Cracolândia ainda está presente em São Paulo com usuários de vários bairros

Apesar do anúncio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) nesta semana sobre o fim da Cracolândia na região tradicional da Luz, no centro de São Paulo, a cidade ainda apresenta ao menos dois grandes pontos de consumo de crack próximos ao centro, além da presença constante de usuários que se deslocam da periferia até bairros de alto padrão.

O discurso sobre o encerramento da Cracolândia é um dos principais trunfos eleitorais de Tarcísio, candidato potencial nas próximas eleições presidenciais, em um contexto de debates sobre segurança pública contra o governo federal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Muitos governadores tentaram, ao longo dos anos, eliminar essa área de uso aberto de crack, com pouco sucesso.

Em um vídeo divulgado recentemente, Tarcísio percorreu a Rua dos Protestantes, local onde havia grande concentração de dependentes químicos na região da Luz, e destacou um ambiente desabitado em comparação a antes. “Estamos conduzindo São Paulo na direção correta. Quando estamos no caminho certo, o impossível se torna realidade. A Cracolândia acabou”, declarou.

No entanto, a poucos minutos dali, grupos consideráveis de usuários estavam consumindo crack em frente ao Memorial da América Latina, na Barra Funda, e na favela do Moinho, no Campos Elíseos. Esses locais apresentam características semelhantes à Cracolândia original, como a venda de variados produtos, incluindo drogas, barracas improvisadas e uso aberto do crack.

Segundo Tarcísio, o cenário de venda extensa e território liberado para uso de drogas na região central não existe mais, mas a presença de usuários permanece em outras áreas.

O jornal Metrópoles visitou esses pontos na Barra Funda e nos Campos Elíseos e encontrou cerca de 100 pessoas consumindo a droga. A favela do Moinho foi parcialmente desocupada em ação estadual contra o tráfico ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Os moradores foram relocados, abrindo espaço para a presença de usuários, apesar da proximidade de uma base policial.

A prefeitura de São Paulo possui monitoramento por drones para ao menos 20 locais de uso de drogas no centro, embora áreas escondidas por árvores e viadutos não sejam cobertas pelas imagens aéreas.

A reportagem também notou usuários em diferentes pontos centrais da cidade, incluindo Estação Armênia, Avenida do Estado, Parque Dom Pedro, Sé, Anhangabaú e República. Muitos relataram terem sido expulsos de áreas tradicionais de consumo, passando a circular por todo o centro.

Um exemplo é Jefferson, 41 anos, usuário de crack há 25 anos, que levou a nossa equipe ao Viaduto Nove de Julho e descreveu que a repressão na Luz espalhou o consumo para diversos outros locais. Ele destacou que a Cracolândia não desapareceu, apenas se expandiu para diferentes regiões, tornando-se mais acessível nas periferias.

Com a dispersão dos usuários, eles também foram vistos em bairros de classe média e alta, como Pacaembu e Pinheiros, próximo ao Largo da Batata e na Faria Lima, onde o número desses grupos vem crescendo.

Essa mobilidade dificulta o atendimento dos usuários para tratamento, segundo profissionais da área, que enfrentam o desafio de alcançar pessoas que estão constantemente se deslocando pela cidade.

De acordo com um promotor e um membro do Conselho Municipal de Política de Drogas, a dispersão foi consequência das ações policiais que expulsaram os usuários de áreas públicas, levando-os a migrar para outras regiões onde a repressão seria menor.

O governo estadual informou que acompanha e monitora esses grupos com ações integradas entre segurança, saúde e assistência social, afirmando que o cenário de território livre para tráfico foi eliminado com a atuação conjunta.

A prefeitura também ressaltou seus esforços para acolher pessoas em situação de rua e combater o tráfico em diversas áreas, citando milhares de encaminhamentos para serviços e ações de abordagem focadas na assistência e saúde pública.