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Coronavírus: medidas emergenciais castigam os agricultores do DF

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Medidas de combate ao coronavírus afetam diretamente os produtores familiares do DF, que precisam buscar alternativas para distribuir a colheita e manter a renda. GDF investe R$ 4,5 milhões em programas para compra de frutas e verduras

Administradora da cooperativa Cooper-Horti, Márcia Aparecida lamenta o momento: ”Com esse pesadelo, as nossas vendas ficaram paradas”
(foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

Plantar, colher e vender é a rotina seguida por cerca de 11,1 mil produtores rurais que vivem no Distrito Federal, segundo números da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater). Em um espaço de aproximadamente 345 mil hectares de área agricultável, são produzidas frutas, verduras e grãos que abastecem feiras, mercados, restaurantes e escolas. No entanto, com as medidas emergenciais de combate ao coronavírus, os agricultores familiares estão passando por dificuldade para escoar a produção e enfrentam prejuízos financeiros.

Um dos maiores impactos é causado pela suspensão das aulas. Segundo o secretário de Agricultura, Luciano Mendes, cerca de mil produtores destinavam as colheitas à merenda, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). No ano passado, o governo empenhou R$ 18 milhões em contratos firmados com 16 associações e cooperativas, com vigência até 29 de março.
Contudo, a Secretaria de Educação explicou, em nota oficial, que após a decisão do governador Ibaneis Rocha de manter as escolas fechadas, os contratos tiveram vigência encerrada, sem prorrogação. Segundo o órgão, será feita nova chamada pública quando as aulas presenciais puderem ser retomadas. “O edital, no entanto, está temporariamente suspenso para adequações ao teletrabalho, conforme as instruções sanitárias e administrativas vigentes devido à Covid-19.”
Para quem dependia exclusivamente da venda para a merenda, o momento causa aflição. É o caso de Márcia Aparecida de Souza, 31 anos, administradora da cooperativa Cooper-Horti, que reúne 37 produtores na área rural do Paranoá. Todos plantam hortaliças e frutas. “Com esse pesadelo do coronavírus, as nossas vendas ficaram paradas. Estamos aguardando novos editais para ver o que acontece”, lamenta.
Mesmo assim, os produtores continuam plantando, mas com receio de não ter o que colher quando a crise acabar. “O Pnae é muito importante para nós. A expectativa é de que, quando passar toda essa confusão, a gente volte a fazer as entregas nas escolas”. Os cooperados vendiam para 34 colégios da região do Paranoá. “A saída vai ser apelar para o mercado privado, apesar de ser um nicho difícil de se trabalhar. Mas não dá para ficar parado. As pessoas precisam comer. Temos de encontrar novas formas de vender.”
De acordo com o secretário de Agricultura, ainda é cedo para calcular o prejuízo do setor, mas os mais afetados são os pequenos agricultores. A pasta desenvolve um novo edital do Pnae com investimento de R$ 20,3 milhões, que deve ser lançado após o fim da quarentena. Ele explica que, como muitos produtores podem participar, a renda é mais bem distribuída. “Se, no passado, comprávamos de uma única instituição, agora, compramos de muitas. Outra vantagem é entregar produtos frescos e de qualidade aos estudantes.”

Escoamento

Para ajudar a escoar a produção agrícola, o Governo do Distrito Federal (GDF) destinou R$ 2 milhões para a compra de frutas e verduras pelo Programa de Aquisição da Produção da Agricultura (Papa). Além disso, reabriu as inscrições para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), com verba de R$ 1,5 milhão do Ministério da Cidadania, com mais R$ 1 milhão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A expectativa é de atender entre 300 e 600 agricultores familiares.
As compras se dão a partir do pedido feito pelas Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa) e são passadas ao banco de alimentos, que entrega as cestas a 120 entidades sócio-assistenciais, como creches e abrigos de idosos. Quem se organizou e está participando, elogia. Ivan Engler, 42 anos, presidente da Coopermista, afirma que, graças à iniciativa, aumentou a produção.
Ele coordena 84 produtores de hortifruti na região de Planaltina, muitos dos quais vendiam para as merendas escolares de 64 centros de ensino da cidade. A demanda usada nas cestas verdes, entregues em instituições, aumentou de 12 para 44 toneladas. “Nosso edital começou a ser executado em outubro e, com o novo contrato em mãos, isso vai ajudar a escoar o que plantamos”, destaca. “O impacto inicial da crise foi muito grande, principalmente porque fecharam as feiras.”
Ele avalia o momento como uma montanha-russa. “Nossas culturas precisam ser colhidas todo dia, não podemos armazenar. Se encalha tudo, isso repercute. Continuamos plantando, porque, se daqui a três meses não tiver o que colher, será pior”, pondera Ivan, que planta repolho, abóbora, maracujá e poncã. “Estamos vivendo outra realidade. Quando começou a crise de coronavírus, eu nem dormia.
Agricultor em Brazlândia, Willian Okahara, 38 anos, também está preocupado. Ele e o pai plantam alface e já observam queda nas vendas. “Para a Semana Santa, eu planejava colher 200 caixas, mas agora não sei o que fazer. Normalmente vendo uma caixa por R$ 20, mas nesta semana, cheguei a vender por R$ 5”, lamenta. Ele calcula que já tenha tido prejuízo de R$ 2 mil.

Alternativas

De olho nas vendas da Páscoa, muitos agricultores se preparavam com otimismo. Agora, no entanto, sobram incertezas. Agricultora há 30 anos, Helena Ueno, 58 anos, precisou buscar soluções criativas para não perder o que planta na chácara no Riacho Fundo. Alface, acelga, almeirão, alecrim, arruda, couve, banana, limão e, principalmente, mandioca, passaram a ser entregues nas casas dos clientes por um serviço de delivery. A ideia partiu dos filhos dela e está dando certo. Por dia, chegam 200 encomendas, e a família consegue fazer, em média, 20 entregas.
Por uma questão de logística, eles atendem aos moradores de Taguatinga, Águas Claras, Samambaia e Guará. Mesmo assim, as vendas diminuíram muito, quando comparadas à rotina da banca, que funciona na Feira do Guará. “Em quatro dias eu vendia 500 kg de mandioca. Agora é bem menos. Já perdi muita produção e os pedidos que chegam não são o bastante para cobrir os custos com empregados e adubo.” Ela avalia que, caso a crise não passe logo, provavelmente terá de dispensar funcionários. “Precisei reduzir a plantação, e sei que não sou a única. Se as coisas não melhorarem, vai faltar mercadoria no mercado e os preços vão subir”, prevê.

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