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Data para o fim do racionamento no DF deve ser anunciada na semana que vem
Reunião entre representantes da Adasa e do Executivo local deve definir uma data para acabar com os cortes agendados de água. Presidente da Caesb afirma que a decisão será técnica
O Distrito Federal está perto de vencer a crise hídrica. Com a Barragem do Descoberto, principal reservatório da capital federal, beirando o nível de 90% da capacidade e as obras de Corumbá IV dentro dos prazos, o anúncio da data para o fim do racionamento deve ocorrer no próximo mês, segundo o governador Rodrigo Rollemberg. O impacto dos mais de 15 meses do rodízio foi a diminuição em 12% no consumo. Apesar disso, a economia colocou a Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) no vermelho. Como a empresa é independente do governo, ou seja, trabalha com recursos próprios, a diminuição na venda de água fez com que o faturamento anual caísse em R$ 110 milhões no ano passado.
O presidente da Caesb, Maurício Luduvice, mostrou-se cauteloso ao comentar sobre o possível fim do racionamento, que segue sem uma data definida. “Estamos trabalhando para encerrá-lo (o racionamento) ainda neste ano”, disse. Luduvice admitiu que a companhia sente a pressão da população para encerrar a medida, mas explica que a decisão será técnica. “Não podemos nos basear nos otimistas nem nos pessimistas. Em novembro (quando o Descoberto chegou a 5,5%, o menor volume da história), a pressão era para aumentar o racionamento para dois dias, o que não fizemos”, disse (leia entrevista abaixo).
Na próxima semana, representantes da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) reúnem-se com integrantes do comitê governamental de combate à crise hídrica. No encontro, será apresentado o atual cenário hídrico do DF e definido os próximos passos, inclusive uma data para o fim do rodízio.
Para o professor Sérgio Koide, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), não deve haver pressa para decretar o término dos cortes de água. O especialista relembra que, em 2016, o Descoberto chegou a marcar 100%, mas, após a seca daquele ano, beirou os 20%, dando início à crise hídrica. “Acredito que é preciso cautela, porque de nada adiantaria encerrar o rodízio hoje para, no meio da seca, a situação se complicar, e voltarmos ao racionamento”, alertou.
Um dos responsáveis pelo aumento do nível dos reservatórios é a interligação dos sistemas. Antes da crise, em 2016, eram retirados, em média, 4.774 litros de água por segundo do Descoberto e 1.228 de Santa Maria. Hoje, os números caíram para 3.210 l/s e 40 l/s, respectivamente. Isso foi possível porque as captações do Bananal, Lago Norte e Torto passaram a ser mais utilizadas. “É importante lembrar que, à época da seca, a outorga de captação do Bananal é apenas a metade dos 700 l/s de agora, enquanto no Torto a situação é semelhante, porque o nível das águas cai rápido. Ou seja, em breve, vamos voltar a utilizar mais o Descoberto e o Santa Maria, que podem começar a baixar rapidamente”, explicou Koide.
Impacto econômico
No ano passado, a receita da Caesb fechou 5% menor do que em 2016. Os impactos dessa queda se tornaram visíveis nesta semana. Na última terça-feira, os servidores da companhia paralisaram as atividades por 24 horas. A direção não chegou a um acordo com o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos do Distrito Federal (Sindágua-DF), que está insatisfeito com a negociação da data-base deste ano. A categoria, que reclama de falta de reajuste desde 2016, reivindica acréscimo salarial de 5,61%. A empresa oferece 1,25%.
Outro pedido do Sindágua é pelo fim do racionamento. “Temos uma sobrecarga de trabalho, fazemos muito mais coisas do que anteriormente. Na última assembleia, aprovamos uma campanha para acabar com o rodízio, porque acreditamos que a população criou um costume de consumo e que o Descoberto está em um nível alto. O racionamento é ruim para a empresa, gera custos”, disse o diretor de Comunicação do Sindágua-DF, Igor Pontes.
Para sanar a crise, a Caesb pediu uma revisão extraordinária no valor da tarifa de água e esgoto: 9,69% a mais na conta do brasiliense. A Adasa, que decide de quanto será o aumento, sugeriu que a revisão fosse de 2,06%. Anualmente, a partir de 1º de junho, entra em vigor o aumento referente ao reajuste tarifário, que faz parte do Contrato de Concessão, para adequar o valor da conta aos índices inflacionários. Neste ano, a expectativa é de que seja de 0,51%.
Além disso, a cada quatro anos, é feita uma revisão tarifária. A última havia ocorrido em 2016, mas, neste ano, a Caesb fez um pedido extraordinário alegando que, devido à crise hídrica, teve queda no faturamento e no aumento no trabalho. A decisão de quanto será o reajuste na tarifa sairá publicada no Diário Oficial do Distrito Federal da próxima segunda-feira.
>> Entrevista Maurício Luduvice, presidente da Caesb
O reservatório do Descoberto está quase nos 90%, e o de Santa Maria acima dos 55%. Está perto do fim do racionamento?
Estamos em uma situação muito mais confortável do que há alguns meses. Diria que estamos nos aproximando do que poderíamos chamar de avaliação final do desempenho do racionamento. Trabalhamos para encerrar o corte neste ano, mas não faremos medidas bruscas. Pautamos as nossas decisões em termos técnicos. Não podemos ser levados pela emoção. A situação é melhor, vem chovendo mais, só que é importante deixar claro que é preciso que chova sobre as regiões do Descoberto e do Santa Maria.
Há uma data para o fim do racionamento em maio?
Não diria ao certo que em maio, mas, sim, quando as chuvas pararem, e tivermos os dados consolidados para enfrentar a seca.
No auge da crise hídrica, o Descoberto marcou 5,5% e até planos de ampliação do racionamento foram feitos. Desde então, os reservatórios sobem acima até das melhores metas traçadas pela Adasa. O que explica isso?
Três coisas. Trabalho duro, houve investimento forte da empresa e do governo para aumentar a produção de água no DF, com novas captações. Tivemos apoio da população, que se conscientizou e reduziu o consumo. E, claro, a chuva, que foi melhor do que no ano passado, mas ainda está abaixo da média.
As obras para captação de água do Lago Corumbá passaram por diversas paralisações na última década. O prazo atual, de ser entregue até dezembro deste ano, será cumprido?
Sim, estamos trabalhando para antecipar a entrega, mas o desafio é grande. Especialmente do lado da Saneago (Saneamento de Goiás), que, infelizmente, sofreu um atraso. Hoje, o problema não é a parte civil, mas a entrega e o condicionamento dos equipamentos eletromecânicos. Com Corumbá IV, teremos mais 2 mil litros de água por segundo no sistema, que inicialmente abastecerá Santa Maria e Gama, mas vai avançar, podendo chegar a Taguatinga e Ceilândia no futuro. Além, é claro, de abastecer o Entorno Sul.
Os funcionários da Caesb fizeram uma paralisação de 24 horas na última terça-feira. Como anda a negociação do reajuste salarial da categoria?
A data-base é agora em maio, e estamos no processo de negociação. Esperamos fazer o acordo o mais rápido possível, e estamos buscando que o sindicato entenda a dificuldade da empresa.
O racionamento trouxe prejuízos financeiros para a Caesb?
Na verdade, teve um reflexo no equilíbrio econômico e financeiro da companhia. A Caesb é uma empresa não dependente do governo, ela vive com os recursos da arrecadação. Mas, no último ano, não tínhamos água para ofertar, fomos obrigados a diminuir o volume distribuído e, com isso, o faturamento da empresa caiu.
Trata-se, então, de uma crise econômica?
Não. Apenas um momento ruim, mas estamos otimizando serviços.
Houve contratações na Caesb para suprir as demandas trazidas pelo racionamento?
Na verdade, não. Nós realocamos e treinamos o nosso pessoal, mas não é um trabalho só de apertar botão. Saímos com equipe todos os dias daqui, que cumprem um roteiro. Passam em um registro, fecham duas voltas. Depois, seguem o roteiro e voltam para esse mesmo primeiro registro para fechar mais três voltas. Não fechamos tudo de uma vez, é preciso ir aos poucos, pois o sistema é antigo, tem cerca de 40 anos, e não foi projetado para um racionamento.
A partir da crise hídrica, o governo ficou mais próximo da Caesb e passou a investir mais na companhia?
Eu diria que, desde o início do governo, foi mostrada preocupação com a água. Em 2015, nós levamos ao governador a necessidade de fazer investimentos para aumentar a produção de água do DF. E, desde ali, o apoio foi total. Em 2015, retomamos as obras de Corumbá e fechamos o projeto do Bananal, licitando a obra.
Agora que o DF está próximo de vencer a crise hídrica, que lição fica para o futuro?
A população mostrou capacidade de entender a real importância de se preservar os recursos hídricos. Enquanto nós, o governo e a empresa, aprendemos a trabalhar sob pressão. Acho que sairemos fortalecidos. Fizemos investimentos, colocamos água nova no sistema. E não termina com a inauguração do Corumbá IV. Estamos iniciando uma obra de captação da Eta do Gama. Temos ainda uma outorga para captar 2.800 litros por segundo do Lago Paranoá. Terminaremos esse ciclo com um sistema mais flexível e robusto.
Fonte: Correio Braziliense
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