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Católicos LGBT celebram peregrinação em Roma e legado de acolhimento do Papa Francisco

Centinares de católicos LGBT e suas famílias reuniram-se em Roma no sábado, 6, para participar de uma peregrinação durante o Ano Santo. Eles celebraram o que veem como um novo grau de aceitação dentro da Igreja Católica após anos de exclusão, atribuindo essa mudança ao falecido Papa Francisco.
Diversos grupos LGBT inscreveram-se para a peregrinação, inclusão esta que constava no calendário oficial do Vaticano para o Ano Santo, evento católico que acontece a cada 25 anos e atrai numerosos fiéis.
Representantes do Vaticano esclareceram que a presença no calendário não representava um endosso oficial ou patrocínio.
A principal organizadora do evento foi a entidade italiana de apoio LGBTQ+ Jonathan’s Tent, acompanhada por outras organizações como o Outreach, dos EUA, fundado pelo padre jesuíta James Martin, uma voz proeminente na defesa da inclusão dos católicos LGBT.
O Papa Leão XIV conduziu uma audiência especial para todos os peregrinos em Roma no mesmo dia, sem menção específica aos católicos LGBT, que estavam programados para atravessar a Porta Santa da Basílica de São Pedro posteriormente.
Legado de aceitação
Muitos participantes atribuíram o novo sentimento de acolhimento ao Papa Francisco, que mais do que seus antecessores, esforçou-se para tornar a Igreja um espaço mais aberto para católicos LGBT.
Em 2013, ele afirmou “quem sou eu para julgar?” ao falar sobre um padre supostamente gay e permitiu que padres abençoassem casais do mesmo sexo.
Apesar de não modificar o ensino da Igreja que considera atos homossexuais como “intrinsecamente contrários à ordem estabelecida”, durante seu pontificado entre 2013 e 2025, Francisco encontrou ativistas LGBT, ministrou para uma comunidade de mulheres trans e declarou em entrevista à Associated Press em 2023 que “ser homossexual não é crime”.
John Capozzi, de Washington (EUA), participou da peregrinação com seu marido, Justin del Rosario, e afirmou que a atitude do Papa Francisco o trouxe de volta à Igreja após anos afastado na década de 1980, época em que se sentiu rejeitado devido à crise da aids.
“Eu sentia que não era aceito na Igreja, não por ter cometido erro algum, mas por causa de quem eu era”, relatou. Porém, Francisco mudou esse cenário ao enfatizar que a Igreja está aberta a todos – “todos, todos, todos” – permitindo que ele se assumisse católico com orgulho.
Mensagem de esperança
Durante uma vigília na sexta-feira à noite, lotando uma igreja jesuíta, Capozzi compartilhou seu testemunho, junto com relatos de casais do mesmo sexo e uma mãe de criança trans, finalizando com uma reflexão emotiva do padre italiano Fausto Focosi.
“Nossos olhos já viram lágrimas de rejeição, vergonha e ocultação. Talvez essas lágrimas ainda apareçam às vezes”, disse Focosi. “Mas hoje surgem novas lágrimas que limpam as antigas. Essas lágrimas são lágrimas de esperança.”
Atitude do Papa Leão XIV
O posicionamento do Papa Leão XIV em relação aos católicos LGBT era incerto. Após sua eleição em maio, emergiram declarações antigas de 2012 em que ele criticava o “estilo de vida homossexual” e a mídia por promover a aceitação desses relacionamentos, considerados contrários à doutrina católica.
Ao tornar-se cardeal em 2023, questionado pela Catholic News Service se havia mudado sua visão, reconheceu a iniciativa do Papa Francisco por uma igreja mais inclusiva. “Ele deixou claro que não deseja exclusão de pessoas devido às suas escolhas, seja no estilo de vida, trabalho, vestuário, ou qualquer outra coisa”, afirmou.
Leão reuniu-se com Martin numa audiência oficial na segunda-feira, sinalizando o interesse em destacar essa reunião. Martin afirmou que o Papa Leão pretende continuar a política de acolhimento iniciada por Francisco e o encorajou a prosseguir com sua missão.
“Ouvi a mesma mensagem do Papa Leão que a do Papa Francisco: o desejo de acolher todas as pessoas, incluindo as LGBTQ”, comentou Martin.
Del Rosario expressou que, após anos distante da fé em que foi criado, sentiu-se acolhido novamente. “O Papa Francisco me influenciou a retornar à Igreja. O Papa Leão apenas fortaleceu minha crença”, declarou ele.

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