Economia
Déficit com os EUA aumenta 341% após altas tarifas e afeta exportações brasileiras
As tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros causaram uma forte deterioração no comércio bilateral, pressionando a balança comercial do Brasil no período de agosto a outubro de 2025.
O déficit comercial com os EUA elevou-se a US$ 4,7 bilhões, mostrando um crescimento de 341%, equivalente a US$ 3,6 bilhões a mais em comparação ao mesmo período do ano anterior, quando o saldo negativo foi de aproximadamente US$ 1,1 bilhão, conforme dados do Monitor Macroeconômico da Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda.
A redução de 24,9% nas exportações brasileiras para os EUA justifica o aumento do déficit. Os produtos mais afetados pela tarifa de 50% — carne bovina, café, maquinaria, açúcar e madeira — tiveram quedas significativas nos valores exportados, variando entre 17,3% e 78,8%.
Embora parte do comércio tenha sido realocada para países como China e México, no caso da madeira, os EUA continuam sendo o principal destino, indicando que a diversificação dos mercados ainda não compensou as perdas completamente.
Entre os produtos com tarifa de 10%, o minério de ferro registrou a retração mais acentuada, de 83,3%, com a China assumindo a liderança como principal destino. O aço também sofreu queda expressiva de 60,2%, com os Estados Unidos caindo da segunda para a terceira posição entre os maiores compradores, perdendo lugar para a Argentina.
Uma exceção foi o alumínio, cujas exportações para os EUA cresceram 314,3% em volume, ampliando a presença brasileira neste segmento.
Apesar do impacto das tarifas, o relatório evidencia sinais de resiliência na pauta exportadora do Brasil. As vendas brasileiras aumentaram para a Ásia — em especial para China, Singapura e Índia — e para as Américas, com destaque para Argentina e México. A participação da China nas exportações totais expandiu-se de 25% para 29% no período.
Esse contexto tarifário ocorre em meio a uma desaceleração moderada da economia nacional. As estimativas do Ministério da Fazenda indicam crescimento de 2,2% do PIB em 2025, abaixo dos 3,4% registrados no ano anterior. A inflação medida pelo IPCA está projetada em 4,55%, enquanto a taxa de desemprego caiu para 5,6%, o menor índice em mais de uma década.
As contas externas permanecem pressionadas: o déficit em transações correntes está previsto em US$ 56 bilhões, em comparação com US$ 66,2 bilhões em 2024. A dívida bruta governamental deve alcançar 80,7% do PIB, um aumento em relação ao ano anterior. Ainda assim, o país mantém uma posição de liquidez confortável, com reservas internacionais de US$ 359 bilhões em 11 de novembro.
Nos fluxos financeiros, o investimento estrangeiro direto (IED) permaneceu robusto: US$ 63,2 bilhões entraram no Brasil entre janeiro e setembro, ultrapassando as expectativas para o ano. A origem dos investimentos, porém, mudou; a participação dos EUA diminuiu, ao passo que aumentaram os aportes vindos da Europa — principalmente Holanda, Luxemburgo, França, Alemanha e Reino Unido — e da China.
Mesmo com as tarifas elevadas e um cenário global incerto, o Brasil conseguiu mitigar parte dos impactos por meio da diversificação dos mercados e da entrada significativa de capitais produtivos. Especialistas interpretam esses fatores como indícios de que a economia brasileira mantém capacidade de adaptação e resiliência externa, características essenciais para enfrentar o atual período de tensões comerciais.

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