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Como é negociar com Putin? Leia o que diz o ex-presidente da França

Em 2015, o então presidente da França, François Hollande, participou de uma reunião em Minsk, capital da Belarus, com o presidente russo Vladimir Putin e a então chanceler alemã Angela Merkel, com o objetivo de buscar a paz no conflito que já se desenhava no leste da Ucrânia. Durante este encontro, Hollande percebeu uma característica marcante do dirigente russo: sua inclinação para mentir de maneira profissional.
Em entrevista recente ao Financial Times, um jornal nipo-britânico, François Hollande relembrou essas negociações e enviou um alerta ao então presidente dos EUA, Donald Trump, sobre o que poderia ocorrer durante seu encontro com Putin marcado para 15 de julho – o primeiro cara a cara entre os líderes desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022.
Hollande explicou que Putin costuma relatar toda a história do conflito em longas narrativas, que podem durar horas caso não seja interrompido. De acordo com ele, o estilo russo de negociação é prolongar a reunião, mas sem avançar significativamente.
O ex-presidente francês destacou que muitos fatos são distorcidos quando contados por Putin. Ele aconselhou Trump a demonstrar domínio detalhado da situação local para evitar manipulações. Segundo Hollande, Putin mente consistentemente para favorecer a Rússia, incluindo negar vínculos com grupos separatistas pró-Rússia no leste ucraniano, apesar do apoio militar e financeiro evidente.
O objetivo principal de Putin em negociações, conforme avalia Hollande, é ganhar tempo. Esse padrão foi reforçado após os eventos que sucederam o encontro em Minsk, que culminaram no Acordo de Minsk, que visava pôr fim ao conflito entre os separatistas e o Exército ucraniano, mas não evitou a invasão russa anos depois.
Putin costuma oferecer uma esperança aparente no fim das reuniões — como mediações ou novas reuniões — para criar a impressão de mudança, disse o ex-presidente.
Uma diferença chave entre Putin e Trump reside em suas estratégias: enquanto Putin é paciente e mira o longo prazo, planejando manter seu poder por anos, Trump tem urgência em resolver conflitos rapidamente para cumprir promessas eleitorais.
Outros participantes das negociações também caracterizaram Putin como alguém de má-fé meticulosa. Por exemplo, ao rejeitar a ideia de monitoramento externo na fronteira Rússia-Ucrânia, apesar das próprias ações contrárias a essa afirmação. Quanto à reunião do Alasca, um assessor comentou que os russos não buscam fechar acordos, apenas desejam que os EUA reduzam o apoio à Ucrânia, o que corresponde à inclinação natural de Trump.
Contexto das reuniões em Minsk
Em 2014, a Rússia anexou a Crimeia, intensificando o conflito já existente com a Ucrânia, especialmente nas regiões de Donetsk e Luhansk. Para tentar conter a crise, representantes da Rússia, Ucrânia, OSCE e líderes separatistas assinaram em 2015 um acordo conhecido como Acordos de Minsk II, o qual propôs medidas militares e políticas para cessar hostilidades.
Entretanto, tais medidas não foram efetivamente implementadas e, em 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia, justificando a ação como proteção das populações russas étnicas no território ucraniano. A Rússia sempre negou participação direta no conflito e, assim, não se considerava obrigada a cumprir os termos do acordo de Minsk.

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