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Crise não dá trégua e Governo do DF fatia a saúde em sete áreas
Após 206 dias em estado de emergência, a população do Distrito Federal continua a enfrentar uma verdadeira via-crúcis à procura de atendimento nos 21 hospitais da rede pública. O Decreto de Estado de Emergência, em vigor desde 19 de janeiro, já prorrogado até dezembro, que facilita a compra de produtos e o remanejamento de recursos e servidores, não surtiu os efeitos desejados. O diagnóstico é feito por entidades de classe, especialistas, técnicos do Ministério da Saúde e pelo próprio secretário de Saúde, Fábio Gondim, que assumiu a pasta há 18 dias. Ciente disso, ele decidiu ratear a gestão a fim de agilizar o abastecimento dos hospitais e administrar melhor as escalas dos profissionais.
“Todo o rumo da secretaria mudou. Estamos construindo um novo modelo de gestão para que os resultados apareçam de forma objetiva, mas isso não é de um dia para o outro”, argumentou Gondim. Em decreto publicado hoje no Diário Oficial do DF, os 21 hospitais são divididos em sete regiões (centro-sul, centro-norte, oeste, sudoeste, norte, leste e sul). Cada uma delas terá um coordenador com autonomia para gerir compras e servidores. Segundo o secretário, é uma reestruturação do sistema, que vai permitir maior controle e mais agilidade. Os resultados, para ele, começarão a aparecer no fim do segundo semestre.
Por enquanto, o estado do sistema de saúde continua “precário”. Essa avaliação consta no Relatório da Cooperação Técnica entre o GDF e o Ministério da Saúde. Segundo documento, obtido pela reportagem, várias áreas continuam a enfrentar problemas (veja quadro). Descontrole de horas extras e ineficiência na prevenção de doenças como a dengue estão entre os itens citados.
Hoje, 68 medicamentos — entre padronizados e de alto custo — não existem nas prateleiras do GDF, mesmo com a licitação de 62,9% desses itens. Para controlar o uso dos 760 fármacos disponibilizados pelo governo, Gondim criará, a pedido do Ministério da Saúde, uma subsecretaria que vai monitorar a compra, o uso e o destino dos insumos. “Da forma como é hoje, pode haver desvios. Fizemos uma contagem e detectamos absurdos, por exemplo, a compra de 500 ampolas por mês de um medicamento que o uso real é de 20. Com esse novo sistema, vamos saber a necessidade da compra, para onde vai e se o paciente realmente tomou e por quanto tempo”, esclareceu.
Cenário pessimista
Para Gutemberg Fialho, presidente do Sindicato dos Médicos (Sindmédicos-DF), as medidas tomadas até hoje pelo governo, inclusive com o decreto, não foram nem são suficientes para sanar a crise. “Visitamos os hospitais e as estruturas são péssimas. Não é com um decreto de emergência que vamos revitalizar a saúde. Com o documento, foi possível remanejar dinheiro federal da atenção à saúde para pagar dívidas com fornecedores, mas isso não recuperou o crédito do governo com as empresas e isso não adianta em nada, ninguém quer trabalhar com o GDF”, critica o sindicalista.
Marli Rodrigues, presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde (SindSaúde-DF), é mais pessimista. A expectativa dela é que o setor seja reconfigurado apenas em 2016. “O governo precisa acabar com feudos, vícios e investigar máfias que atrapalham o andamento da saúde. Caso contrário, não mudará nada. As pessoas já não acreditam que vai mudar”, reclama. Longe de ser o único impasse a ser enfrentado pela saúde do DF, segundo a sindicalista, é preciso oferecer condições de trabalho. “Existem profissionais trabalhando no improviso para fazer funcionar. Em alguns deles, os profissionais fazem rifas para comprar insumos e consertar aparelhos”, denuncia, ao afirmar que é preciso acabar com os contratos emergenciais.
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