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Com fantasias prontas, Bola Preta de Sobradinho tem prejuízo de R$ 250 mil
Sem repasse de verba pública para o carnaval 2015 do Distrito Federal, a direção da escola de samba Bola Preta de Sobradinho afirma ter tido prejuízo de R$ 250 mil com o cancelamento dos desfiles na capital federal. No início de janeiro, o GDF anunciou que não teria dinheiro para repassar às escolas de samba e blocos tradicionais e que também não haveria recursos para a estrutura e os profissionais dariam suporte aos blocos de rua.
Com a decisão, as escolas de samba não conseguiram se manter apenas com o apoio de parceiros privados e verbas próprias e decidiram cancelar os desfiles. O diretor-executivo do Bola Preta de Sobradinho, Cristian Alves, afirmou que o carnaval no DF é todo feito em cima do repasse pelo governo.
“Se o governo não repassa, não tem carnaval”, disse. “O repasse é utilizado para tudo, para comprar o material, pagar mão de obra, transporte. Esse repasse é feito sempre em três parcelas, sendo duas entregues antes da festa.”
Alves afirmou que só de material para a fantasia, a escola gastou cerca de R$ 150 mil. “As fantasias já estavam 90% prontas, só faltavam os aramários. Nós íamos sair com 11 alas e só faltavam 3 para fechar tudo das fantasias”, explicou. “Esses R$ 250 mil de prejuízo inclui todo o material comprado no Rio de Janeiro para as fantasias e carros alegóricos, mão de obra paga para as fantasias, passagem aérea do carnavalesco, alimentação, entre outras despesas.”
De acordo com Alves, os carnavalescos e integrantes da escola estão “decepcionados”. “A gente fica muito triste porque tudo o que acontece quanto tem que cortar verba corta da cultura, e isso é a vida toda assim”, disse. “Talvez a melhor decisão não seja essa, [a população] precisa de saúde, de educação, mas também precisa de cultura. É muito triste ver as pessoas que estão há 30 anos na escola ficar sem carnaval. Estamos decepcionados e frustados.”
O Grêmio Recreativo e Escola de Samba Bola Preta de Sobradinho foi fundado em 9 de abril de 1974 por um grupo de militares que foram transferidos do Rio de Janeiro para a nova capital federal. Desde 1988, a escola faz parte do grupo especial do carnaval do Distrito Federal, quando foi campeã pela única vez. Até 2014, a escola alcançou o 2º lugar por três vezes e no último ano ficou em 3º lugar.
O enredo previsto para 2015 iria homenagear Planaltina, região administrativa do Distrito Federal, e estava por conta do carnavalesco carioca Leonardo Soares. O desfile iria explorar pontos turísticos como o Vale do Amanhecer, a pedra fundamental, a festa do Divino e a Via Sacra.
Soares considera que, com o cancelamento do desfile, o projeto da escola foi “violentado”. “É um projeto quase que jogado fora, mesmo que a gente use no ano que vem, todo o processo de desenvolvimento muda”, afirmou. “Muita gente teve acesso ao material e daqui um ano não será mais inédito, não vai surpreender. É uma violência contra o artista, contra a escola de samba.”
O carnavalesco contou que esteve muitas vezes no Distrito Federal para acompanhar o desenvolvimento do desfile. “É como se fosse um filho. No início fui conhecer Planaltina, os pontos históricos, turísticos e depois terminamos o enredo e o figurino”, disse. ” O maior pagamento que a gente recebe é o desfile, então agora fica meio que um vazio.”
Ele acredita que os governadores deveriam se preocupar mais com a cultura. “O carnaval é uma festa grande e eles não se importam com isso. A gente trabalha o ano inteiro e o governo só libera a verba em cima da hora”, disse. “O carnaval gera emprego o ano inteiro, tem gente que vive disso.”
De acordo com Alves, a primeira parcela do repasse do Executivo estava prevista para sair em outubro do ano passado, mas quando chegou no mês do recebimento, começaram os boatos de que o dinheiro não seria liberado.
“A gente continuou trabalhando porque sempre foi assim. Todo ano a primeira parcela atrasa, mas sai”, disse o diretor-executivo. “Quando vimos que em novembro não saiu e nem dezembro, resolvemos parar porque estávamos bem adiantados. Quando eles anunciaram o cancelamento, a gente ia começar a fazer os carros alegóricos, que sempre são feitos por último.”
Segundo ele, a primeira decisão da agremiação após o anúncio foi chamar os fornecedores, os integrantes e aderecistas da escola para comunicar que não ia ter carnaval. “A gente pagou o pessoal do próprio bolso da diretoria da escola”, disse. “Agora não temos onde guardar as coisas. As fantasias são grandes, tem aluguel de balcão, são só gastos.”
A assistente Veruska Pereira, de 31 anos, está há 18 anos na escola Bola Preta de Sobradinho. Ela começou como passista, foi madrinha, musa, destaque e sairia no carnaval deste ano como rainha de bateria, pela quarta vez. Ela afirmou que ficou com o “coração partido” quando soube que não haveria a festa.
“Eu me emociono só de falar porque a gente treina, faz cursos para trazer novidades na avenida e o primeiro momento foi só de choro, não tinha o que falar e nem o que fazer, porque não dependia da gente”, disse. “Para mim, o carnaval desse ano perdeu um pouco o sentido.”
Apesar de estar “arrasada”, Veruska considera que com mais um ano de preparo, a escola vai trazer um grande desfile para 2016. “Agora vamos preparar dois anos para um. Vou pegar tudo o que me preparei e levar para o ano que vem. Com certeza o carnaval 2016 será um espetáculo maior.”
Alves afirmou que a escola vai tentar reaproveitar o que foi feito para o ano que vem, mas ele acredita que as fantasias vão ficar desgastadas e que o grupo será prejudicado no concurso. “Com o tempo as fantasias se desgastam. Quem se antecipou para fazer um carnaval bonito neste ano ficou prejudicado para o desfile do ano que vem. As fantasias eram todas novas, com cores vivas. Se a gente utilizar para 2016, com certeza a qualidade vai cair muito. É uma tristeza.”
Como forma de protesto pelo cancelamento, o diretor-executivo contou que a agremiação decidiu não participar dos bloquinhos de rua com o nome da escola. “Os blocos de rua fizeram um convite para a gente ajudar. Vamos ajudar, mas sem usar o nome da escola”, afirmou. “É uma forma de protestar, vamos parar tudo e esperar como vai ser no ano que vem.”
Fonte: G1
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