Brasil
Crise no IBGE: servidores da Ence fazem carta contra comunicados da presidência do instituto
Com 20 assinaturas de funcionários da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence), documento se defende de acusações de repasse de recursos para associações privadas e critica gestão Pochmann
A crise no IBGE ganhou novos contornos nesta segunda-feira, 27, quando 20 servidores da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) publicaram uma carta aberta criticando a gestão do presidente do instituto, Márcio Pochmann, e se posicionando contra a criação da Fundação IBGE+, proposta pela presidência.
Na carta, os servidores rebateram acusações feitas pela presidência de que a Ence teria repassado recursos de forma irregular a associações privadas e defenderam a diferença entre as atividades de pesquisa acadêmica realizadas pela escola e as pesquisas oficiais de estatísticas nacionais.
“Consideramos as acusações levantadas contra professores e pesquisadores ativos e inativos da Ence e, portanto, do IBGE, um ataque leviano à integridade e trajetória profissional dos servidores do instituto”, afirmaram os funcionários.
Eles também classificaram as acusações como uma “cortina de fumaça” para desviar o foco das discussões sobre os riscos associados à Fundação IBGE+, criticada por impactar negativamente a qualidade das pesquisas e do trabalho do instituto.
Resistência interna à Fundação IBGE+
A Fundação IBGE+, que busca atuar em um modelo público-privado, tem gerado resistência dentro do instituto. O sindicato Assibge e servidores de três grandes diretorias (Pesquisas Econômicas, Geociências e Tecnologia da Informação) têm expressado preocupação com a falta de diálogo e o potencial impacto sobre a independência e a qualidade das estatísticas produzidas.
Na semana passada, uma carta aberta assinada por 136 servidores, incluindo coordenadores e dois ex-diretores, acusou a gestão Pochmann de ter um viés “autoritário, político e midiático”.
Além disso, a saída de Elizabeth Hypolito e João Hallak Neto, diretora e diretor-adjunto de Pesquisas do IBGE, na semana passada, aumentou a pressão sobre a gestão. Ambos deixaram seus cargos alegando falta de interlocução com a presidência.
Em resposta, o IBGE divulgou comunicado negando a existência de uma crise e criticando os servidores contrários à fundação, afirmando que poderá recorrer à Justiça contra o que chamou de “desinformação e mentira”.
Márcio Pochmann viaja enquanto crise se agrava
Enquanto os servidores cobram diálogo, o presidente do IBGE, Márcio Pochmann, iniciou nesta segunda-feira uma viagem por cidades das cinco regiões do país para divulgar o plano de trabalho previsto para 2025.
A primeira parada foi em Belém, com próximas visitas programadas para Recife, nesta terça-feira, Brasília (DF), no dia 29, Vitória, no dia 30, e Porto Alegre, no dia 31.
Os servidores criticam a falta de transparência no plano de trabalho. “Não temos informações sobre essas diretrizes e nem fomos consultados”, dizem os funcionários em diferentes cartas e comunicados.
Impactos da crise na instituição
O descontentamento entre os servidores, somado à renúncia de lideranças importantes, levanta dúvidas sobre o futuro do IBGE. As principais preocupações incluem:
- Perda de independência e qualidade das estatísticas nacionais com a criação da Fundação IBGE+;
- Falta de diálogo e interlocução entre a presidência e os profissionais do instituto;
- Riscos de politização e enfraquecimento do órgão, considerado essencial para a produção de dados confiáveis no Brasil.
A crise no IBGE acontece em um momento crucial, com impactos diretos para políticas públicas e tomadas de decisão que dependem das estatísticas produzidas pelo instituto.
Agência o Globo
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