Centro-Oeste
Casos de covid-19 aumentam 215% em agosto no Distrito Federal
Número de infecções pela doença saltou de 1.207, em julho, para 3.808, em agosto. Especialistas alertam para a alta capacidade de mutação do vírus e ressaltam a necessidade de a população aderir à campanha de vacinação na capital federal
A covid-19, doença que atormentou o mundo nos últimos anos, voltou a ser destaque negativo no Distrito Federal. De acordo com boletins epidemiológicos divulgados pela Secretaria de Saúde (SES-DF), o número de novos casos cresceu de forma alarmante, passando de 1.207, em julho, para 3.808 infectados, em agosto — um salto de 215%.
O aumento no número de pessoas que contraíram o coronavírus na capital do país, recentemente, acendeu o alerta em autoridades da Saúde local e especialistas, que apontam uma combinação de fatores, como a circulação de novas variantes e a queda da adesão à vacinação, como responsáveis por essa nova onda de infecções.
Chefe da assessoria de endemias da Subsecretaria de Vigilância e Saúde do DF, Victor Bertollo Gomes Porto disse ao Correio que o ciclo da imunidade contra a covid-19, proporcionado pelas vacinas, dura em média seis meses. “Isso torna essencial a aplicação das doses de reforço, principalmente para as populações mais vulneráveis, como os idosos”, explicou. Ele também observou que a população, em geral, não têm aderido à estratégia de reforço vacinal com a devida frequência, o que fragiliza ainda mais o combate à doença.
A baixa adesão tem sido outra preocupação das autoridades de saúde, de acordo com Victor Porto, que ressalta a ampla divulgação das campanhas, especialmente entre a população idosa. “É essencial que esse público receba uma dose de reforço, a cada seis meses. Isso é crucial para evitar casos graves e internações”, pontuou.
Sobre as expectativas para os próximos meses, Porto indicou que, embora o número de casos esteja em alta, ainda não há previsão de medidas mais restritivas, como as adotadas no início da pandemia. “O comportamento atual das novas variantes é similar ao de ondas anteriores, com um aumento expressivo de casos, mas sem a mesma gravidade”, avaliou. “Nosso foco será em reforçar a vacinação e os cuidados preventivos, principalmente entre a população mais vulnerável”, pontuou.
Infectologista do Centro de Segurança Assistencial (CSA) do Hospital Anchieta, o médico Manuel Palacios concorda com o chefe da Assessoria de Endemias da Subsecretaria de Vigilância e Saúde do DF e destacou outros pontos que devem ser levados em consideração para que os números não aumentem mais na capital do país (leia em Três perguntas para).
Cuidado redobrado
Com o aumento dos casos de covid-19 nos últimos meses, muitas famílias têm enfrentado, novamente, os desafios trazidos pelo vírus. Ao Correio, a técnica em enfermagem Marisa Pereira Martins, 44 anos, que já foi diagnosticada duas vezes, compartilhou a experiência que a família teve. “A minha filha, por exemplo, ficou com fraqueza, falta de ar, muita dor de cabeça e gripe”, relatou. A filha dela, Thayná Pereira Martins, 17, foi infectada três vezes, enquanto o filho de Marisa, Breno Pereira Martins, 12, contraiu o vírus duas vezes.
A técnica em enfermagem disse que tem redobrado os cuidados para evitar novas infecções. “Não estamos visitando locais aglomerados, temos nos hidratado bastante e seguimos todas as medidas preventivas”, afirmou. Para Marisa, a prevenção continua sendo a melhor forma de combate à doença, especialmente com o recente aumento de casos.
A empreendedora Leila Sfit, 45, recebeu o primeiro diagnóstico de covid-19 e foi um dos 3,8 mil casos do mês passado. “Achei que fosse gripe ou rinite, por conta da seca. Mas depois veio uma fraqueza muito grande”, detalhou. “Decidi procurar um médico e o resultado do exame deu positivo para o coronavírus”, contou.
A filha de Leila, Maria Clara Sfit, 19, e o marido, Marcus Paulo Sfit, 55, também acabaram infectados pela doença, segundo a empreendedora. “Como não peguei na pandemia, achei que estivesse livre dessa doença”, lamentou. “Ainda bem que, aqui em casa, todos se vacinaram com todas as doses disponíveis. Então, os sintomas foram mais leves do que eu ouvia falar”, ressaltou Leila.
Esforço
Epidemiologista da Universidade de Brasília (UnB), Walter Massa Ramalho disse que uma conjunção de fatores explica esse aumento repentino. “Em primeiro lugar, o vírus da covid-19 continua circulando e ele é altamente mutável”, pontuou. “Uma outra situação é que temos vacinas disponíveis. Elas estão sempre se modernizando, para se adequar às mudanças do vírus, mas as pessoas não estão fazendo o esforço necessário para tomar o imunizante”, lamentou Ramalho.
De acordo com o especialista, isso faz com que a população fique suscetível à covid-19. “Por isso, é importantíssimo que a população do Distrito Federal se vacine. Quanto mais pessoas estiverem imunizadas, menor é a chance de dissipação do vírus, pois ele precisa de um hospedeiro para se reproduzir e infectar mais gente”, comentou.
A boa notícia, segundo o epidemiologista, é que a covid-19 não é mais tão grave, como era na pandemia. “Ela continua sendo um problema de saúde pública, porém, passa a ser mais uma endemia, ou seja, vamos conviver com alguns surtos de aumentos de casos, porém, de forma mais isolada”, afirmou Walter Massa Ramalho.
Dicas para evitar o contágio
1. Higienizar as mãos com água e sabão ou álcool em gel;
2. Uso de máscaras em locais fechados ou com aglomeração;
3. Manter distanciamento social sempre que possível;
4. Garantir a ventilação adequada de ambientes fechados;
5. Reforçar a vacinação, especialmente para idosos e imunocomprometidos.
Fonte: Manuel Palacios, médico infectologista do Centro de Segurança Assistencial (CSA) do Hospital Anchieta
Três perguntas para…
Manuel Palacios, médico infectologista do Centro de Segurança Assistencial (CSA) do Hospital Anchieta
Esse retorno da covid-19 está relacionado a alguma variante específica? Quais as características dela?
No Distrito Federal e em outras regiões do Brasil, o aumento recente de casos está associado a novas variantes, como a EG.5, que é a variante chamada de ERIS, e a BA.2.86, chamada variante Pirola. Elas têm mostrado uma maior capacidade de escape imunológico. Isso quer dizer que podem reinfectar pessoas previamente vacinadas ou infectadas, embora os casos graves sejam menores em comparação aos estágios iniciais da pandemia. A variante EG.5 é mais transmissível, porém não necessariamente mais grave. A variante Pirola tem um grande número de mutações na proteína spike, o que a torna uma variante de interesse. Essas variantes têm características de transmissão aumentada, o que pode levar a picos de casos.
Quais os principais riscos do retorno da doença durante esse grave período de seca?
A combinação covid-19 e período de seca, no Distrito Federal, representa um risco particular. A seca agrava problemas respiratórios, aumentando a vulnerabilidade de grupos como idosos, imunocomprometidos e pessoas com doenças pulmonares preexistentes. Além disso, a falta de umidade resseca as vias respiratórias, facilitando a entrada de patógenos e tornando as pessoas mais suscetíveis a infecções.
O que fazer para os números não aumentarem ainda mais? É necessário tomar medidas mais drásticas?
Intensificar a campanha de vacinação com foco nas doses de reforço. Realizar uma comunicação clara sobre as novas variantes e a importância de manter as medidas preventivas. O monitoramento constante de surtos em áreas com maior concentração de pessoas. Medidas mais drásticas, como a restrição de circulação, devem ser consideradas apenas se houver um aumento exponencial de casos graves e de hospitalizações. No momento, o foco deve estar na prevenção e proteção dos grupos mais vulneráveis.
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