagnóstico veio aos 49 anos neste ano. “Em maio de 2023, eu senti um caroço no seio esquerdo. Consultei, fiz a biópsia e uma imuno-histoquímica, que detecta múltiplas doenças e o estágio em que se encontram. Daí veio o resultado. Foi desesperador, pois senti que minha vida tinha acabado”, revelou.
Nani, que é cantora evangélica, contou que não costumava fazer exames de prevenção, mas — por sorte, segundo ela —, descobriu o nódulo ainda pequeno. O diagnóstico veio dois meses após perder o pai por câncer de próstata. “A minha família ficou arrasada e ainda dói olhar-me carequinha no espelho, mas, em meio a tudo isso, descobri o quanto sou amada. Isso tem me ajudado a superar a doença”, disse. A experiência trouxe a ela uma nova perspectiva de vida. “Não podemos deixar para amanhã o que se pode fazer hoje. Ame hoje, perdoe hoje, abrace hoje e não se apegue a coisas que não podemos carregar”, aconselhou.
A servidora pública Elane Pires, 46, descobriu o câncer de mama em 2019, em um momento de recomeço, após realizar uma cirurgia bariátrica. “Eu estava cheia de planos e com uma qualidade de vida muito boa, de repente, me vi doente e frustrada. Demorei para aceitar o diagnóstico e achei que iria definhar”, desabafou. Motivada pelos médicos e pela família a tentar manter sua rotina e fazer o que gostava foi fundamental. O sonho de participar de uma maratona, por exemplo, foi realizado. “Com acompanhamento e responsabilidade consegui cumprir a prova de 25km. Senti que sou vitoriosa e comecei a encarar a doença de outra forma”, contou.
Em outubro do mesmo ano, Elane fez a remoção das duas mamas. No mesmo procedimento cirúrgico, foram colocadas próteses mamárias. Deu continuidade ao tratamento no ano seguinte e, desde 2021, é submetida à imunoterapia, tratamento mais leve, com ingestão de medicamentos. “Eu sempre pratiquei corrida, esporte que o médico me falou que só pararia se eu quisesse, o que me deu uma visão diferente sobre o tratamento. E continuei”, relatou. Mantendo-se em movimento, a moradora de Taguatinga ingressou na Canomama, associação de mulheres que foram diagnosticadas com a doença em tratamento ou não e que praticam a canoagem juntas.
Prevenção
O diagnóstico precoce aumenta a chance de cura em cerca de 95%, conforme reforçou o mastologista Farid Buitrago. Pensando nisso, o Correio realizará, em 24 de outubro, a segunda edição do evento CB Debate Câncer de Mama: uma rede de cuidados, que ocorre no mês destinado a chamar a atenção para a prevenção contra o mal.
O evento ocorrerá no auditório do jornal e terá transmissão ao vivo pelas redes sociais oficiais do Correio, no YouTube e no Facebook. Serão dois painéis, cada um com a participação de três especialistas: o primeiro abordará o “Diagnóstico e fatores de risco” e o último discutirá o “Tratamento e pós-câncer”. Além disso, será aberto ao público, por meio de inscrição prévia no site.
O CB Debate terá como uma das mediadoras a jornalista Carmen Souza, editora de Opinião do jornal. “Temos o compromisso de abordar temas ligados à saúde, levando orientações para melhor qualidade de vida, combatendo fake news e fornecendo informações sobre prevenção e bem-estar. Vamos receber profissionais experientes e de várias áreas, com um olhar humanista para o paciente oncológico”, adiantou.
Força para superar desafios
Ao receber o diagnóstico, a paciente precisa manter a calma, aceitar a doença e entender que será uma fase de tratamento passageira, porém com mudanças em vários setores da vida. O tratamento exige um período de afastamento do trabalho tendo em vista que a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia possuem alguns efeitos colaterais. O afastamento do trabalho pode comprometer a renda familiar e gera preocupação quanto à estabilidade no emprego. Ter uma rede de apoio é importante, estar cercada de amor por parte dos familiares e amigos pode influenciar no bem-estar emocional e físico, oferecendo força para superar os desafios do tratamento.
Essa paciente que inicia o tratamento, muitas vezes enfrenta queda de cabelo, alterações na pele e nas unhas, inchaço no corpo e alteração no tamanho e formato das mamas. Isso obviamente vai impactar a percepção da sua imagem corporal, em como ela vai ser vista pelo parceiro(a) e pela sociedade. A reconstrução mamária deve ser oferecida para toda paciente, SUS e rede privada, desde que ela tenha condições clínicas e favoráveis para realizar o procedimento. A mama é um órgão que está diretamente relacionada à sexualidade e à feminilidade e conseguir oferecer um tratamento oncológico curativo com um resultado estético satisfatório é o papel de todo mastologista.
Lucimara Veras é presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia do Distrito Federal. Ela é mastologista e especialista em reconstrução mamária no Hospital Anchieta
Dados de 2024 coletados até julho pela SES/DF
Correio Braziliense
Você precisa estar logado para postar um comentário Login