Centro-Oeste
Comunidade quilombola denuncia empresa canadense que quer explorar ouro no entorno

A empresa canadense Kinross Gold Corporation, por meio de sua filial Kinross Brasil Mineração S/A, tem sido alvo de queixas por parte de lideranças quilombolas de Paracatu (MG), local onde a empresa opera desde 2005. Recentemente, a Kinross tem buscado explorar o solo de Luziânia (GO), a cerca de 60 quilômetros do Distrito Federal, em uma tentativa de extração de ouro.
As lideranças da Comunidade Remanescente de Quilombo Machadinho, de Paracatu (MG), manifestaram presencialmente na Fundação Cultural Palmares no dia 6 de setembro, relatando os impactos negativos da atividade mineradora em seu território. Eles afirmam que foram desalojados sem qualquer compensação adequada, realojados em áreas onde enfrentam constantes explosões que causam danos às residências e problemas de saúde devido ao acúmulo de poeira.
O Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro (DPA), ligado à Fundação Palmares, comprometeu-se a visitar a região ainda em setembro para avaliar a situação, mas até o momento não houve confirmação sobre essa visita.
Nos últimos anos, a Kinross Brasil Mineração S/A aumentou significativamente seus pedidos de licenças para pesquisa junto à Agência Nacional de Mineração (ANM) para atuar em Luziânia. Entre 2019 e 2023, a média anual de solicitações oscilava entre sete e 12, mas em 2024 foram registrados 78 pedidos, sendo 67 da Kinross. Em 2025, de janeiro a setembro, a Kinross fez 20 solicitações, em um total de 29 para toda a agência.
Atuando em Paracatu, a mineradora se apresenta como uma das maiores produtoras de ouro do país, respondendo por cerca de 22% da produção nacional. Sua mina está prevista para funcionar até 2032, após um projeto de expansão que prolongou sua atividade por mais de 15 anos.
Segundo depoimentos locais, ainda existem garimpeiros em Luziânia que extraem ouro de maneira informal, enfrentando dificuldades para regularizar suas atividades. José de Carvalho, ex-garimpeiro com 71 anos, confirma que o ouro permanece na região, e que a venda do metal pode chegar a valores entre R$ 400 e R$ 500 por grama. A quantidade extraída varia de um a dois gramas por dia por garimpeiro.
Antônio João dos Reis, historiador de 93 anos muito respeitado em Luziânia, também acredita na existência de ouro no solo ao redor da Igreja do Rosário, porém estima que reste apenas uma fração da quantidade explorada nos séculos passados.
A história local é marcada por um passado doloroso, já que a cidade foi fundada em função da procura por ouro, e contou com o trabalho forçado de muitos escravizados, que deixaram um legado histórico e cultural importante, mas também uma história de opressão e sofrimento.
Em resposta às denúncias, a Kinross Brasil Mineração S/A ressaltou que realiza suas operações em conformidade com as leis brasileiras, destacando seu compromisso com a segurança, o respeito às comunidades e a transparência. A empresa afirmou que reconhece as ações civis públicas movidas pela comunidade quilombola, porém se manifestará oficialmente apenas através do canal judicial.

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