A deterioração do mercado de trabalho no Brasil em 2015 foi ainda mais aguda do que o que se imaginava. O total de postos de trabalho eliminados alcançou 3,8 milhões, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2015, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.
Essa foi a primeira vez que houve queda no total de empregados no país desde o início da série histórica da pesquisa, em 2004. A perda é muito mais acentuada do que a mostrada pela Pnad Contínua, que substituirá definitivamente o levantamento anual já a partir deste ano.
À época da divulgação, a Pnad Contínua estimava a população ocupada em 92,2 milhões ao fim de 2015, ou 630.000 vagas a menos em relação a um ano antes. “Estamos falando de 2015, um ano em que vimos que os indicadores econômicos não foram muito favoráveis. A população ocupada caiu em todas as grandes regiões”, disse Maria Lucia Vieira, gerente da Pnad no IBGE.
Na versão anual, dois setores foram os principais responsáveis pelo fechamento de vagas: a indústria, que explica a maior perda no número de ocupados no Sudeste, e a agricultura, que teve impacto especialmente no Nordeste. A agricultura perdeu 855.000 trabalhadores, enquanto a indústria dispensou mais de 1 milhão de funcionários. Metade dessa queda na indústria ocorreu no Sudeste. Das demissões na agricultura, 700.000 foram no Nordeste.
Na Região Sudeste, 1,4 milhão de pessoas perderam seus empregos. No Nordeste, outros 1,37 milhão de trabalhadores foram dispensados. Foram 1,8 milhão de empregos com carteira assinada a menos, sendo 730.000 só no Sudeste, segundo a gerente da Pnad.
A dispensa de empregados alimentou ainda mais a informalidade. A proporção de pessoas trabalhando por conta própria cresceu de 21,4% em 2014 para 23% em 2015. Como consequência do avanço das demissões, houve aumento de 38,1% na fila de desempregados no país, o equivalente a 2,8 milhões de pessoas a mais. O total de desempregados chegou a 10 milhões de pessoas de 15 anos ou mais de idade em 2015.
Jovens
A deterioração no mercado de trabalho mostra que, em 2015, o país tinha 2,7 milhões de crianças e adolescentes trabalhando, uma redução de 659.000 em relação ao ano anterior. Entre a faixa dos mais jovens houve aumento.
Segundo o IBGE, com a crise no emprego, faltou trabalho para todas as faixas etárias, mas a mais penalizada foi a de adolescentes de 16 e 17 anos, sobretudo em áreas urbanas.
“A população ocupada caiu como um todo, o desemprego aumentou como um todo, e atingiu também essa população”, disse Maria Lucia Vieira. “Trabalho está faltando para todo mundo. A taxa de desocupação entre os jovens ainda é maior do que para as outras faixas etárias. Eles estão tendo mais dificuldade para conseguir trabalho”, acrescentou.
O levantamento mostra que 318.000 adolescentes de 16 e 17 anos deixaram de trabalhar. Outros 200.000 empregos foram perdidos entre jovens de 14 ou 15 anos. Na faixa de 10 a 13 anos, havia 151.000 crianças a menos trabalhando. A única faixa de idade com aumento foi de 5 a 9 anos: 9.000 crianças a mais ocupadas.
Segundo Maria Lucia, essa faixa etária tem presença muito forte no trabalho familiar, não-remunerado, ajudando integrantes da família, como na agricultura. “Essa população mais jovem, de até 13 anos, trabalha muito para produção para o próprio consumo, sem remuneração”, explicou a pesquisadora.
Outro efeito da piora generalizada no emprego foi a redução na desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Não houve melhora na condição feminina, mas sim deterioração na condição masculina. A renda média mensal dos homens ocupados foi de 2.058 reais e a das mulheres, 1.567 reais das mulheres. O resultado significa que as mulheres receberam, em média, 76,1% do rendimento dos homens. No ano anterior, elas recebiam 74,5% do salário deles.
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