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Confusão e incerteza dominam intervenção dos EUA no conflito Rússia-Ucrânia

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Europeus concordam em gastar mais, discordam sobre envio de tropas e se sentem excluídos de negociações Trump-Putin, assim como a própria Ucrânia

A aparente disposição do presidente Donald Trump de decidir bilateralmente com a Rússia o destino da Ucrânia, e de abandonar os compromissos históricos dos Estados Unidos com a segurança europeia, provocou uma reunião de cúpula às pressas em Paris, entre governantes dos principais países europeus.

A reunião foi marcada por um consenso e uma divergência. Os integrantes da zona do euro concordaram sobre a necessidade de liberar os gastos com defesa das amarras impostas pelo arranjo monetário em relação ao déficit fiscal.

Por outro lado, a ideia de enviar tropas para assegurar o cumprimento de um eventual cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia teve a adesão do Reino Unido, Suécia e Dinamarca, enquanto foi rejeitada por Alemanha e Itália, que consideraram que não é o momento de discutir isso. A Polônia ofereceu apoio logístico.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, que enfrenta eleições no domingo, e a perspectiva de ser derrotado pela oposição da União Democrata-Cristã, considerou “impróprio” o momento para a discussão.

Mas há um sentimento generalizado de que a Europa terá de se defender frente à ameaça russa sem poder contar com os Estados Unidos, depois das últimas declarações de autoridades americanas.

Esse sentimento foi agravado pela reunião marcada para esta terça-feira em Riad entre representantes-chave de EUA e Rússia — sem a Europa e nem sequer a Ucrânia. A reunião é um preparativo para uma cúpula entre os presidentes dos dois países.

Na semana passada, em uma reunião em Bruxelas dos 50 países que apoiam a Ucrânia, o novo secretário da Defesa dos EUA, Pete Hegseth, alertou que a Europa precisa se preparar para um futuro sem tropas americanas no continente e descartou o envolvimento da Otan no processo de paz e nas garantias de um eventual cessar-fogo.

Em seguida, Trump ligou para o presidente russo Vladimir Putin para discutir um cessar-fogo, antes de falar com o ucraniano Volodymyr Zelensky.

O vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, disse na Conferência de Segurança de Munique que a ameaça não são a China e a Rússia, mas o suposto recuo da Europa em relação aos seus valores, referindo-se à regulação das redes sociais e, possivelmente, ao respeito à diversidade – ambos coerentes com os princípios liberais europeus e malvistos por conservadores como ele.

O enviado especial de Trump para a Ucrânia, o general Keith Kellogg, sugeriu no sábado que a Europa não deve ter assento nas negociações, mas garantiu que os interesses europeus seriam levados em conta. “O que não queremos é entrar em uma discussão em um grupo muito grande”, justificou, também em Munique.

Zelensky declarou a jornalistas que a Europa tem de participar de um processo de paz, e que a Ucrânia não aceitará o resultado de nenhuma negociação da qual o próprio país invadido esteja excluído.

O secretário de Estado americano, Marco Rubio, garantiu que “negociações reais” incluirão a Europa e a Ucrânia. Ele e o conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, reúnem-se nesta terça-feira em Riad com o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e o assessor de política externa do Kremlin, Yuri Ushakov.

As expectativas entre os dois países parecem desalinhadas.

A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Tammy Bruce, afirmou que o encontro servirá para avaliar se os russos estão realmente dispostos a negociar a paz e se esse primeiro passo é sequer possível. Já o Kremlin afirmou que as conversas se concentrarão na “restauração de todo o complexo das relações russo-americanas”.

O general Kellog não está na Arábia Saudita. Ele afirmou que visitará a Ucrânia por três dias a partir de quarta-feira. À pergunta sobre se os EUA dariam garantias de segurança para qualquer força de paz europeia, Kellogg respondeu: “Eu estive com o presidente Trump, e a política sempre foi: nenhuma opção está fora da mesa”.

A situação é caracteristicamente confusa, como costuma acontecer quando Trump se envolve em complexos temas da geopolítica.

 

Lourival Sant’Anna CNN

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