A depressão pós-parto é um transtorno de humor que pode ser desencadeado por flutuações hormonais relacionados à gravidez. Ainda que pouco divulgada, a condição afeta uma em cada quatro brasileiras, segundo estudo publicado em 2016 no periódico Journal of Affective Disorders.
Estimativas conservadoras mostram que 11% das mulheres ficam deprimidas em algum momento do primeiro ano de maternidade; outros colocam o índice em 25%. Mais: menos de 15% das mães que apresentaram sintomas de depressão pós-parto receberam ajuda de fato.
A condição é frequente e acontece devido a diversas mudanças hormonais comuns no período de gravidez — entre as quais sabe-se que os níveis de progesterona e alopregnanolona mudam substancialmente, aumentando em até 30 vezes sua quantidade e retornando rapidamente aos níveis normais no momento do parto.
Entre tais hormônios, a alopregnanolona — também sintetizada por células cerebrais, incluindo neurônios que desencadeiam estresse — tem efeitos diretos sobre os chamados receptores GABA — o principal neurotransmissor inibidor no sistema nervoso central dos mamíferos, responsável pelo importante papel na regulação da excitabilidade neuronal ao longo de todo o sistema nervoso.
Quando os níveis de alopregnanolona caem drasticamente após o parto, as células nervosas que contêm GABA demoram um pouco para se ajustarem à tal diminuição. Por isso, acredita-se que esse atraso possa desencadear sintomas depressivos em algumas mulheres.
Recentemente, porém, a respeitada revista científica inglesa The Lancetanunciou os resultados sobre o estudo de um novo medicamento aprovado para tratar a depressão pós-parto chamado Brexanolona. Os pesquisadores descobriram que a ingestão do composto ao longo de 60 horas foi capaz de diminuir a atividade da alopregnanolona, permitindo que o cérebro se ajuste mais gradualmente a seu mecanismo de ação.
A fase I do estudo mostrou que sete, de 10 mulheres dez mulheres tratadas com a droga tiveram remissão completa dos sintomas, em comparação com 1 em cada 10 mulheres que receberam placebo.Também notaram que os benefícios da droga ainda eram evidentes 30 dias após o parto.
A fase II do estudo consistiu em um acompanhamento de quatro mulheres com depressão pós-parto grave tratada com Brexanolone. Os resultados foram surpreendentes: todos os casos atingiram remissão total dos sintomas depressivos.
Já a fase III e última do estudo está sendo conduzida, com 120 participantes portadores da doença. Os resultados devem sair ainda no primeiro semestre deste ano. Isso daria à ciência uma nova ferramenta para ajudar as mulheres com depressão grave após o parto. Além disso, iria introduzir uma nova classe de compostos (esteroides neuroativos) para pesquisa como possíveis tratamentos para outros distúrbios psiquiátricos.
O composto Brexanolona também está na fase III de estudos com pessoas epiléticas refratárias, ou seja, portadores de convulsões graves que não respondem aos tratamentos disponíveis no mercado.
Se o tratamento se mostrar eficaz em condições neurológicas severas, assim como casos de depressão grave, pode-se dizer que haverá uma nova era da medicina a um passo para a descoberta de procedimentos pelos quais a função cerebral poderia ser regulada em uma ampla gama de doenças neuropsiquiátricas.
Com Huffington Post
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