Tecnologia
Cidades Inteligentes: como a tecnologia pode transformar o trânsito no Brasil
Estudo desenvolvido por especialistas do IEEE usa ferramentas de IoT e Lógica Fuzzy para viabilizar melhoras no trânsito
O crescimento acelerado das cidades torna os desafios relacionados à mobilidade urbana cada vez maiores. Por isso, a busca por soluções inovadoras para o trânsito se tornou essencial, sobretudo quando se pensa no caótico tráfego das grandes metrópoles.
Pensando em resoluções para essa problemática, pesquisas para modernizar a gestão do tráfego no Brasil estão sendo desenvolvidas por especialistas do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE).
Um dos projetos mais promissores utiliza dispositivos da chamada Internet das Coisas (IoT) e um conceito matemático da área de inteligência computacional conhecido como Lógica Fuzzy para otimizar a operação de semáforos.
Uma das ideias desse projeto é permitir que veículos de emergência, como ambulâncias, por exemplo, tenham prioridade no trânsito de maneira automatizada e eficiente.
A pesquisa foi aplicada em Campinas, em São Paulo, cidade escolhida por seus desafios urbanos semelhantes aos de outras metrópoles brasileiras.
O foco do estudo foi a rota viária que leva ao Hospital PUC-Campinas, trajeto que conta com 13 semáforos em uma área de tráfego intenso.
Para resolver esse problema, os especialistas usaram a plataforma brasileira open source Dojot, que permite o controle em tempo real de dispositivos conectados, como semáforos inteligentes.
Com a aplicação da Lógica Fuzzy, os sinais de trânsito conseguem interpretar variáveis dinâmicas, como a densidade do tráfego e a urgência de um veículo de emergência.
Assim, é possível ajustar automaticamente os tempos de abertura e fechamento dos semáforos, utilizando também recursos de algoritmos e inteligência artificial.
Segundo o professor e pesquisador do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer da Universidade Estadual de Campinas (CTI/Unicamp) e membro do IEEE, Gabriel Gomes de Oliveira, o objetivo da pesquisa foi aliar tecnologias acessíveis a soluções avançadas de inteligência artificial.
Ele explica que o funcionamento do sistema começa pela instalação de sensores no hospital, nos semáforos, nas câmeras de segurança da cidade.
“Uma ambulância chega no ponto ‘A’ para fazer o primeiro socorro e coloca lá no Waze ou no Google Maps o hospital mais próximo e consecutivamente se direciona até esse hospital, avisando para ver se tem vagas disponíveis. A gente faz um algoritmo através de Lógica Fuzzy, usando uma inteligência artificial, onde a gente conecta essa inteligência artificial com os objetos”, detalhou Gabriel Gomes de Oliveira, citando, ainda, a interligação com órgãos de gestão pública, como a secretaria de mobilidade da região.
Em seguida, é feita uma sincronia de sistemas, segundo o professor.
“Por meio da internet das coisas e de inteligência artificial, os dados são imputados na nuvem. Isso naturalmente gera um alerta para a Secretaria de Mobilidade, na qual ela, por sua vez, vai entender, olha existe uma emergência, só que ela não precisa fazer nada. Isso é só um um alerta, dados que posteriormente podem ser aplicados para outros fins, para melhoria da mobilidade. Naturalmente o GPS identifica a rota, que é conectada com a ambulância versus os faróis que a ambulância vai passar”, completou o professor.
Benefícios esperados
Os testes realizados em Campinas mostraram resultados promissores. Entre os principais benefícios da tecnologia, destacam-se:
– Redução de até 30% no tempo de deslocamento de ambulâncias e outros veículos de emergência;
– Melhor aproveitamento da infraestrutura urbana, reduzindo congestionamentos e melhorando a fluidez do tráfego;
– Maior sustentabilidade ao diminuir o tempo de veículos parados nos semáforos, reduzindo a emissão de poluentes;
– Possibilidade de expansão para outras cidades, uma vez que a solução pode ser adaptada para diferentes contextos urbanos.
Expansão
Campinas serviu como cidade-piloto, mas a ideia é que a tecnologia possa ser replicada em outras regiões do País.
Gabriel Gomes de Oliveira detalhou que a pesquisa foi pensada também para ser aplicada em outros municípios, especialmente aqueles de pequeno e médio porte, especialmente onde há governos interessados em buscar melhorias para a mobilidade urbana, mas com poucas condições financeiras.
“A gente desenvolveu um sistema através de uma uma plataforma totalmente open source. Ou seja, qualquer profissional pode desenvolver. E além disso, a gente pensou também na questão de dados que estavam sendo vinculados”, detalhou o pesquisador.
O projeto poderia, por exemplo, ser aplicada numa metrópole como o Recife, que tem índices ruins de trânsito.
“A proposta da pesquisa é essa. A gente entendeu o ecossistema brasileiro e vamos avançando nesse aspecto com o intuito de melhorá-lo. A gente tem, sim, interesse em levar para o Nordeste, para todo o canto do Brasil, àqueles municípios que desejam, até porque o custo da proposta é muito baixo, já pensando nos pequenos municípios. Ou seja, a gente não queria trazer uma proposta ousada que muitos prefeitos não tivessem condições de agir”, ponderou Gabriel Gomes de Oliveira.
O membro do IEEE também elencou que o projeto não fica restrito a ambulâncias, mas pode também ser expandido para outros veículos de emergência, como viaturas policiais e caminhões de bombeiros, por exemplo.
“A intenção da proposta é não ficar só aqui nesse aspecto de trabalhar com ambulâncias, mas entender o ecossistema da cidade, ou seja, coletar dados e eventualmente criar planos estratégicos de mobilidade na urbanização da cidade, mais específicos que atendam melhor a cidade. Através desses faróis inteligentes, talvez a gente entenda que uma determinada região do Recife, por exemplo, tem um percurso melhor para uma ambulânci. A gente cria planos com estratégias de minimizar o impacto”, completou o pesquisador.
Por Fabio Nóbrega/ Folha de Pernambuco
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