Economia
CEO da Lufthansa incentiva Embraer a competir com Boeing e Airbus
O protagonismo global dominado por Airbus e Boeing tem na Embraer um desafiador à altura e necessário, segundo a liderança da Lufthansa. Em visita ao Brasil, o CEO global do grupo alemão, Carsten Spohr, manifestou abertamente nesta quinta-feira (4) que a fabricante brasileira deveria disputar o mercado de grandes aeronaves comerciais.
— Gostaria que a Embraer produzisse aviões maiores. Creio que a Embraer tem força suficiente para rivalizar com Airbus e Boeing — afirmou o executivo durante encontro com jornalistas em São Paulo, horas antes de visitar a fábrica da empresa em São José dos Campos (SP) na tarde de ontem.
Para Spohr, a indústria da aviação necessita de maior eficiência e redução de custos, que poderiam ser alcançadas com a presença de um terceiro competidor relevante no cenário internacional.
O CEO festejou a existência da Embraer como essa “terceira força” e declarou estar ansioso para discutir formas de ampliar seu protagonismo diante das rivais do Hemisfério Norte. O presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, mantém a cautela, mas admite que novos produtos estão sendo estudados.
Embora não haja definição oficial, especula-se que o próximo passo da fabricante seria entrar na faixa dos jatos de maior porte, superando o limite atual em que seus modelos competem apenas com as menores aeronaves da Airbus.
— Pense no que ocorreu nas décadas anteriores e veja as transformações das últimas duas décadas. É vital garantir que a concorrência e a inovação avancem, papel em que a Embraer é fundamental — declarou Spohr.
Há rumores de que a Embraer avalia o desenvolvimento de um jato ‘narrowbody’ (corredor único) de nova geração para o segmento de 150 a 200 passageiros. Atualmente, a Embraer domina a aviação regional, sendo o E195-E2 seu maior modelo, com capacidade para até 146 passageiros.
Para desafiar os líderes mundiais, Airbus A320neo e Boeing 737 MAX, a brasileira precisaria criar uma aeronave ligeiramente maior. Considerando as dificuldades enfrentadas pela Boeing e a capacidade limitada da Airbus até o final da década, especialistas veem este como um momento propício para um novo competidor.
Falta de peças e aeronaves
O entusiasmo de Spohr pela engenharia brasileira ocorre em meio a uma crise na cadeia global de suprimentos, que dificulta a expansão da Lufthansa no Brasil.
— No último verão europeu, faltavam 41 aeronaves da Boeing para nós. Sem esses aviões, usamos modelos mais antigos em algumas rotas e tivemos que cancelar 23 rotas por falta de aeronaves, o que nos afetou profundamente. Isso também limita a abertura de novos destinos na América Latina — explicou Spohr.
O principal gargalo está nos motores, com a Pratt & Whitney enfrentando problemas técnicos em seus motores para Airbus A320neo, deixando centenas de aviões no solo para inspeções longas. A CFM International, que equipa Boeing 737 MAX e parte dos Airbus, sofre pela escassez de materiais como titânio e níquel, agravada por tensões geopolíticas.
Em 2024, as entregas da Boeing caíram cerca de 35% devido a greves e revisões de qualidade. A Airbus reduziu suas metas anuais pela falta de peças. Segundo a Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), esses problemas na cadeia custarão às companhias aéreas mais de US$ 11 bilhões em 2025, impactando a Lufthansa em cerca de € 500 milhões anuais.
Nordeste no radar
Durante coletiva, Carsten Spohr reforçou a importância estratégica do Brasil para a companhia, destacando-o como um mercado estável e relevante fora dos EUA. Revelou interesse em ampliar a atuação no Nordeste a partir de 2027.
Spohr mencionou uma visita técnica a Fortaleza (CE) para avaliar o mercado local, e destacou Recife (PE) como ponto de interesse inédito para o grupo.
— Eu e Dirk Janzen, diretor de Vendas para Américas, visitaremos Fortaleza para conhecer o mercado. Recife também é uma cidade na qual nunca estivemos. No entanto, a expansão só ocorrerá após 2027, devido à falta de aeronaves — explicou, enfatizando que o setor enfrenta limitações na frota.
O presidente do grupo, que inclui Lufthansa, Swiss, Austrian Airlines e ITA Airways, celebrou a aquisição da empresa italiana, que dobrou a presença do grupo em voos para a América Latina, consolidando um hub estratégico em Roma, ao lado dos hubs em Frankfurt, Munique e Zurique.
Enquanto espera a chegada de novos aviões para expansão geográfica, a Lufthansa foca em melhorar a experiência dos passageiros e modernizar sua frota, introduzindo novas cabines “Allegris” e novos Boeing 787, além de reconfigurar os Boeing 747.
Segundo Spohr, a estratégia no Brasil difere de concorrentes que buscam expandir para várias cidades pequenas. A Lufthansa prioriza conectar grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, aos seus hubs europeus, oferecendo acesso a mais de 200 destinos globais.


Você precisa estar logado para postar um comentário Login