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Descoberta de ossadas em escavações na Liberdade

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Foram localizadas ao menos cinco ossadas humanas no sítio arqueológico próximo à Capela dos Aflitos, situada no bairro da Liberdade, no centro de São Paulo. A informação foi divulgada na quarta-feira (19/11) pelo Departamento de Patrimônio Histórico (DPH).

Imagens fornecidas ao Metrópoles pela Zanettini Arqueologia, empresa responsável pelas escavações, ilustram o trabalho dos pesquisadores e os achados. Confira:

A equipe também elaborou vídeos detalhando o processo de escavação no sítio arqueológico. Assista:

Os vestígios foram encontrados em duas áreas diferentes da capela: em uma profundidade de aproximadamente um metro, onde foram identificados cinco sepultamentos estruturados; e a menos de 50 centímetros, um conjunto de ossos desorganizados, localizado próximo à antiga sacristia e ao banheiro, conforme informado pela Prefeitura de São Paulo.

Ao identificar os achados, o Comitê Gestor de Restauro da Capela dos Aflitos convidou representantes de movimentos sociais, lideranças tradicionais indígenas e afrodescendentes, além de membros do Movimento dos Aflitos, para garantir a preservação e conduzir a pesquisa.

Esses vestígios confirmam que a área foi parte do Cemitério dos Aflitos, o primeiro cemitério público da capital paulista, ativo do final do século XVIII até o século XIX. Este local foi destinado ao sepultamento de pessoas marginalizadas pela sociedade, como condenados à morte, pobres, indígenas e pessoas escravizadas.

As execuções ocorriam no Campo da Forca, atualmente Praça da Liberdade, e aqueles cujos corpos não eram mutilados eram enterrados ao redor da capela.

Ossadas podem revelar história do povo negro na Liberdade

Pesquisadores analisam a quantidade exata de ossadas encontradas, que pode chegar a dez, e investigam se pertencem a pessoas negras, possivelmente escravizadas ou ex-escravizadas. Se confirmado, isso reforça a significativa presença afrodescendente no bairro, que hoje também possui elementos da cultura japonesa, principalmente no século XIX. Naquela época, negros escravizados sofriam punições e eram mortos e enterrados nas proximidades da Capela dos Aflitos, construída em 1779.

Conheça alguns locais que revelam detalhes da história afro-brasileira na Liberdade:

  • Capela dos Aflitos: edificada no meio do Cemitério dos Aflitos em 1779, localizada na Rua dos Aflitos, abriga o corpo de Francisco José das Chagas, conhecido como Chaguinhas – cabo negro do Primeiro Batalhão de Santos no período imperial português. Ele foi morto em 1821 após participar de uma insurreição que buscava o pagamento de salários atrasados e igualdade entre brasileiros e portugueses. Atualmente, a capela está em processo de restauração, previsto para ser concluído em 2026.
  • Praça da Forca: atual Praça da Liberdade, foi onde escravizados eram enforcados como punição por tentativas de fuga. O ponto mais alto possui uma placa azul que indica o selo de Memória Paulistana do DPH.
  • Praça 7 de Setembro: atrás da Catedral da Sé, tinha um pelourinho onde pessoas, especialmente escravizadas, eram punidas com açoites. No centro da praça havia a Casa de Câmara e Cadeia.
  • Cemitério dos Aflitos: abrangia a área das ruas Galvão Bueno, Estudantes, Rua da Glória, parte próxima à Radial Leste-Oeste e antiga Praça da Forca. Hoje, a região abriga prédios, comércio e avenidas, mas antigamente acolhia os corpos de pessoas enforcadas, escravizadas, libertas, indígenas, africanas e seus descendentes.

Restauração da Capela dos Aflitos

A Capela dos Aflitos, que sofreu um grave incêndio em 1990 e deixou de realizar missas, passa por restauração total. Conforme o Comitê Gestor do Restauro, o objetivo é conservar e valorizar este importante patrimônio religioso e cultural do Brasil.

O projeto contempla intervenções no solo do Sítio Arqueológico Cemitério dos Aflitos em pontos específicos da sacristia, adro, nave central, lateral esquerda e área do velário da capela, visando avaliar o estado de conservação das fundações da edificação.

A área da capela é reconhecida como parte do Sítio Arqueológico Cemitério dos Aflitos, local de grande significado histórico para a memória afro-brasileira e indígena.

O cacique Karaí Márcio da Terra Indígena Jaraguá, a Babalorixá Katy Ty Odé do Axé Ogodo, o Bokonon Fa Asinan Badessi do Hunkpame Gbadè Korodjé, Fábio Melo de Xangô do Axé Ilê Obá, e representantes do Movimento dos Aflitos, junto do pároco Padre José Enes de Jesus, visitaram o local para analisar os resultados das escavações.

O comitê e as lideranças decidiram retirar os restos humanos encontrados fora de sepulturas para envio a laboratórios de pesquisa arqueológica. Outros materiais foram mantidos in loco em respeito ao estado de conservação e aos sepultamentos originais.

Ficou acordado que os remanescentes humanos serão reexumados no Sítio Arqueológico Cemitério dos Aflitos de maneira inter-religiosa.

“O trabalho em andamento visa valorizar a história e a memória, reforçando o compromisso do Comitê Gestor com a preservação do patrimônio cultural, o respeito à dignidade humana e a preservação da memória e da verdade histórica que constituem a identidade do país”, declarou o comitê.

Bokonon Fa Asinan Badessi agradeceu ao comitê “pela seriedade, respeito e responsabilidade com que têm conduzido os trabalhos diante da descoberta de remanescentes humanos em um território tão sensível para a memória afro-brasileira e indígena”.

“A iniciativa do Comitê em envolver representantes de povos tradicionais demonstra compromisso com a verdade histórica, com a dignidade dos ancestrais ali sepultados e com a participação ativa das comunidades afetadas pelo processo de escravização e apagamento histórico”, ressaltou.

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