Segundo pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP), devido à falta de cultivadores e de conhecimento do público algumas dessas espécies estão em risco de extinção. Por outro lado, tem crescido o número de pessoas que procuram alimentos com alto teor de nutrientes.
“Hoje, o mercado para este tipo de superalimentos é o que mais cresce no mundo, principalmente o americano. Os pesquisadores de lá ficam assustados quando veem que temos uma grande biodiversidade de frutas e não as apresentamos ao mundo”, disse à BBC Brasil Severino Matias de Alencar, da Escola Superior de Agricultura da USP, um dos autores do estudo. “Queríamos trabalhar com frutas nativas e foi uma dificuldade encontrar onde elas estavam plantadas.”
A pesquisa
Apesar das dificuldades, Helton Josué Muniz, conhecido como o maior “frutólogo” do país, cultiva quase 1.400 espécies de frutas exóticas em sua fazendo em Campina do Monte Alegre, no interior de São Paulo. Ele foi um dos colecionadores de frutas raras que ajudaram a equipe de pesquisa a estudá-las.
Depois de analisarem folhas, sementes e frutos das cinco espécies, os pesquisadores descobriram que por causa das propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, que retardam a formação e a ação de radicais livres nas células, que causa envelhecimento e morte celular, elas podem ser consideradas funcionais para o organismo.
Propriedades funcionais
“Os alimentos funcionais são aqueles que, além da função nutritiva, podem ajudar a prevenir doenças crônicas, como problemas do coração, diabetes e câncer”, disse à BBC Brasil Pedro Rosalen, da Faculdade de Odontologia da Unicamp em Piracicaba.
Esse era o principal objetivo da pesquisa, que buscava encontrar novas frutas nativas com alto poder nutritivo e com respostas científicas e econômicas positivas, como o açaí. “Nosso alvo eram as propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias por que são grandes necessidades da indústria farmacêutica. No futuro, queremos isolar e identificar as moléculas ativas que fazem parte dessas frutas, que podem se tornar medicamentos importantes”, disse Rosalen.
“Descobrimos que as substâncias químicas presentes nas frutas impedem que uma quantidade exagerada de células de defesa cheguem ao local da inflamação, produzindo mais destruição do que defesa. Por conta disso, temos um processo mais controlado. Não é que o corpo se defende menos, mas se defende na medida certa.”
Com isso, o consumo das superfrutas pode ajudar nos processos inflamatórios, naturais do organismo, que causam doenças como diabetes, aterosclerose e Alzheimer, por exemplo.
As mais ricas
O araçá-piranga, amarelado e mais ácido, é uma das frutas ameaçadas de extinção e tem o maior potencial anti-inflamatório entre as outras frutas estudadas. “Ele reduziu a migração de células de defesa em 62%, um índice muito alto para uma fruta”, explicou Rosalen.
Já a grumixama e a cereja-do-rio-grande, parecidas com as frutas vermelhas silvestres que já conhecemos, são as que mais possuem antioxidantes. “Elas são como ‘berries’ [frutas vermelhas pequenas, como morango e mirtilo, em inglês] brasileiras. São fusões da cereja com a amora. Doces, mas com um teor de ácido ideal. São minhas preferidas”, disse Alencar.
A cor avermelhada da fruta é formada pelos próprios compostos de antocianinas, o que pode ser um dos sinais da presença das substâncias. “Pelo tipo de fruta já dá para saber se ela é boa ou não. Pela própria cor da fruta já dá para saber se ela tem antioxidante, se é boa para a saúde. A gente vai aprendendo com o tempo”, disse Muniz.
Novas pesquisas
“Poucas das frutas que consumimos hoje são nativas do Brasil: abacaxi, maracujá, caju e goiaba. A Mata Atlântica já está no limiar do seu equilíbrio ecológico. É urgente estudarmos as frutas deste e de outros biomas”, disse Alencar, justificando a importância dos novos estudos.
Agora, a equipe de pesquisa está em parceria com o sítio de Muniz e de outro cultivador para aumentar o número de produção das novas superfrutas. Enquanto isso, outras catorze espécies estão cotadas para a próxima fase de estudos. “Depois que apresentamos as pesquisas, várias pessoas já nos ligaram perguntando onde podem encontrar essas frutas para consumir. Elas ainda têm um mercado muito pequeno, a ciência tem que mostrar que elas têm um diferencial.”
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