Economia
Com nova fábrica, Dengo escala apoio a produtores de cacau da BA e caminha para o lucro

Fundada com a missão de integrar impacto social e ambiental com alta qualidade, a marca de chocolates Dengo está crescendo e prestes a alcançar um novo nível. A empresa está investindo R$ 100 milhões em uma segunda unidade de produção em Itapecerica da Serra (SP) e pretende multiplicar por cinco o número de lojas a partir de 2026. Essa expansão mantém os valores alinhados à agenda climática, ganhando destaque entre consumidores, empresários e autoridades, especialmente durante o ano em que o Brasil sediou a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).
Curiosamente, a Dengo foi criada com a visão de que o mercado não precisa de mais marcas de chocolate, a menos que elas promovam um impacto positivo para produtores, o planeta e consumidores. “Ou se criava um negócio com um modelo socioambiental que beneficiasse produtores, o meio ambiente e consumidores, entregando um produto de altíssima qualidade, ou não faria sentido”, explica a diretora de marketing da empresa, Renata Lamarco.
A fábrica atual está localizada em Santo Amaro, São Paulo, e atende 54 unidades: 52 no Brasil e 2 em Paris, França. Com a nova fábrica, a Dengo projeta a abertura de 250 lojas até 2030. A empresa não divulga informações sobre faturamento, mas reforça que seu modelo socioambiental não significa abrir mão do crescimento e lucro, esperando alcançar resultados positivos ainda neste ano, enquanto investe na nova unidade.
“Sustentabilidade começa com estabilidade financeira, mas sabemos que existe um período de investimento até alcançar lucratividade”, comenta Lamarco. Para a Dengo, esse período não foi curto, mas não atribuem a demora ao modelo de negócios.
Lamarco relata que, fundada em 2017, a empresa teve seu ponto de equilíbrio adiado por dois fatores: a pandemia, que fechou lojas, e a alta do preço do cacau, que subiu de US$ 2.500 para até US$ 10.500 por tonelada.
Transformação
Apesar do aumento nos custos, a Dengo paga um prêmio acima do mercado a seus fornecedores, mantendo seus princípios. “A marca nasceu com o propósito de transformar a vida dos pequenos e médios produtores do Sul da Bahia. Os fundadores, Guilherme Leal e Estevam Sartoreli, notaram que nos anos 2000 a região enfrentou grande pobreza após a vassoura de bruxa devastar plantações. Eles viram a importância de reconstruir a produção de cacau de alta qualidade para restaurar a renda local”, explica Lamarco. Inicialmente, a Dengo pagava até 120% acima do preço do cacau commodity a seus produtores.
Atualmente, cerca de 200 famílias da Bahia e da Amazônia cultivam cacau para a Dengo, utilizando o sistema sustentável cabruca, que evita desmatamento ao preservar a mata atlântica e sua biodiversidade. Essas famílias recebem suporte técnico da empresa e do Centro de Inovação do Cacau (CIC), laboratório da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus. Este ano, irão fornecer 500 toneladas de cacau.
Como as plantações ficam dentro da floresta, esses agricultores também fornecem outros ingredientes usados nos chocolates da Dengo, como castanhas e frutas nativas. Lamarco destaca que ao unir esses insumos, é possível aumentar a renda dos produtores, criando sabores únicos brasileiros, como cupuaçu com castanha e cacau 70%, além de limão com tapioca.
O crescimento da produção, com a inauguração da segunda fábrica, não vai alterar essa abordagem. “Atualmente, nosso maior desafio não é a qualidade, mas a capacidade da fábrica, que opera a 100%. Temos mais de 200 famílias, mas só na Bahia existem mais de 5 mil com potencial para fornecer cacau de qualidade”, esclarece Lamarco.
A determinação de ser uma marca focada em impacto social e sustentabilidade se estende além da produção do cacau. A Dengo realiza ações para compensar emissões de carbono, comprometendo-se voluntariamente com as metas de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil — os planos climáticos apresentados à ONU.
Além disso, a empresa utiliza cerca de 7% de plástico em suas embalagens, mas persegue a meta de eliminar completamente o plástico. Recentemente lançou, após dois anos de pesquisa, a primeira trufa do mundo em embalagem 100% de papel, sem uso de plástico. “Testamos mais de 20 protótipos para chegar a essa embalagem de papel. Não patenteamos para que outras empresas possam usar esse material”, explica Lamarco.
Parte das embalagens da Dengo também incorpora a chita, um tecido colorido e acessível tradicional do folclore brasileiro, incentivando o consumidor a reutilizar os materiais, por exemplo, em almofadas ou jogos americanos.

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