Correios buscam alternativa para juros altos e garantias em empréstimo

Enfrentando uma crise financeira inédita, os Correios enfrentam dificuldades para obter um empréstimo de R$ 20 bilhões com garantia da União, fundamental para equilibrar as finanças em 2025 e 2026. Técnicos econômicos e bancos participantes destacam desafios como as elevadas taxas de juros cobradas pelos bancos privados e a exigência de garantias por parte da estatal.

A empresa acumulou um prejuízo de R$ 4,3 bilhões em 2025, com o segundo trimestre registrando uma perda de R$ 2,6 bilhões, quase cinco vezes maior que o mesmo período do ano anterior, quando o déficit foi de R$ 553,1 milhões. A estatal não comentou a situação.

Para reverter esse quadro, os Correios planejam um socorro financeiro via empréstimo de R$ 20 bilhões, ideia que surgiu após a posse de Emmanoel Rondon como presidente da companhia. As negociações envolvem BTG Pactual, Citibank, ABC Brasil, Caixa e Banco do Brasil. Uma das estratégias é dividir o empréstimo entre essas instituições, que exigem uma taxa média de 136% do CDI para liberar os recursos. Os bancos não se pronunciaram.

Devido à situação delicada, a estatal necessita da garantia da União para viabilizar o crédito. Técnicos do Tesouro afirmam que tal garantia só seria possível com uma avaliação positiva da capacidade financeira dos Correios, algo que enfrenta obstáculos pela dificuldade da empresa em cobrir despesas operacionais. Há dúvidas quanto à capacidade da empresa pública de implementar um plano eficiente de reestruturação para reduzir custos e aumentar eficiência.

A equipe do Ministério da Fazenda destaca a necessidade de apresentar estimativas concretas para o plano de recuperação. Durante as negociações, surgiu um pedido para obter prévia aprovação do Tribunal de Contas da União (TCU), que, embora não formalizado, é visto com ceticismo pelos ministros, dada a história financeira da estatal.

Também estão em andamento no TCU duas representações contra o empréstimo, apresentadas pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e pelo procurador do tribunal Marinus Marsico. Esses pedidos devem ser incorporados a uma auditoria avançada sob a responsabilidade do ministro Jorge Oliveira.

Situação financeira se complica

Enquanto o novo empréstimo não é aprovado, a situação dos Correios piora. Devido a descumprimento contratual relacionado ao estoque de precatórios, a empresa teve que renegociar, em condições desfavoráveis, um empréstimo de R$ 1,8 bilhão com BTG, Citibank e ABC Brasil. Um aditivo prevê uma taxa extra de R$ 40,5 milhões, paga em duas parcelas, sendo que os bancos podem reter esses valores a partir de 15 de novembro.

O aditivo também antecipa a amortização do principal da dívida de junho de 2026 para janeiro. Atualmente, a estatal paga apenas os juros, que aumentaram de CDI + 3% para um adicional progressivo, alcançando +5% em novembro, até assegurar novo aporte ou empréstimo com garantia do Tesouro.

Plano de reestruturação

Fontes próximas às negociações indicam que o plano de recuperação inclui o fechamento de cerca de mil agências e unidades, além de um programa de desligamento voluntário (PDV). O PDV visa a adesão de 6.348 funcionários e a realocação de cerca de dez mil trabalhadores para áreas prioritárias, com metas de economia de R$ 830 milhões.

A administração dos Correios aposta na redução dos custos fixos da folha, que conta atualmente com cerca de 80 mil empregados, dos quais 77 mil atuam em operações concorrenciais e na garantia da entrega em 5.570 municípios brasileiros.

Segundo interlocutores do Ministério das Comunicações, várias versões do plano foram debatidas, mas a versão final ainda não foi divulgada.

Outra alternativa em estudo é a criação de um fundo imobiliário, idealizado pela Caixa, com base nos ativos dos Correios — mais de 2.300 imóveis avaliados em R$ 5,4 bilhões. No entanto, técnicos do banco afirmam que a demora no envio dos dados necessários está atrasando a estruturação deste fundo.