Notícias Recentes
Começa julgamento de acusado de tentar matar juíza e vigia em fórum de SP
Alfredo Santos mandou filmar próprio crime em 2016. Preso, acusado de tentar queimar Tatiane Lima e Crispiniano Almeida no Butantã começou a ser julgado na manhã desta segunda-feira (3).
o homem que ficou conhecido por invadir o Fórum do Butantã, na Zona Oeste de São Paulo, com um galão de gasolina e um isqueiro e ameaçar queimar uma juíza e um vigia que trabalham no local deve começou a ser julgado na manhã desta segunda-feira (3). O caso se tornou emblemático após imagens de parte do crime, ocorrido no dia 30 de março de 2016, vazarem em vídeos nas redes sociais.
Preso em flagrante por policiais militares, o vendedor Alfredo José dos Santos, de 37 anos, foi levado à época à Penitenciária de Tremembé, interior de São Paulo. Agora, ele está no banco dos réus do Fórum Criminal da Barra Funda, região oeste da capital. O julgamento começou por volta das 11h no plenário 10 e está sendo aberto à imprensa. O local foi reservado até a quinta-feira (6). Mas a expectativa é a de que o júri dure até terça-feira (7).
O réu responde pelas tentativas de homicídio contra a juíza Tatiane Moreira Lima, 38 anos, e o vigia Crispiniano Márcio Oliveira de Almeida. Neste mesmo processo, Alfredo ainda é acusado de manter a magistrada em cárcere privado. Ele havia invadido o local para protestar contra a decisão da Justiça de tirar a guarda de seu filho após sua ex-mulher acusá-lo de agressão.
Tatiane foi a primeira das nove pessoas programadas para serem ouvidas a falar.
A defesa dele nega a acusação de que seu cliente tenha tentado matar a juíza e o vigia. “Vou pedir a absolvição dele das duas tentativas de homicídio”, disse na sexta-feira (30) o advogado Marcello Primo Muccio. “Ele tem de responder somente pelo cárcere.” A defesa ainda conta com Damilton Lima de Oliveira Filho.
Como cometeu um crime doloso (intencional) contra a vida, Alfredo será julgado por sete pessoas. O júri popular, como é chamado, decidirá se ele é culpado ou inocente e ainda se o absolve ou o condena. Caberá ao juiz Adilson Paukoski Simoni, da 5ª Vara do Júri, aplicar a sentença de acordo com a decisão dos jurados.
Julgamento
Das nove pessoas para serem ouvidas pela Justiça estão duas vítimas, seis testemunhas (entre elas, a ex-mulher de Alfredo e os policiais militares que o prenderam) e o acusado. Após o interrogatório do réu, a acusação, feita pelo Ministério Público (MP), e a defesa, feita pelos advogados de Alfredo, passarão para a fase de debates. Em seguida, os jurados votam e o magistrado anuncia qual foi a escolha deles.
“Pedirei a condenação por todas as acusações até por conta da personalidade do Alfredo. Ele não só atentou contra as pessoas, mas também contra a própria Justiça”, afirmou na semana passada o promotor Rogério Leão Zagallo, representante do MP no caso. Se houver condenação, o acusado pode receber pena de até 20 anos de prisão. “Vou mostrar aos jurados o vestido da juíza que foi apreendido após ter sido molhado com gasolina.”
“Mantenho minha posição de perdoá-lo, como já disse anteriormente, mas entendo que tem de ser feita Justiça”, falou também na última semana à reportagem a juíza Tatiane, de 38 anos, que tem a expectativa de que o réu seja condenado. “Espero que isso de fato aconteça. O que quero é virar essa página.”
Se dizendo ansiosa, a magistrada comentou que ainda tem medo do agressor. “Na hora que sair a sentença vou ficar mais tranquila”, disse Tatiane, que deverá pedir a saída de Alfredo do plenário quando for chamada a depor.
O crime
Há pouco mais de um ano, Alfredo invadiu o Fórum do Butantã, com uma mochila, sem passar pela segurança. De acordo com a Promotoria, ao ser questionado por um vigilante, ele jogou um “artefato incendiário” na direção de Crispiniano. Armado, o vigia tentou atirar, mas não conseguiu.
O vendedor foi então à sala da juíza Tatiane, onde teria uma audiência com ela na Vara da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Naquela ocasião, ele era acusado de ter agredido a ex-esposa.
No gabinete da juíza, Alfredo arremessou no piso uma garrafa com líquido inflamável e derrubou Tatiane no chão. Depois, o vendedor derramou o produto nele e nela, ameaçando atear fogo nos dois com um isqueiro. Ele achava, equivocadamente, que a magistrada havia tirado a guarda do filho dele.
Por esse motivo, Alfredo obrigou Tatiane a gravar um vídeo com o celular dele, dizendo para o filho do invasor que o pai era inocente da agressão contra a ex. A magistrada falou que se não fizesse isso o vendedor a mataria. Ela ficou refém por meia hora.
“Eu achei que iria morrer mesmo porque, assim… meu olho até saltava. Eu fiquei muito sem ar… o momento inicial em que ele chegou. E depois quando ele quebrou o vidro de combustível e pegou o isqueiro, ele falava ‘eu vou te matar’, ‘eu vim aqui pra matar ou morrer’”
Juíza
Desde que voltou ao trabalho, em 4 de abril do ano passado, a juíza tem se dedicado a difundir dentro do fórum um programa de recuperação de homens que agridem mulheres.
“Foi um ato de desespero porque era um pai que acha que perdeu um filho, mas ele se confundiu”, falou Tatiane, em março, sobre o fato de o processo da perda da guarda da criança estar com outra juíza. “Eu sinto compaixão. Eu sinto compaixão no sentido de que ele se complicou demais.”
Quando o vendedor cometeu esse “ato de desespero”, nas palavras da própria juíza, ele tornou o caso conhecido. Além de ter filmado Tatiane sendo ameaçada de morte e ofendida, Alfredo obrigou os policiais que negociavam a rendição dele a gravarem a cena. Seu objetivo era de que as imagens chegassem ao filho que ele tem com a ex-companheira.
Os vídeos foram compartilhados com magistrados e acabaram vazando para a imprensa, que tomou conhecimento do caso. Eles ainda mostram o momento em que Alfredo é detido pelos agentes num momento de distração. Depois, os policiais libertam a juíza.
Antes da Justiça decidir levar Alfredo a julgamento, ele havia dito em seu interrogatório na fase de instrução, que portava isqueiro “só para assustar” e que não tinha “qualquer propósito homicida”, que pretendia apenas chamar a atenção da mídia, “da televisão”, com a intenção de “mostrar a verdade”. Para a investigação, o invasor do fórum só tinha um objetivo: planejava matar a juíza e se suicidar.
Você precisa estar logado para postar um comentário Login