Centro-Oeste
Dengue: descarte irregular de lixo dificulta combate ao Aedes Aegypti
De quinta-feira (29/2) até este sábado (2/3), no Dia D, foram retiradas 910 toneladas de resíduos descartados na região do Sol Nascente. A vice-governadora, Celina Leão, faz apelo à população: “Precisamos mudar essa cultura, tem que ser de prevenção”
Na manhã deste sábado (2/3), mais de 60 profissionais da saúde atuaram no combate aos focos do mosquito da dengue e na conscientização de moradores do Sol Nascente, durante a oitava edição do Dia D de Combate à Dengue. Na capital federal, a mobilização nacional ocorre por meio do programa GDF Mais Perto do Cidadão. Foram realizadas visitas domiciliares para identificação de larvas do Aedes aegypti, orientações de prevenção, testes rápidos para a detecção da infecção e encaminhamento de pessoas que apresentassem sintomas da doença.
Nas proximidades do Restaurante Comunitário, onde ocorreram as ações de combate, as ruas estavam limpas, tanto que se viram muitos garis trabalhando na localidade. O Serviço de Limpeza Urbana (SLU) informou que retirou, de quinta-feira até ontem, 910 toneladas de resíduos descartados irregularmente nas regiões do Sol Nascente/Pôr do Sol e Ceilândia. A mesma equipe faz a limpeza das duas regiões simultaneamente, então não é possível separar a quantidade retirada de cada uma.
Em nota, o órgão explicou que as ações de remoção de resíduos irregulares acontecem constantemente na região. “Em algumas áreas do Sol Nascente, por causa do aumento de casos de dengue, a limpeza está sendo feita todos os dias. Neste sábado, foi realizado o dia D de combate à dengue na região, com a participação do SLU, assim como de outros órgãos do GDF. Só hoje, mais de 100 toneladas de resíduos foram retiradas do Sol Nascente. Em relação à coleta convencional de resíduos, 640 toneladas foram recolhidas na região de quinta-feira a sábado”.
O secretário adjunto de Governo, Valmir Lemos, reforçou: “Quando o lixo fica solto de qualquer maneira, ele pode virar um criadouro e, a partir daí, os focos do mosquito podem aumentar. Então, a gente pede que o descarte seja feito de forma adequada”, solicitou.
Em duplas, bombeiros do Grupamento de Proteção Civil, inspecionaram residências para orientar moradores e identificar focos do mosquito. Em uma casa, na quadra 12, os profissionais encontraram um espaço, logo na entrada, com pequenos acúmulos de lixo e alguns mosquitos. “É preciso retirar essa capinha de celular do chão para evitar possível acúmulo de água, certo?”, orientou uma agente. No quintal, mais uma instrução: “O tambor, quando vazio, deve ficar com a ‘boca’ para baixo, também para não facilitar a proliferação de larvas”.
Orientações
Ainda nesse local, o adolescente David Silva, de 13 anos, descansava sobre uma rede, visivelmente esmorecido. Está com dengue. “Fiquei bem mal, com os olhos vermelhos, muita dor e febre alta”, contou. Os sintomas começaram na última segunda e não estão mais tão intensos. “Não procuramos hospital, porque ele estava bem fraco, então, evitamos mais cansaço e cuidamos por aqui mesmo”, disse a mãe, Marineide Silva, 42. A dona de casa suspeita que outra filha também esteja com a doença.
Em outra residência, os bombeiros aplicaram pastilhas — que eliminam larvas do Aedes aegypti — em uma caixa d’água, cujo armazenamento se destina à limpeza do chão da casa. A orientação foi deixá-la sempre tampada. Ao verificar a calha, o sargento Medeiros, responsável pelo grupo, identificou folhas secas presas à estrutura. “Ainda que pequenas, elas também podem acumular água. Por isso, a importância de sempre manter o espaço limpo”, instruiu. A dona de casa Luciene Marques, 53, garantiu que tem feito a higienização correta do lar. “Por aqui, ninguém teve dengue”.
Já na quadra 105, agentes de Vigilância Ambiental em Saúde (AVAs) bateram no portão de várias casas solicitando a entrada para inspeção. Na residência do pedreiro Mateus Rodrigues, 19, os profissionais verificaram vasos de plantas, ralos e calha. Não havia problemas. A única observação foi referente à caixa d’água, que deve ser lavada antes do uso e tampada. Outra recomendação foi utilizar repelente frequentemente. “Por aqui, só uma pessoa teve dengue, mas já se recuperou”, contou o rapaz.
O secretário de Atenção Primária do Ministério da Saúde, Felipe Proenço de Oliveira, reforçou a necessidade do apoio da população. “Precisamos focar tanto na importância de prevenir e buscar os criadouros do mosquito quanto nessa importância de identificar e acompanhar a doença de forma adequada”, declarou. E fez o apelo: “Cada pessoa deve organizar 10 minutos na semana para verificar a casa”.
Ações rápidas
Ainda neste sábado (2/3), a vice-governadora garantiu que não há subnotificações de casos de dengue no DF, afirmando que o Laboratório Central de Saúde Pública já contabiliza mais de 100 mil testes. “Já na segunda semana de janeiro, notificamos à ministra da Saúde, Nísia Trindade, sobre o alto número de infecções”, declarou Celina.
O DF registrou 77 mortes por dengue em 2024, conforme informações do Painel de Monitoramento das Arboviroses, do Ministério da Saúde — salto de 45% em relação à quantidade de óbitos informada anteriormente, ainda nesta semana: 53. Há 60 óbitos em investigação e 102.757 casos prováveis. No ranking de incidência de casos do Brasil, o DF está na frente, com 3.647 notificações a cada 100 mil habitantes.
Todos os dias, as filas de tendas, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Unidades Básicas de Saúde (UBSs) estão lotadas, além de tudo existem relatos de falta de atendimento. A percepção é que os pacientes só procuram as unidades de saúde quando já não conseguem lidar com as dores e febre em casa. Jaqueline Santos, 37, por exemplo, não se arriscou a procurar ajuda em postos. “Estava muito fraca e não tinha condições de esperar em filas”, explicou.
A auxiliar de serviços gerais contou que os sintomas começaram há 15 dias. Talvez, por isso, seu teste tenha dado negativo. “Agora, só estou com coceira. Mas, dias atrás, minha pressão estava muito alta, fiquei sem apetite e senti muito sono. Foi um castigo, viu? Nunca mais quero sentir isso”, relatou. Além do exame, os atendimentos previam a prova do laço e a verificação dos sinais vitais.
Quem também fez o teste rápido foi a estudante Nikole Silva, 11, que faltou à escola na sexta por conta das dores e febre alta. O resultado deu positivo. Sua suspeita é que a contaminação tenha ocorrido nos arredores de sua casa. “Do lado de onde moro tem um lote abandonado, cheio de mato, e acredito que lá tenham focos do mosquito”. Questionada se havia se vacinado, ela respondeu que não. “Estava fora do DF quando (a vacinação) começou. Mas vou me vacinar, sem falta, quando estiver melhor”, destacou.
O caso de Nikole ilustra os dados do GDF: a procura pelo imunizante está abaixo do esperado. Foram aplicadas apenas 23.502 doses de vacina contra a dengue no público alvo, que são crianças de 10 e 11 anos, entre os dias 9 e 27 de fevereiro. A quantidade representa somente 32,7% de participação da população que pode receber a imunização. O governador, Ibaneis Rocha (MDB), afirmou, na sexta-feira (1/3), que estuda ampliar a faixa etária de vacinação contra a dengue para 12 anos para esta semana.
Participaram das ações 40 agentes comunitários de saúde, 83 agentes de vigilância ambiental em saúde e 180 bombeiros militares, além de médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem. Foram mobilizados 40 caminhões e 10 pás mecânicas. Além das ações voltadas ao combate da dengue, a Sala da Saúde ofereceu serviços de odontologia, vacinação e testagem de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). A programação incluiu ainda roda de conversa e assistência a mulheres vítimas de violência, em iniciativa do Núcleo de Prevenção e Assistência a Situações de Violência (Nupav) da SES-DF e da Casa da Mulher Brasileira.
Fonte: Correio Braziliense
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